10/02/2020
Fonte: Ensp/Fiocruz
A revista Cadernos de Saúde Pública (CSP) de fevereiro destaca os transtornos mentais, que representam hoje um dos principais desafios na agenda de saúde, constituindo um ônus importante para os serviços públicos. “No Brasil, principalmente, é urgente uma maior atenção para os primeiros anos de vida e da adolescência, cujos transtornos podem acarretar prejuízos na vida social e escolar, além de levar a um ciclo crônico de adversidades ao longo da vida.”
Segundo o CSP, estima-se que 30% dos adultos em todo o mundo atendam aos critérios de diagnóstico para qualquer transtorno mental, e cerca de 80% daqueles que sofrem com transtornos mentais vivem em países de baixa e média renda. “Um estudo sobre a carga global de doenças mostrou que, mundialmente, os transtornos mentais respondem por 32,4% dos anos de vida vividos com incapacidade.” No Brasil, acrescenta o estudo, estimativas recentes mostraram que os transtornos depressivos e ansiosos respondem, respectivamente, pela quinta e sexta causas de anos de vida vividos com incapacidade.
Outro dado alarmante: estudos conduzidos nas últimas décadas têm evidenciado que também entre crianças e adolescentes houve uma mudança nos padrões de adoecimento físico e psíquico, com um aumento considerável na prevalência de problemas emocionais e de conduta. “Um trabalho recente de base nacional e escolar mostrou que, no Brasil, 30% dos adolescentes apresentavam transtornos mentais comuns, caracterizados por sintomas de ansiedade, depressão e queixas somáticas inespecíficas.”
De acordo com CSP, um estudo de base populacional conduzido em São Paulo (São Paulo Megacity Mental Health Study) mostrou que a idade média de início de transtornos psiquiátricos é mais precoce para os transtornos de ansiedade (13 anos de idade) e transtornos do controle de impulsos (14 anos), quando comparados aos transtornos de abuso de substâncias (24 anos) e transtornos do humor (36 anos).
O preocupante, relatou o CSP, é que tais transtornos representam uma carga de doença importante e que resultam em prejuízo na vida escolar e nas relações familiares e sociais dessas crianças e adolescentes. Além disso, problemas de saúde mental são altamente persistentes, fazendo com que uma parcela importante desses adolescentes tenha algum prejuízo, em decorrência de tais transtornos, na vida adulta.
Com relação aos estudos envolvendo crianças e adolescentes, aponta o CSP, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) foi o primeiro de base escolar e nacional que investigou a prevalência de transtornos mentais comuns em adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos. “Os dados provenientes das diferentes edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) também têm fornecido evidências importantes sobre o consumo de álcool e drogas, além de ter incluído questões sobre sentimentos de solidão, sono e amigos próximos, como proxies da saúde mental de crianças e adolescentes.”
Sobre o tema, também foi publicado no CSP de fevereiro, o artigo Transtornos mentais em adolescentes, jovens e adultos do Consórcio de Coortes de Nascimento brasileiras RPS (Ribeirão Preto, Pelotas e São Luís), que avaliou a prevalência de transtornos mentais em adolescentes, jovens e adultos e sua relação com características sociodemográficas em cinco coortes de nascimento (RPS): Ribeirão Preto (São Paulo), Pelotas (Rio Grande do Sul) e São Luís (Maranhão), Brasil. Episódio depressivo, risco de suicídio, fobia social e transtorno de ansiedade generalizada foram avaliados usando-se o Mini International Neuropsychiatric Interview. As prevalências foram estratificadas por sexo e nível socioeconômico. Foram incluídos 12.350 participantes. Episódio depressivo maior atual foi mais prevalente em adolescentes de São Luís (15,8%) e nos adultos de Ribeirão Preto (12,9%). As maiores prevalências para risco de suicídio ocorreram nos adultos de Ribeirão Preto (13,7%), fobia social e ansiedade generalizada nos jovens de Pelotas. As menores prevalências de risco de suicídio ocorreram nos jovens de Pelotas (8,8%), fobia social nos jovens de Ribeirão Preto (1,8%) e ansiedade generalizada nos adolescentes de São Luís (3,5%). Em geral, os transtornos mentais foram mais prevalentes nas mulheres e naqueles com menor nível socioeconômico, independentemente do centro e idade, reforçando a necessidade de maior investimento em saúde mental no Brasil, sem desconsiderar determinantes de gênero e socioeconômicos.
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