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Uso de opiáceos para combater dores crônicas cresce 465%


12/06/2018

Por: Graça Portela (Icict//Fiocruz)*

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A convite do Instituto Igarapé, o pesquisador Francisco Inácio Bastos, do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), foi um dos debatedores durante o lançamento dos guias para ajudar pais e professores a abordar, com crianças e adolescentes, o tema "drogas". O pesquisador da Fiocruz falou sobre o artigo Rising trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, 2009-2015, publicado no American Journal of Public Health (AJPH) em abril de 2018, no qual é um dos autores. Nele, é abordado o crescente volume de vendas de opiáceos, a partir das prescrições médicas, no período de 2009 a 2015 no Brasil.

Utilizados em especial para combater dores crônicas e debilitantes de pacientes com câncer ou lúpus, os opiáceos (ou opióides), também são encontrados diluídos na formulação química de medicamentos como os analgésicos (medicamentos que aliviam a dor), anestésicos (aqueles que reduzem ou eliminam a sensibilidade geral ou local) e até em xaropes para controlar a tosse, podendo ser usados para tratar dores de coluna, enxaqueca, dores nas articulações, dentre outras. O uso constante pode levar à dependência e o abuso desse tipo de drogas, à morte.

Segundo os dados da Agência Nacional de Saúde (Anvisa), expostos no artigo, o número de prescrições médicas de opiáceos vendidos nas farmácias em 2009 foi de 1.601.043 e em 2015, passou a 9.045.945, em números absolutos, representando um salto de 465%. O artigo mostra também que os produtos à base de codeína, para dores moderadas, foram de 95%, pulando de 1.584.372 prescrições para 8.872.501 receitas médicas, para o mesmo período.

Em debate com Ilona Szabó, diretora executiva do Instituto Igarapé, e Luciana Phebo, coordenadora nacional da Plataforma dos Centros Urbanos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Francisco Inácio Bastos alertou (conforme publicado no site do Instituto Igarapé) para o esse aumento no uso de opiáceos: “E é apenas uma fração do problema, que o governo consegue capturar. Nos surpreendemos também com o crescimento no uso de opiáceos e opióides sem prescrição entre os jovens”.

A diretora executiva do Instituto Igarapé, comentando o artigo, disse que “nos Estados Unidos, há uma crise de medicamentos prescritos. É o maior índice de mortes por overdose. Aqui não estamos acompanhando essa epidemia. Precisamos exigir melhores dados e transparência para poder fazer prevenção focalizada”. Ela também falou que a pesquisa nacional sobre o uso de drogas, embora “premiada internacionalmente, ainda não foi divulgada ‘por questões ideológicas’. A polarização está impedindo a gente de pensar e resolver problemas com seriedade. Assim, continuaremos enxugando gelo e perdendo 29 adolescentes por dia para a violência”, completou Ilona.

Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador, que também é um dos coordenadores da Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack, afirma que é necessário acompanhar o uso dos opiáceos e opióides que são vendidos pela internet e sem prescrição médica. “Não acho que vá ser um problema a curto prazo, mas temos que ficar alertas em relação à prescrição, ela tem que ser criteriosa. Além disso, é preciso ficar atento em relação à comercialização ilegal na internet", destacou Bastos. O pesquisador também afirma que há falhas no sistema de saúde: “Há uma dificuldade em fazer o 'desmame' do medicamento em pessoas que passaram por uma hospitalização e receberam alta. A retirada mal conduzida do medicamento acaba gerando dependência", disse. 

Saiba mais no site do Icict

*Com informações do Instituto Igarapé

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