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Estudo analisa tendências da mortalidade por câncer de mama no RJ


22/04/2015

Fonte: Informe Ensp

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O câncer de mama merece especial atenção entre as neoplasias, pois se destaca como a segunda localização mais frequente em mulheres em todo o mundo e a primeira em mulheres ocidentais. Segundo estimativas do projeto Globocan (OMS), o câncer de mama é responsável por 25% dos 14,1 milhões de novos casos de câncer no mundo. No Brasil, estima-se que 57.120 novos casos de câncer de mama foram diagnosticados em 2014. Com o objetivo de analisar as taxas de mortalidade por câncer de mama em mulheres com menos de 60 anos ou mais de 60 anos, nas diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro, as pesquisadoras do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Inês Echenique Mattos e Daniele Bittencourt Ferreira, desenvolveram o artigo Tendência da mortalidade por câncer de mama em mulheres no estado do Rio de Janeiro, Brasil, 1996-2011. O estudo aponta uma discreta redução nas taxas de mortalidade para câncer de mama e destaca que as taxas das idosas foram bem mais altas que as das mais jovens, nas diferentes localidades analisadas.

De acordo com as autoras, o Rio de Janeiro não dispõe de Registro de Câncer de Base Populacional. Entre as capitais brasileiras que dispõem desse Registro, Porto Alegre (2000-2004), Belo Horizonte (2000-2003) e São Paulo (2001-2005) apresentaram taxas de incidência de câncer de mama de maior magnitude observadas no Brasil. Alguns autores têm afirmado que a biologia do desenvolvimento do câncer de mama depende da idade, uma vez que sua incidência é mais elevada em mulheres na pós-menopausa e está relacionada ao processo de envelhecimento.

“O longo período de exposição a agentes carcinógenos, a diminuição da capacidade de reparação de danos no DNA celular, as alterações no epitélio mamário e o longo período de latência do câncer poderiam explicar a maior frequência desta neoplasia em mulheres com 50 anos ou mais de idade. Por outro lado, quando diagnosticado em mulheres mais jovens, o câncer de mama costuma apresentar aspectos biológicos mais agressivos”, explicaram as pesquisadoras.

Existem diferenças importantes na magnitude da mortalidade entre mulheres jovens e mais velhas. Alguns estudos indicam, por exemplo, que mulheres diagnosticadas após os 65 anos apresentam uma diminuição importante da sobrevida quando comparadas às mais jovens, de acordo com critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, em países desenvolvidos são considerados idosos os indivíduos com 65 anos ou mais, enquanto nos países em desenvolvimento, como o Brasil, idosos são os indivíduos com 60 anos ou mais.

Segundo Inês e Daniele, outros fatores também podem ocasionar diferenças na distribuição da mortalidade. “Estudos realizados no Brasil indicam diferenças nas taxas de mortalidade por câncer entre capitais e cidades do interior, até mesmo em comparações dentro do mesmo estado. Parte dessas diferenças pode estar associada ao acesso aos serviços de saúde para o diagnóstico precoce e assistência oncológica adequada, o que proporcionaria um melhor prognóstico”.

Para o desenvolvimento do artigo, realizou-se um estudo de série histórica com o objetivo de analisar a tendência de mortalidade por câncer de mama em mulheres do estado do Rio, no período de 1996 a 2011. Foram selecionados todos os óbitos registrados no Sistema de Informação Sobre Mortalidade que tiveram como causa básica o câncer de mama. Todas as análises foram efetuadas para mulheres menores de 60 anos e de idade igual ou superior a 60 anos, e para todo o estado, incluindo capital, região metropolitana e interior.

De acordo com elas, na análise da capital foram considerados somente os óbitos de residentes da cidade do Rio de Janeiro. Já na região metropolitana foram incluídos os óbitos de residentes em 17 municípios: Duque de Caxias, Itaguaí, Mangaratiba, Nilópolis, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Itaboraí, Magé, Maricá, Niterói, Paracambi, Petrópolis, São João de Meriti, Japeri, Queimados, Belford Roxo, Guapimirim. Os demais 74 municípios do estado foram considerados como interior.

Resultados apontam discrepâncias nas taxas de mortalidade segundo idade e região

Os resultados do artigo evidenciaram uma discreta redução nas taxas de mortalidade para câncer de mama entre a população feminina do estado do Rio de Janeiro, embora elas não tenham sido constantes ao longo do período de estudo. “As taxas de mortalidade para todas as idades indicaram que em todos os quadriênios analisados, as taxas da capital apresentaram maior magnitude. Em comparação com as taxas de mortalidade por câncer de mama das mulheres menores de 60 anos, as daquelas de 60 anos ou mais apresentaram magnitude relevante. Em todos os quadriênios analisados, as taxas das idosas foram bem mais altas que as das mais jovens, nas diferentes localidades analisadas”, apontaram.

Para as pesquisadoras, as diferenças de tendência observadas entre capital e interior possivelmente ocorrem de forma similar em outros estados brasileiros. Com a realização do estudo pode-se observar que mulheres com idade igual ou maior que 60 anos vêm apresentando redução da mortalidade na capital e no estado do Rio de Janeiro, diferentemente da tendência à estabilidade verificada na região metropolitana e no interior do estado.

“O declínio das taxas de mortalidade na capital e no estado, observado neste estudo, pode ser resultante do maior acesso das mulheres aos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento do câncer de mama. Além disso, o Pacto pela Vida ajudou no processo de disseminação de informação e educação da Saúde da Mulher, contemplando ações de detecção precoce de câncer de mama e de colo de útero”, justificaram Inês e Daniele.

Por fim as autoras afirmaram que apesar da tendência de redução da mortalidade observada no estudo, a magnitude das taxas ainda representa um elevado número de mortes por câncer de mama no estado do Rio de Janeiro. “Neste sentido é relevante investigar de forma mais aprofundada os determinantes da sobrevida do câncer de mama neste grupo populacional. As comorbidades constituem um dos fatores que poderiam estar contribuindo para a mortalidade elevada entre as idosas. As comorbidades e suas relações com a mortalidade em mulheres idosas com câncer de mama vêm sendo bastante analisadas em estudos internacionais, porém ainda constituem um tema pouco explorado em nosso país”, concluíram as pesquisadoras.

O artigo Tendência da mortalidade por câncer de mama em mulheres no estado do Rio de Janeiro, Brasil, 1996-2011 foi publicado no volume 20, número 3, da revista Ciência e Saúde Coletiva. Acesse aqui o artigo na íntegra.

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