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Simpósio da ANM reúne Fiocruz e Academia francesa


25/11/2022

Ciro Oiticica (Agência Fiocruz de Notícias)

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A Fiocruz se fez presente no simpósio 150 anos de Oswaldo Cruz e 200 anos de Louis Pasteur, organizado na Academia Nacional de Medicina (ANM). A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, o vice-presidente de Pesquisa, Inovação e Produção em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger, e o acadêmico e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, representaram a Fundação no evento que reuniu as duas instituições e a Academia Nacional de Medicina francesa, a fim de reforçar sua proximidade histórica, por meio de dois de seus expoentes científicos, e de realizar uma troca de conhecimentos relevantes para refletir sobre a atualidade.

 

“É uma grande honra para a Fiocruz estar aqui nessa celebração conjunta”, disse a presidente Nísia, que destacou a relevância de associar os 200 anos de nascimento de Pasteur e os 150 de Oswaldo Cruz. “São duas trajetórias dedicadas à Ciência e à Saúde Pública”, explicou. “ Neste momento em que a Saúde Pública está em evidência, os legados desses cientistas se fazem necessários, pensando na importância das evidências científicas e das instituições, como é o caso das Academias de Medicina e da Fiocruz”. 

Presidente da Academia Nacional de Medicina francesa, Patrice Tran Ba Huy valorizou a convergência entre as três instituições. “É com um sentimento de comunidade e fraternidade que nos encontramos hoje nesta academia bicentenária. Oswaldo Cruz dá uma ressonância particular à comunidade científica francesa, por ter ido à França em 1896, onde foi discípulo de Émile Roux”. Huy reconheceu as contribuições da Fiocruz no tratamento de doenças como o paludismo e a doença de chagas, que fizeram dela uma referência internacional, e convidou para um novo encontro na França. “Esperamos vocês em Paris”.

Fiocruz participa do simpósio '150 anos de Oswaldo Cruz e 200 anos de Louis Pasteur' (foto: Divulgação)

 

Francisco Sampaio, presidente da Academia Nacional de Medicina brasileira, também exaltou as similaridades entre as duas academias. “Podemos considerar que a ANM foi fortemente inspirada na da França, criada em 1820, por Luís XVIII. A brasileira foi fundada nove anos depois, no dia 30 de junho de 1829, pelo Imperador Dom Pedro I, ainda sob o titulo de sociedade de medicina do Rio de Janeiro. Sua função era a de responder às questões do governo sobre o que interessasse à Saúde Pública”, contou. E elogiou a Fiocruz que, quando criada, compartilhou essa função. “A Fiocruz hoje é maior que muitos ministérios, algo impressionante”.

Fiocruz: história e desafios do presente 

Após a abertura, Nísia apresentou uma síntese de aspectos históricos e do presente da Fundação Oswaldo Cruz. Falou dos primórdios da instituição, desde sua criação como Instituto Sototerápico Nacional, em 1900, que se entrelaçam com a atuação do próprio Oswaldo Cruz. Foi destacada a atuação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em especial no enfrentamento de endemias rurais. “O IOC  foi desde os primeiros anos reconhecido por contribuições inovadoras à ciência internacional. A descoberta em 1909 da doença de chagas foi um grande feito da ciência nacional”, conta.

Nísia abordou a importância das expedições científicas naquele momento. “As regiões remotas, chamadas sertões brasileiros, eram marcadas pela pobreza, pela doença e pelo abandono por parte do poder público, conforme palavras dos próprios pesquisadores da época”. A experiência com as expedições e com os primeiros ano da Fiocruz teria sido fundamental para a estruturação de serviços e políticas publicas de saúde. “Por isso afirmamos a importância da ciência e da saúde publica nesse projeto de construção nacional”, pontuou, em referência aos 200 anos da Independência, que a Fiocruz abordou com o lema Ciência e Saúde para a Soberania e a Democracia.  

A apresentação de Nísia passou por momentos marcantes na história da Fiocruz, como a criação do Sistema Único de Saúde (foto: Divulgação)

 

A apresentação de Nísia passou ainda por momentos marcantes na história da Fiocruz, como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), e a capacitação da instituição para a produção de diversos produtos em saúde e para a diversificação de suas atividades. "Hoje, buscamos organizar e construir a Fiocruz como sistema, indo da pesquisa à educação. Essa capacidade de produzir conhecimentos originais e inovadores foi fundamental para o país dar resposta permanente a emergências sanitárias e outros problemas de saúde pública". 

Os desafios do presente, por fim, orientaram a conclusão da presidente. “Creio que a ciência vem sendo desafiada em todo o mundo, como foi no Brasil, para que os consensos estabelecidos com base em evidências possam pautar a definição de políticas públicas. Esse momento de grandes desafios nos interpela a pensar no desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia como um dos elementos a enfrentar mudanças climáticas e também desafios socioambientais que vão além das mudanças climáticas. Só olhando para esse contexto mais amplo podemos de fato cumprir a missão das nossas instituições”.

Resposta à pandemia e vida de Oswaldo Cruz

A apresentação do vice-presidente de Pesquisa, Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger, foi uma exposição das diferentes ações da Fiocruz no enfrentamento da pandemia de Covid-19 e de legados históricos na sua atuação. Momentos como o da produção de vacina de febre amarela e das respostas ao surto de meningite e à Aids teriam sido experiências importantes que culminaram para a resposta à pandemia dada pela instituição. “Uma das primeiras entregas da Fiocruz na pandemia foi em relação ao preparo dos laboratórios públicos para a preparação de testes moleculares”, conta. 

A questão da vigilância também ganhou papel de relevância. “ A vigilância trouxe características novas e a necessidade de adaptação a diferentes localidades. A vigilância digital permitiu acompanhar a quantidade de leitos ocupados e o acompanhamento sistemático permitiu detectar o impacto da variante gama o que, de maneira inédita, impactou todo o território nacional. Tivemos em fevereiro e março um momento muito dramático e pudemos mostrar sua associação com a nova variante de preocupação”, explica. 

A produção local de insumos em saúde foi estratégica, segundo o vice-presidente. “Ela é que permite uma resposta rápida às emergências sanitárias de saúde pública no mundo. Uma coisa que reforça essa importância é que mesmo que se tenha conseguido vacinar na maioria dos países europeus, tivemos o impacto de variantes ”. No caso da Fiocruz, a capacidade de produção local foi favorecida pela parceria com a farmacêutica AstraZeneca, com tecnologia desenvolvida na Universidade de Oxford. “Para nós na Fiocruz, esse enfrentamento traz desdobramentos importantes. Além da construção do Centro Hospitalar, permanente, incorporamos a plataforma de adenovírus e estamos desenvolvendo uma de RNA mensageiro, após a escolha da nossa instituição para ser um hub regional da OMS”. As tecnologias mencionadas são semelhantes às usadas por terapias avançadas, como em câncer e doenças raras, explica Krieger. “Essa convergência tecnológica nos dá a possibilidade de fornecer insumos diferenciados em condições para oferecer novas terapias que tendem a dominar o campo das vacinas”.

Detalhes da trajetória pessoal e científica de Oswaldo Cruz foram apresentadas pelo pesquisador do IOC/Fiocruz, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro. Ele é também acadêmico das duas academias nacionais de medicina. “É difícil falar de Oswaldo Cruz porque outros já o fizeram, pela riqueza de sua vida”. Ribeiro se disse impressionado com todo o reconhecimento do patrono da Fundação ao longo de sua vida. “Era um homem, acima de tudo, bom. Generoso, preocupado com os outros, sempre gentil”. 

Foram enumeradas as diferentes realizações de Cruz, como a própria criação do Instituto Sototerápico Nacional, a atuação como Diretor Geral de Saúde Pública, as contribuições para a medicina experimental brasileira, e os saneamentos das obras da ferrovia Madeira-Mamoré e da cidade do Rio de Janeiro. A respeito desta última, o pesquisador e acadêmico contou a controvérsia a respeito das melhores medidas para se conterem as diferentes doenças que assolavam a cidade. Por fim, foi feita a aposta pelo controle de vetor viral. “Não havia saída, era preciso tomar as medidas mais eficientes. O saneamento era incontornável, os navios nem podiam atracar na cidade”.

Além dos representantes da Fiocruz, acadêmicos brasileiros e francesas fizeram apresentações sobre as instituições e seus expoentes, além de abordarem temas de grande relevância para a atualidade. Da parte da ANM, Francisco Sampaio traçou um histórico da Academia que preside e seu entrecruzamento com as trajetórias de Oswaldo Cruz e Louis Pasteur, enquanto Walter Zin falou da implantação da pesquisa no Brasil, de como o ambiente de pesquisa migrou do lar dos cientistas para os laboratórios, refletindo uma maior institucionalização da ciência. Acadêmico da ANM francesa, Patrice Debré também usou uma imagem evolutiva para apresentar o percurso científico de Louis Pasteur, indo do cristal ao hospital, das primeiras pesquisas químicas, que teriam desdobrado os elementos das fórmulas, bidimensionais, para as formas, tridimensionais, às contribuições para a prevenção e tratamento de doenças. A resistência aos antibióticos foi o tema da apresentação de Vincent Jarlier, enquanto Christine Rouzioux fez uma análise comparativa das variantes do HIV e do Sars-CoV-2, e Yves Buisson listou as condições necessárias para que se contenha uma epidemia por meio da vacinação. Os três são da ANM francesa. 

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