18/07/2017
Por: Juana Portugal (INI/Fiocruz)*
O ImPrEP, Projeto para Implementação da Profilaxia Pré-exposição ao HIV no Brasil, no México e no Peru, foi lançado oficialmente em solenidade realizada na última quarta-feira (12/7), no campus da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos (RJ). Coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o projeto tem como objetivo contribuir para a implementação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) como estratégia de prevenção ao HIV nos três países, focando nos grupos populacionais mais expostos ao vírus: homens que fazem sexo com homens, mulheres transexuais e travestis. O Ministério da Saúde, através do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, apoiará o projeto fornecendo todos os insumos, testes e medicamentos.
Durante a solenidade de lançamento, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressaltou a necessidade de envolver a população na produção do saber. “Nossa missão é gerar conhecimento científico, mas é o nosso valor e direcionamento que esse conhecimento se traduza em bem-estar, produtos e políticas públicas que garantam o acesso”, afirmou Nísia, enfatizando a importância das práticas de educação, informação e comunicação e da construção coletiva do conhecimento. “Precisamos pensar em formas de fortalecer, junto à população vulnerável e aos profissionais de saúde, a visão da prevenção combinada a da promoção da saúde. Esse saber deve ser construído junto com a população, que deixa de ser objeto da pesquisa para ser o sujeito das investigações e da promoção da saúde”, concluiu.
Valdiléa Veloso, diretora do INI/Fiocruz e pesquisadora líder do projeto, enfatizou que a iniciativa é resultado de uma construção coletiva e deu destaque à colaboração da sociedade civil. “Para nós, a ciência não parte dos pesquisadores para a sociedade, ela é uma construção conjunta de conhecimento e é dentro dessa concepção que vamos conduzir o projeto”, explicou. “A parceria com o Ministério da Saúde tem sido uma grande satisfação. Contribuímos com dados para que a PrEP fosse adotada como estratégia de prevenção no Brasil e agora vamos acompanhar a sua implantação como política pública, monitorando e aperfeiçoando o processo enquanto acontece”, afirmou.
A diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, destacou que o projeto oferecerá evidências sobre as oportunidades e dificuldades da implementação da PrEP. “Estamos felizes com essa parceria. Teremos respostas que vão ajudar a realinhar as estratégias de implementação da PrEP”, destacando em seguida a importância da parceria do Ministério com a Fiocruz e a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec/Fiocruz).
Heather Ingold, da Unitaid, organização internacional, baseada em Genebra, lembrou que atualmente existem dois milhões de pessoas vivendo com HIV na América Latina e que aproximadamente cem mil novas infecções acontecem a cada ano. “Nossa parceria busca encontrar novas formas de reduzir o número de transmissões nos países participantes, assim como descobrir qual é a melhor forma de utilizar a PrEP. O projeto que lançamos contempla os objetivos estratégicos da Unitaid no que se refere a inovação, acesso e escalonamento no acesso a novos produtos de saúde”, enfatizou.
O representante da Organização Pan-americana da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, Giovanni Ravasi, afirmou que a prevenção do HIV é uma prioridade na América Latina e no mundo. “Nos últimos anos temos observado um progresso importante no acesso aos medicamentos, tratamentos e serviços de saúde para as pessoas que vivem com HIV mas, ao mesmo tempo, a região continua tendo um número bastante elevado de novas infecções”, afirmou. “A OMS e a Unaids (programa das Nações Unidas) têm como meta acabar com a epidemia de Aids. Investir e inovar nas estratégias de prevenção é extremamente importante. Um dos eixos do projeto é gerar evidência para modelos de prestação de serviços de prevenção combinada com forte participação comunitária. Certamente será uma experiência muito útil para a inovação nas políticas públicas dos países da região”, destacou.
O pesquisador da Clínica Especializada Condesa (México), Edgardo Ramírez, explicou que o Programa Nacional de Luta contra o HIV mexicano segue o modelo e acompanha os avanços obtidos pelo Brasil nas últimas décadas. “Estamos aprendendo muito com toda a experiência brasileira acumulada ao longo dos anos e estamos felizes por agora poder implementar uma estratégia que se mostrou eficaz para essas populações mais atingidas, principalmente em homens que fazem sexo com homens e nas mulheres transgêneros”, disse.
Já o diretor do Centro de Investigación Interdisciplinaria en Sexualidad, Sida y Sociedad/CIISSS (Universidad Peruana Cayetano Heredia/Peru), Carlos Cáceres, considera excelente a oportunidade de trabalho em conjunto em um estudo tão importante para os três países da região, tornando-o uma oportunidade importante na construção de um conhecimento único para toda a América Latina, podendo futuramente ajudar na sua efetivação em outros países em desenvolvimento. “Para nós do Peru, a oportunidade de implementar o ImPrEP significa praticar efetivamente e integralmente a prevenção combinada do HIV e isso representa um avanço enorme em nosso país, uma vez que ainda estamos muito na parte teórica desse processo”, concluiu.
O ImPrEP
Financiado pela Unitaid e apoiado pela Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec) da Fiocruz, o ImPrEP terá duração de três anos, deve beneficiar, no total, 7.500 pessoas e será realizado por um consórcio constituído por centros de pesquisa e Ministérios da Saúde dos três países participantes. Além de oferecer acesso à PreP, o projeto propiciará também a ampliação do diagnóstico das Hepatites B e C, Sífilis, HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.
O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) é responsável pela coordenação geral. No Brasil, o projeto beneficiará, inicialmente, três mil brasileiros em oito estados (Amazonas, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). “A nossa meta é ter, até o final do primeiro ano, um serviço em cada estado distribuindo a PrEP. Vamos acompanhar a implantação da estratégia como política pública de saúde enquanto acontece, monitorando e ajustando o que for preciso. É algo inédito”, afirmou a coordenadora do projeto, Valdiléa Veloso.
No México, a coordenação será do Centro de Prevenção e Atenção Integral do HIV/Aids da Clínica Especializada Condesa e contará com a participarão cinco cidades (Cidade do México, Guadalajara, Puerto Vallarta, Oaxaca e Juchitan). No Peru, o projeto está a cargo do Centro de Investigación Interdisciplinaria en Sexualidad, Sida y Sociedad/CIISSS (Universidad Peruana Cayetano Heredia/Peru) e estará presente em seis cidades (Lima/Callao - províncias que concentram 71% dos casos de Aids do país -, Iquitos, Pucallpa, Tarapoto, Chiclayo e Trujillo).
A PrEP
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma estratégia de prevenção que consiste no uso diário de um medicamento que funciona como uma “barreira química” contra o vírus HIV. A PrEP faz parte da estratégia combinada, ou seja, quem adota a PrEP não deve abrir mão do uso de preservativos. O Brasil foi pioneiro na América Latina ao adotar a PrEP como política de saúde em 29 de maio deste ano.
*Colaboração: Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)
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