27/01/2023
Suely Amarante (IFF/Fiocruz)
A pesquisa Práticas racistas e efeitos subjetivos do racismo em mulheres negras – questões no campo da produção do cuidado em saúde, uma das contempladas pelo Programa de Incentivo à Pesquisa (PIP III) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), teve como objetivo analisar os efeitos subjetivos do racismo em mulheres negras e refletir sobre as experiências de produção de cuidado em saúde, especialmente do cuidado em saúde mental.
Por meio de uma pesquisa qualitativa, a pesquisadora do IFF/Fiocruz e autora do estudo, Paula Gaudenzi, revelou que analisou os efeitos subjetivos do racismo em mulheres negras a partir de quatro principais caminhos. Além da leitura de autobiografias de mulheres negras e de literatura sobre o tema do racismo em sua relação com o gênero, escutou mulheres negras que prestam assistência psicológica a outras mulheres negras e entrevistou dez mulheres negras sobre racismo e seus efeitos subjetivos e as experiências vivenciadas no cuidado à saúde mental.
“Analisamos as narrativas buscando um núcleo comum, que permitisse abordar a dimensão social do fenômeno. Os enunciados foram categorizados nas suas semelhanças e diferenciações e a análise foi finalizada a partir de um aprofundamento teórico e reflexivo”, explicou a pesquisadora.
Sobre os efeitos subjetivos do racismo, a pesquisadora aponta que o racismo cria um hiato difícil de superar entre o ego do sujeito negro e seu ideal, fazendo com que esse indivíduo vivencie seu corpo por meio da autorrejeição, ao invés de tomar o corpo como fonte de prazer. Trata-se de um processo de alienação e de despersonalização que corpos-subjetividades negros sofrem, com base no não reconhecimento de si e tendo em vista a branquidade como norma hegemônica de poder e de nomeação.
Ademais, sobre o cuidado em saúde de forma geral, “o racismo e a colonialidade são constituintes da arquitetura do trabalho em saúde, estabelecendo hierarquização das etapas fragmentadas e protocolizadas do chamado 'cuidado integral’ e das relações entre seus agentes, significando, por vezes, o afastamento da população vulnerabilizada”, concluiu Paula.
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