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Iniciação científica: oportunidade para o jovem se descobrir pesquisador

Jovem sorrindo

21/10/2014

Por Clarisse Castro/Portal Fiocruz

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Rubem Alves, educador e escritor brasileiro, disse certa vez que no corpo de cada aluno se encontram, adormecidos, os sentidos. E, como no conto de fadas, é preciso despertá-los, para que a capacidade de sentir prazer e alegria se expandam. Quando o assunto é ciência, algumas iniciativas no Brasil estão alinhadas ao pensamento do mestre, e buscam cativar adolescentes e jovens brasileiros para a iniciação científica. Dessa forma aproveitam o momento da vida em que milhões de dúvidas fazem parte do cotidiano, e onde a criatividade pode ser direcionada para o universo da pesquisa. Neste campo, vale tanto ter perguntas quanto ter anseio de descobrir as respostas.

O cenário revela um investimento crescente por algumas políticas educacionais brasileiras. O Centro de Memória do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aponta que, somente em 2013, foram mais de 28 mil bolsas de pesquisa concedidas a adolescentes e jovens de todo o Brasil. Há dez anos este número foi de 18.483 bolsas e, há 20 anos, de 7.548. Na Fiocruz, uma prática de iniciação científica tem convidado adolescentes e jovens para atuarem em laboratórios de pesquisa de diversas unidades técnico-científicas da instituição. São distintas modalidades de participação para alunos de graduação em universidades públicas e privadas e um programa específico para estudantes do ensino médio, o Programa de Vocação Científica (Provoc).

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Vivian Mary Rumjanek, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que a combinação de pelo menos dois fatores  –  encantamento dos jovens e políticas públicas de incentivo – pode qualificar o alcance da iniciação científica no Brasil. “Quem quer trabalhar com ciência tem que ter persistência. E talento, mas com condições de trabalho que lhe permitam aflorar. Pessoas com perfis diferentes podem dar contribuições diferentes. Não precisamos ter apenas Einsteins para fazer ciência”.

Formas de ingresso na IC

O coordenador de Iniciação Científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), André Roque, explica que há três modalidades de ingresso na Fiocruz. O primeiro é através de estágio em qualquer área, que obedece à Lei do Estágio Curricular. Para organizar este ingresso, a Fundação tem convênio com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), que faz a mediação com as universidades e promove os processos seletivos. Neste caso, são as unidades da Fiocruz que financiam os alunos, e cada uma delas tem um número restrito de vagas. O aluno que ingressa através de estágio pode permanecer até dois anos na instituição, mas o contrato deve ser renovado a cada seis meses, a partir de avaliação de desempenho.

A segunda modalidade é por meio dos programas de iniciação científica que são fomentados pelas agências do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti). Neste caso, os editais são abertos anualmente pelo CNPq e a Fiocruz tem um número total de vagas para toda a instituição, sendo no máximo duas por cada unidade técnico-científica. Estas bolsas têm a duração de um ano, e, em alguns casos, são renovadas por mais um ano.

A terceira e última possibilidade para os estudantes de graduação é através dos editais individuais que são lançados por outras instituições de fomento, por exemplo os da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Neste caso, o pesquisador da Fiocruz já desenvolve o seu projeto prevendo a presença de um bolsista, que terá um papel específico naquela pesquisa.

Há, ainda, uma quarta possibilidade, direcionada aos estudantes do ensino médio: o Programa de Vocação Científica (Provoc), que faz seleções anualmente.

Para ingressar em alguma dessas modalidades o aluno precisa ficar atento às informações disponíveis. No caso de estágio curricular, o caminho é ficar de olho no site do CIEE, no link para os editais da Fiocruz. Para as demais formas, é fundamental ter contato com quem realiza os processos de mediação, geralmente as secretarias acadêmicas das escolas, e com quem já está no universo da pesquisa - os pesquisadores que inscrevem seus projetos em editais, ou mesmo os colegas de escola que participem de programas e que podem indicar a abertura de vagas. O aluno que tenha interesse em ser bolsista e que esteja na Universidade, em cursos que dialoguem com as iniciativas da Fiocruz, pode propor a confecção de um projeto junto ao pesquisador que coordene aquela área. Muitas vezes a necessidade de um novo bolsista aparece com uma pesquisa já iniciada, daí a importância das articulações.

Aprendizes: aprender fazendo

Bianca Silva, 21 anos, é aluna do 6º período do curso de Saúde Coletiva da UFRJ, e uma das dez bolsistas que compõem o quadro de iniciação científica do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz). Foi a universidade que comunicou a oferta da vaga no Laboratório de Comunicação e Saúde da Fiocruz, onde a aluna tomou conhecimento da existência do campo de Comunicação e Saúde, com o qual se identificou imediatamente. “Quando a professora Adriana Kelly [pesquisadora solicitante] disse que se tratava de uma análise de materiais educativos, gostei muito da ideia, porque iríamos estudar a mensagem que instituições como o Ministério da Saúde passam com esses materiais, os formatos que elas escolhem, as ilustrações, as cores etc. Entender porque os materiais voltados ao público masculino são azuis, enquanto os destinados às mulheres são rosas e com flores. A possibilidade de investigar isso tudo me estimulou muito”.

Bianca afirma que o ingresso no Pibic mudou o seu percurso acadêmico, influenciando inclusive no seu desempenho na graduação. “A primeira coisa que aprendi foi como fazer levantamento bibliográfico, como formular uma pergunta de busca, como construir descritores, ponto de corte, ano, escolha da base bibliográfica etc. Quando tenho que fazer um trabalho na graduação, já sei que vou precisar fazer tudo isso. Também me ajudou muito a antecipar um planejamento para o Trabalho de Conclusão de Curso, a escolher um tema, que vai ser em Comunicação e Saúde”. O lado prático da pesquisa também estimula a jovem cientista. “As coisas que via na graduação, só na teoria, consegui ver na prática, no estágio. Geralmente a gente não sabe o que fazer com aquela informação toda que recebe teoricamente, e no estágio aprendemos isso”.

Kelly Cristina quer seguir fazendo estudos de gênero na ciência

Agora Bianca quer seguir o percurso acadêmico, com especialização, mestrado e doutorado. Se ela quer ser uma pesquisadora no futuro? Na verdade, ela já se sente uma. O que ainda não acontece com Kelly Cristina, 22 anos, colega de curso e de laboratório de Bianca. A inserção na iniciação científica foi essencial para gerar uma mudança na sua organização como estudante. “Hoje consigo fazer uma busca bibliográfica de forma organizada, sistematizar referências, fazer citações. Melhorou também a minha escrita, e aprendi a fazer descrições. Hoje eu gosto de descrever tudo o que faço, seja para não esquecer, seja para usar em trabalhos futuros”. Além dos métodos novos, Kelly descobriu um forte interesse por um tema específico: os estudos de gênero, especialmente o masculino. “As conversas com a orientadora e o convívio com os colegas de pesquisa me ajudaram a perceber o quanto a questão do gênero me mobiliza. Quero seguir estudando isso”, afirma.

 

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