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Pesquisadores da Fiocruz abordam doença de Chagas na revista The Lancet


13/12/2023

Javier Saab (CUIDA Chagas, INI/Fiocruz)

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A revista científica The Lancet publicou (7/12) debate sobre a doença de Chagas, que destaca a persistência da doença como problema de saúde pública, 100 anos após a sua descoberta. A publicação foi elaborada pelos pesquisadores do projeto CUIDA Chagas (coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia, INI/Fiocruz) Andréa Silvestre, Debbie Vermeij e Alejandro Luquetti,  junto com Alberto Novaes, colaborador do INI/Fiocruz. Os autores ressaltam que apesar da possibilidade de cura e dos avanços no controle da transmissão vetorial, as transformações epidemiológicas e a importância crescente da transmissão oral e vertical fazem com que a doença de Chagas deva ser considerada uma doença emergente, com novos casos ocorrendo em todo o mundo. Veja a publicação completa (em inglês).

O percurso elaborado na publicação abrange temas-chave para a compreensão do cenário atual da doença de Chagas como problemática de saúde pública. São esses: o panorama socioepidemiológico da doença; o ciclo de vida do parasita; as formas de transmissão; estratégias de vigilância e prevenção; as manifestações clínicas durante as diferentes fases da doença; e as barreiras para o diagnóstico, tratamento e cuidado.

Em relação ao diagnóstico, o texto apresenta os fluxos e as técnicas adequadas para uma correta identificação da doença em função da fase (aguda ou crônica). A inclusão dos testes de diagnóstico rápido como ferramenta de triagem da doença crônica é considerada como uma melhora significativa no processo diagnóstico. Este tipo de teste tem a vantagem de prescindir de laboratório e oferecer uma resposta rápida, ainda que resultados positivos devam ser confirmados através de sorologia.

Por outro lado, um tratamento seguro, eficaz e eficiente é apontado ainda como um grande desafio. Ambos os medicamentos atualmente existentes são eficazes na redução da gravidade clínica da doença de Chagas, além de reduzirem a taxa de transmissão vertical quando o tratamento é direcionado para meninas e mulheres em idade fértil. A cura também é possível quando o tratamento ocorre em estágios precoces da doença. Porém, podem ocorrer reações adversas indesejadas, responsáveis por taxas relevantes de interrupção do tratamento.   

A publicação também aponta a necessidade de se adotar o conceito de cuidado integral para a doença de Chagas, o qual deve ser centrado na pessoa, visando atingir múltiplos objetivos: promover a compreensão do uso dos medicamentos antiparasitários; prevenir a progressão clínica e a transmissão vertical; manejar o tratamento sintomático de formas cardíacas e/ou digestivas da doença de Chagas; e prover apoio psicossocial às pessoas acometidas e seus familiares. Nesse sentido, o aconselhamento se constitui uma prática central desta abordagem, tornando possível a realização dos processos de diagnóstico e tratamento na atenção primária à saúde, estimulando o engajamento da comunidade em iniciativas de prevenção e controle da doença.

Por último, a publicação descreve as numerosas lacunas de conhecimento e de ferramentas para a doença de Chagas, entre as quais se destacam: a necessidade de biomarcadores para avaliar a resposta terapêutica; estudos da efetividade do tratamento sintomático; pesquisas para a melhora do tratamento antiparasitário; formulações para o uso em crianças e recém-nascidos; medicamentos seguros para o uso em mulheres grávidas; e vacinas como medida preventiva. Estas medidas, unidas à ampliação do acesso ao serviço de saúde pelas populações acometidas permitiriam um maior número de casos diagnosticados, maior acesso e aceitabilidade do tratamento e melhores políticas públicas para esta doença centenária que agora tem alcance global. 

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