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Projeto de combate à doença negligenciada recebe financiamento do Wellcome Trust


23/12/2014

Por: Danielle Monteiro (CCS/Fiocruz)

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O Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) obteve recentemente uma conquista para o trabalho que realiza em inovação no campo de doenças negligenciadas: o projeto Uso de inibidores de secreção como novos medicamentos antifúngicos, desenvolvido pela unidade em parceria com o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), foi aprovado para receber recursos do programa Pathfinder Award, da agência britânica de financiamento Wellcome Trust. O grupo é o primeiro do país a receber apoio do programa, que acaba de conceder o valor de 100 mil libras para a iniciativa.

O projeto tem como objetivo identificar novos medicamentos capazes de controlar a criptococose, uma micose provocada pelo Cryptococcus, fungo que causa pneumonia e meningite em pessoas com problemas imunológicos, como pacientes com Aids. Segundo o coordenador da iniciativa, Marcio Rodrigues, a criptococose é uma das micoses que mais afeta indivíduos com Aids no Brasil. “Os pacientes que adquirem essa meningite estão sujeitos a um risco de morte muito alto. Mais de 500 mil pessoas morrem por ano em função dessa doença no mundo, sendo que o maior número de óbitos é observado no continente africano”, destaca.

Rodrigues conta que o atual tratamento contra a doença é pouco eficiente e causa efeitos colaterais expressivos. Daí a necessidade de busca por métodos alternativos de combate à enfermidade. “Como se trata de uma doença negligenciada, nossa abordagem inicial é investigar se drogas já aprovadas para o tratamento de outras enfermidades têm atividade contra o Cryptococcus. Caso isso ocorra, etapas complexas e de alto custo do processo de desenvolvimento de novos medicamentos seriam evitadas”, conta Rodrigues.

A ideia é identificar fármacos capazes de impedir que o Cryptococcus produza substâncias que prejudiquem a saúde humana. O fungo produz grande quantidade de biomoléculas compostas de várias unidades de açúcares, chamadas de polissacarídeos. Esses carboidratos são transferidos para o tecido do hospedeiro e, consequentemente, provocam danos. Em 2007, a equipe liderada por Rodrigues descreveu pela primeira vez na literatura o mecanismo pelo qual essas biomoléculas são exportadas. “Demonstramos que o fungo produz estruturas chamadas de vesículas, que são encarregadas da exportação desses polissacarídeos. Com base na descrição desse mecanismo, procuramos por drogas capazes de controlar esse processo”, explica o pesquisador.

A equipe do CDTS já testou em laboratório centenas de fármacos de efeitos biológicos diversos e, até o momento, identificou cerca de 20 compostos que poderão ser usados em testes em modelo animal. “Se apresentarem o efeito inibidor sobre a exportação de polissacarídeos, teremos nas mãos compostos que já têm seu uso e efeitos sobre humanos bem conhecidos. A certeza de que a droga causa danos para o agente infeccioso, mas não para as células humanas, é essencial no tratamento de uma doença infecciosa”, ressalta Rodrigues.

Texto publicado na edição 17 do informativo do Centro de Relaçãoes Internacionais em Saúde da Fiocruz - Crisinforma. 

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