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Pacientes com câncer têm que sair de suas cidades para receber tratamento pelo SUS


04/02/2022

Ana Paula Blower (Agência Fiocruz de Notícias)

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Com uma extensão territorial de mais de 8 milhões de quilômetros, o Brasil enfrenta desigualdades no acesso aos serviços de saúde. De acordo com um estudo da Fiocruz, mais da metade dos brasileiros (entre 49% e 60%) que fazem tratamento contra um câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) precisam deixar o seu município de residência para receber assistência especializada. O trabalho, publicado em dezembro na revista científica The Lancet Regional Health Americas, comparou períodos de tempo diferentes e aponta que essa dificuldade no acesso ao tratamento permanece nos últimos dez anos. 

Coordenado pela pesquisadora Bruna Fonseca, do CDTS (Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde/Fiocruz), o estudo utilizou dados dos sistemas de informação do SUS para mapear as redes de deslocamento de pacientes e a acessibilidade geográfica ao tratamento do câncer em todo país. Para o trabalho, foram analisados 12.751.728 procedimentos de tratamento − cirúrgico, radioterápico e quimioterápico − ao longo de dois períodos: 2009-2010 e 2017-2018.

Após a análise dos dados, os pesquisadores apontaram que há disparidades regionais. Pacientes das regiões Norte e Centro-Oeste têm o acesso aos serviços oncológicos especializados mais dificultado: dependendo do tipo de tratamento, a maioria desses pacientes tiveram que percorrer uma média de 296 a 870 quilômetros para se tratar contra um câncer. Bruna ressalta que todos os pacientes residentes nos estados de Roraima e Amapá precisaram se deslocar para receber atendimento radioterápico e que a maioria percorreu mais de 2 mil quilômetros em média. Já pacientes residentes nas regiões Sul e Sudeste percorreram em média 90 a 134 quilômetros para receber tratamento.

A pesquisadora enfatiza que a necessidade de se deslocar pode trazer prejuízos ao tratamento do paciente. Muitas vezes, esses deslocamentos são inacessíveis financeiramente, podem retardar o início e prejudicar a aderência ao tratamento. “Tudo isso pode causar uma piora no prognóstico e na qualidade de vida do paciente, que pode não conseguir atingir a frequência ideal para realizar seu tratamento”, explica Bruna.  

A maior parte dos polos de atração para atendimento oncológico foram identificados nas regiões Sudeste e Nordeste, sendo Barretos (SP) o principal para todos os tipos de tratamento ao longo do tempo. Segundo o estudo, 95% dos pacientes que fazem cirurgia, radioterapia ou quimioterapia no município são de outras cidades. 

Nesse caso, Bruna ressalta que apesar de existir um sistema de regulação para organizar o tratamento de câncer no país, é importante questionar que outros aspectos podem estar envolvidos na percepção dos pacientes sobre os locais de tratamento, como a estrutura do lugar, anseios pessoais e o tipo de acolhimento oferecido. “Há a percepção popular do que é referência no tratamento de câncer, o que faz com que os pacientes se desloquem, independentemente das distâncias e do planejado nas políticas de saúde”.

Os pesquisadores enfatizam que a acessibilidade geográfica aos serviços no país evoluiu pouco, já que o percentual de pessoas que precisa se deslocar para se tratar quase não mudou na comparação dos dois períodos de tempo. “É preciso mapear esses vazios assistenciais para poder planejar a implementação de novos centros especializados”, diz Bruna.

Agora os pesquisadores pretendem buscar financiamento para desenvolver uma plataforma online capaz de disponibilizar os resultados do estudo de maneira visual e interativa. O objetivo é ampliar o acesso a essas informações, especialmente para gestores de saúde, para que possam planejar, avaliar e desenvolver políticas públicas mais efetivas.

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