13/04/2015
Fonte: Informe Ensp
Analisar a prevalência de Síndrome de Burnout (SB), segundo os aspectos psicossociais, sócio-demográficos e laborais de trabalhadores de enfermagem intensivistas de dois hospitais federais da região metropolitana do Rio de Janeiro, um universitário e outro geral, foi o foco da pesquisa do aluno de doutorado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Jorge Luiz Lima da Silva, realizada com 130 profissionais da área, sob a orientação da pesquisadora Liliane Reis Teixeira. Segundo Silva, os aspectos psicossociais referem-se a elementos do ambiente organizacional que sofrem influências das características individuais ao serem vivenciados pelos trabalhadores. “Estão relacionados ao macro contexto histórico, social de cada pessoa. O estresse é elemento-chave referente aos aspectos psicossociais.”
O estudo foi realizado por meio da aplicação de questionário autopreenchido, contendo a versão resumida do Job Stress Scale (Escala de Estresse no Trabalho), para aferir o estresse; Maslach Burnout Inventory (Inventário Maslash de Burnout), para mensurar a síndrome de Burnout; e Self Reporting Questionnaire (Questionário de auto avaliação), para medir transtornos mentais comuns.
Foram produzidos quatro artigos sendo um de revisão. No primeiro artigo, identificou-se que o Burnout está relacionado a fatores organizacionais, pessoais, individuais e aos inerentes à profissão. As repercussões envolvem as esferas físicas, psíquicas, emocionais, organizacionais e familiares.
No segundo artigo, discorreu-se quanto às dimensões de estresse, onde 30,8% do grupo de profissionais encontravam-se em alta exigência; 24,6% em trabalho ativo; 20,8% em trabalho passivo, e 23,8% em baixa exigência. O apoio social revelou que 53,1% dos trabalhadores estavam abaixo da mediana, aqueles em trabalho ativo apresentavam-se acima deste valor. A prevalência de SB foi de 55,3%, sendo 72,5% estavam em alta exigência. A prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) foi de 27,7%. Os fatores referidos como estressores em Unidade de Terapia Intensiva foram carga horária; relacionamento interpessoal profissional; relacionamento com a chefia e déficit de pessoal.
No terceiro artigo, foi observado que 80,6% da prevalência de TMC estavam associados à SB. E no quarto artigo, refletiu-se que os aspectos políticos, institucionais e de qualidade de vida devem receber destaque, pois o estresse é algo que transcende o aspecto individual e possui grande impacto na qualidade do serviço, na instituição e na sociedade.
De acordo com Silva, a construção de uma rede nacional de negociação junto aos sindicatos, conselhos e governo federal; a implantação de gestão participativa, e levantamento de problemas e possíveis soluções são ações que partem do geral para que surtam efeito sobre cada trabalhador da UTI.
A reflexão, observa Silva, traz à tona o grande desafio de encarar o cuidado ao ser humano de forma a desconsiderá-lo como bem de capital, em países em desenvolvimento com sistema neoliberal. “A organização do trabalho em UTI favorece ao estresse de alta exigência e, como consequência, demonstra prevalências expressivas de transtornos mentais comuns e Síndrome de Burnout.”
Jorge Luiz Lima da Silva é graduado em Enfermagem e Licenciatura pela Universidade Federal Fluminense, com pós-graduação em Formação Pedagógica para área da Saúde (ENSP/Fiocruz) e Ativação de Processos de Mudança, na Formação Superior em Saúde (ENSP/Fiocruz). Possui mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) na área de saúde do trabalhador onde desenvolveu estudo epidemiológio. Atualmente, é professor da disciplina Saúde Coletiva e Metodologia Científica, em cursos de graduação e pós-graduação lato sensu e Residência na área de saúde coletiva.
Mais em outros sítios da Fiocruz