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Pesquisa relaciona espaço social e obesidade


19/05/2014

Por Amanda de Sá/ Informe Ensp

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Com o objetivo de analisar as percepções, interpretações e práticas em torno da alimentação e do corpo obeso com base na valorização do contexto social, a aluna de doutorado em Saúde Pública da Ensp/Fiocruz, Vanessa Alves Ferreira, elaborou sua tese intitulada Desigualdades sociais, pobreza e obesidade feminina. A escolha do tema partiu de uma análise, cujo resultado reconhece que as intervenções atuais direcionadas à problemática da obesidade tendem a desvincular o fenômeno do contexto social no qual os indivíduos obesos vivem, subestimando ou negligenciando o papel do espaço social na conformação do perfil de corpo desses indivíduos. Para a pesquisa, foi realizado um estudo de caso exploratório sobre a experiência das famílias residentes em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha/MG.

A obesidade entre as mulheres pobres entrevistadas nesta pesquisa revela um fenômeno social complexo, que expressa as diversas situações de vulnerabilidade social vividas pelo grupo, bem como os múltiplos aspectos imbricados nesta dinâmica multifacetada, tais como alimentação, cultura, corpo, papéis sociais, gênero, educação, direitos sociais, trabalho e lazer. Fundamentalmente, o fenômeno traz à tona questões humanitárias e éticas que estão relacionadas à liberdade e à autonomia destas mulheres, à questão da cidadania, do respeito a cultura e as tradições locais e, ainda à temática da justiça social distributiva. De acordo com a aluna, o fenômeno da obesidade no contexto local não era uma questão da família, mas particularmente, uma problemática das mulheres.

“Foi possível perceber uma questão de gênero presente nessa dinâmica. Assim, todos os indivíduos obesos entrevistados na pesquisa foram mulheres. Não encontramos homens e/ou crianças com obesidade nessas famílias. Dessa forma, constatamos que o corpo obeso retratava e traduzia fielmente a vida das entrevistadas. As mulheres apresentam pouca escolaridade, estão desempregadas ou subempregadas, têm filhos e/ou netos pequenos, residem em casas precárias, sendo muitas sem saneamento. Essas mulheres vivem dilemas diários, inclusive aqueles relacionados à má alimentação”, explicou.

A obesidade, segundo ela, expõe uma outra face da pobreza e das desigualdades sociais na contemporaneidade. Essa característica nas mulheres entrevistadas no Vale do Jequitinhonha esteve intimamente associada à pobreza e à questão de gênero. Um fenômeno extremamente desafiador, conforme explicou a aluna, porque põe à tona o desencontro entre a realidade social e cultural das mulheres entrevistadas e as ações públicas de intervenção na obesidade no contexto local.

Saiba mais no Informe Ensp.

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