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HPV: pesquisador esclarece o que é e como se proteger do vírus do papiloma humano


02/10/2013

Fonte: Instituto de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira

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O vírus do papiloma humano (VPH ou HPV, do inglês Human Papiloma Virus) é um vírus sexualmente transmissível com mais de 100 tipos diferentes. Na maioria das vezes, não causa lesões ou sintomas, mas pode ser transmitido mesmo quando não há sinais visíveis. Por isso, sua disseminação é comum. O ginecologista com especialização  em patologia cervical e colposcopia do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Fábio Russomano explica como ocorre a transmissão do HPV e as formas de se proteger contra a doença.

O que é o HPV?

É um vírus que se adquire durante relações sexuais. Como é muito comum, a maioria das pessoas que tiveram relações sexuais - estima-se cerca de 80% - se contamina durante a vida. E isto costuma acontecer logo no início da vida sexual. Ele é encontrado mais frequentemente na região genital de homens e mulheres, mas existem mais de 100 tipos conhecidos e alguns podem ser encontrados na pele e outras regiões do corpo. Aqui vamos falar apenas das questões relacionadas à infecção genital e seu aspecto mais relevante, que é sua relação com o câncer do colo do útero.

O que o vírus pode causar?

Na maioria das pessoas não causa nada. Nossas defesas naturais costumam impedir que ele produza alguma doença, mas um pequeno percentual (cerca de 5%) vai ter alguma manifestação da infecção. Destas, a maioria terá uma manifestação transitória e benigna da infecção, que pode ser um preventivo levemente alterado ou verrugas genitais (ou condilomas acumindados). Cerca de 1% terá uma manifestação relevante, representada por uma lesão precursora do câncer do colo: as lesões de alto grau ou neoplasias intraepiteliais cervicais. Estas são as lesões mais importantes, pois, se não detectadas e tratadas, podem progredir até o câncer do colo do útero em alguns anos.

A infecção pelo HPV normalmente não causa sintomas. A manifestação visível, as verrugas, podem causar algum desconforto, mas as lesões internas, em vagina e colo do útero, são completamente assintomáticas. Por isso, as mulheres devem se submeter ao exame preventivo para rastreio das lesões precursoras, ou seja, as que antecedem o câncer do colo mesmo quando estão se sentindo bem.

Como é diagnosticado?

As verrugas são facilmente percebidas pelas pacientes e diagnosticadas por um médico durante o exame clínico. Já o diagnóstico da infecção pelo HPV quando não há verrugas não tem qualquer utilidade, já que não há tratamento. O foco do diagnóstico está nas lesões precursoras do câncer do colo, pois há tratamento para preveni-lo. Isso pode ser feito de forma muito simples através do preventivo e outros exames quando estes sugerem uma lesão desse tipo. O preventivo deve ser realizado a cada três anos, após dois resultados normais com intervalo de um ano, a partir dos 25 e até os 64 anos. Quando há uma suspeita no preventivo de uma lesão precursora, a mulher deve submeter-se a uma colposcopia. Esse exame é igual ao exame ginecológico comum, mas o médico irá examinar o colo do útero através de uma lente de aumento. Se ele encontrar uma lesão precursora, poderá realizar o tratamento na hora. Se tiver alguma dificuldade, poderá solicitar novos exames para esclarecer. 

Existe tratamento?

Não existe tratamento com comprovação científica de eficácia para a infecção pelo HPV quando não há lesão precursora ou verrugas. Nesta situação, fazemos o esclarecimento e recomendamos que a mulher mantenha seu exame preventivo em dia, como recomendado acima. Caso surja uma verruga ou seu preventivo apresente alguma suspeita de lesão precursora, o que não é o mais frequente, ela deverá seguir a orientação de seu médico.

O tratamento das verrugas é variado e deve ser escolhido conforme a vontade da mulher e experiência do médico. Estes podem ser a aplicação de uma substância ácida no próprio consultório, aplicação de medicamentos sob a forma de creme pela própria paciente ou até a retirada cirúrgica ou cauterização elétrica, em casos especiais, como múltiplas e extensas lesões.

Já as lesões precursoras podem ser tratadas destrutivamente (por várias formas) ou retiradas cirurgicamente. A maioria dessas lesões em mulheres jovens (até 40 anos) é retirada sob anestesia local durante a colposcopia. Em algumas situações, mais comuns em mulheres mais maduras, pode ser necessária uma cirurgia um pouco mais profunda, que deve ser feita em centro cirúrgico: a conização do colo do útero. Ambas são realizadas pela vagina e com baixo risco de complicações.

Como se prevenir?

A infecção pelo HPV é de difícil prevenção, pois depende do contato de pele doente com pela sadia e não depende da ejaculação. Assim, a camisinha deve ser usada durante toda a relação sexual. Ter um número reduzido de parceiros sexuais também pode contribuir para a redução do risco dessa infecção. Já a prevenção do câncer de colo deve ser feita pela realização regular do preventivo conforme descrito acima.

Mais recentemente estão disponíveis vacinas contra os tipos mais comuns de HPV que contaminam a região genital. São dois produtos: um com os dois tipos mais comumente relacionados ao câncer do colo do útero e outro com esses tipos e mais dois tipos, mais comumente relacionados às verrugas genitais.

Estima-se que mulheres que tomaram uma dessas vacinas antes de se contaminarem pelo HPV têm redução de até 70% na probabilidade de desenvolverem o câncer do colo do útero. Mas, como ainda permanece algum risco, mesmo mulheres vacinadas devem manter a prática do preventivo como recomendado acima.

Qual o panorama da doença no Brasil?

Como no resto do mundo, a infecção é muito frequente, mas inócua na maioria das pessoas. O que é preocupante é a inexistência de um rastreio organizado para a prevenção do câncer do colo do útero como existente nos países que reduziram muito a incidência dessa doença. Assim, o sucesso dessa ação depende da procura pelas mulheres. Essa é prejudicada por dificuldades de acesso ao preventivo, atrasos ou negligência com seu resultado, além de dificuldades para realização da colposcopia e tratamento das lesões precursoras. Isto tem atrasado a redução da incidência e da mortalidade por câncer de colo em nosso país.

Uma boa perspectiva é a incorporação da busca ativa de mulheres na faixa etária recomendada para realização do preventivo conforme a periodicidade mencionada por equipes de saúde da família.

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