25/10/2020
A Fiocruz Ceará participou, nesta sexta-feira (23/10), da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2020. A roda de conversa com o tema "Agenda 2030 e o empoderamento social: qual o papel do ser humano no planeta?" foi coordenada pela pesquisadora Angela Ostritz e contou com a participação de moradores e lideranças ambientais da Lagoa da Precabura, localizada no município do Eusébio, onde está a sede da Fiocruz no Ceará.
A Lagoa da Precabura é uma das mais importantes da Região Metropolitana de Fortaleza. Desde a década de 80, moradores e ativistas lutam pela sua preservação, impedindo sua privatização e protegendo seus ecossistemas do avanço imobiliário e ocupações irregulares, em total descumprimento da legislação ambiental vigente. Os esgotos que surgiram, alteraram os padrões de qualidade de balneabilidade da água provocando à mortandade de peixes e crustáceos além da extinção de muitas espécies da macro e micro fauna aquática e terrestre, algumas endêmicas, ainda pouco conhecidas e estudadas.
Mesmo com a dificuldade de não existirem políticas públicas municipais e estaduais em defesa deste ecossistema, as comunidades do entorno, desde o século passado, não desistem da ideia da criação da U.C. da lagoa da Precabura. Junto à Associação dos Moradores e Amigos da Precabura (Amapre), a Fiocruz tem construído parcerias com Universidades e Órgãos Técnicos para criar uma Unidade de Conservação (UC) para a proteção da Lagoa e do seu entorno e como consequência, dar sustentabilidade ao Distrito de Inovação do Eusébio.
A criação da UC da Lagoa da Precabura, tem como objetivo manter sua integridade de patrimônio ambiental e cultural, e zelar por sua riqueza e diversidade da fauna e da flora; impedindo que seu ecossistema continue sendo agredido de forma intensa, por meio de aterramento e construções irregulares; além de conservar as atividades sustentáveis de pescadores artesanais, marisqueiras e outras comunidades tradicionais que habitam o entorno.
Utilizando esse contexto, a pesquisadora Angela Ostritz, fez uma apresentação inicial para mostrar as diferentes realidades do país e a importância de ter uma agenda com objetivos transversais. A Agenda 2030 foi criada pelas Nações Unidas em setembro de 2015, reunindo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas 169 metas para a construção e implementação de políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030 por um mundo melhor, mais justo e mais inclusivo. Essa agenda abrange temas fundamentais ao desenvolvimento humano em cinco perspectivas (pessoas, planeta, prosperidade, parceria e paz).
Um dos moradores mais antigos da região, o pescador Francisco Florentino da Silva, mais conhecido como "Seu Assis" de 83 anos falou sobre as dificuldades enfrentadas ao longo de décadas em virtude das mudanças climáticas e sugeriu um recenseamento da população como forma de melhorar a vida dos trabalhadores rurais. "É preciso recontar as pessoas, saber como elas vivem e quais as dificuldades que o pobre enfrenta para fazer alguma coisa definitiva por nós", disse.
Já o morador Thales Alves de Oliveira, defendeu melhoria na educação de base. Ele estudou em escola pública, vem de uma classe operária e sentiu dificuldades quando chegou na Universidade. "Eu sou exemplo vivo de que a educação pode transformar a vida das pessoas, mas percebi na faculdade, que apesar da universalização, é preciso melhorar muito a qualidade do ensino, especialmente na alfabetização, para que todos tenham as mesmas oportunidades", afirmou, Thales.
O técnico em meio ambiente, Paulo Ferreira, ativista ambiental e defensor da Lagoa da Precabura e seus ecossistemas, defende um empoderamento da Agenda 2030, por parte das gestões públicas, para que seus objetivos e ações se tornem efetivos. "Acredito na Agenda 2030 e nas suas propostas, mas as gestões municipais, estaduais e federais precisam usá-la como norte das suas iniciativas e eu não vejo isso acontecendo. Eu vejo as pessoas se empoderando e defendendo seus territórios como fazemos aqui", explica.
Durante a roda de conversa, foi colocada a importância de disseminar os Objetivos da Agenda 2030 entre os jovens estudantes do Município do Eusébio e os participantes também defenderam ações concretas que expliquem e incentivem a igualdade de gênero. Também foi colocada a necessidade imediata de iniciativas que preservem os oceanos e a vida marinha, combatendo a poluição, especialmente a que vem de atividades terrestres.
A Fiocruz debate uma agenda de mudanças na qual está elencado um conjunto de resultados voltados diretamente para a sociedade. No Ceará, existe uma forte cooperação entre a Fundação e as diversas comunidades que moram no entorno do campus e que vivem ainda com dificuldades de acesso a várias políticas públicas, além de sofrerem com situações graves como a seca.
A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2020 aconteceu, pela primeira vez, de forma 100% virtual, em virtude da pandemia da Covid-19. O tema nacional da SNCT deste ano foi “Inteligência Artificial: A Nova Fronteira da Ciência Brasileira”. A SNCT é produzida pela Fiocruz junto às Universidades Federais da Bahia, do Rio de Janeiro e Rural do Rio de Janeiro.