06/02/2019
Por: Everton Lima e Irene Kalil (IFF/Fiocruz)
Para comemorar os 10 anos do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), completados em 2018, e divulgar alguns dos principais resultados científicos publicados em importantes revistas nacionais e internacionais foi preparada uma mostra científica itinerante em algumas unidades da Fiocruz. No Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), essa mostra está disponível, desde 28/1 até 8/2, no hall de entrada do Instituto, onde uma pessoa da equipe do projeto ficará junto aos pôsteres nos horários de maior movimento respondendo dúvidas e entregando o boletim.
O ELSA-Brasil se destaca por ser a mais abrangente pesquisa já realizada na América Latina, com o propósito de investigar a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares e o diabetes, causas importantes de adoecimento, morte ou incapacidade de grande parte de adultos em idade produtiva. Ao longo desses 10 anos de existência, o estudo acompanha a saúde de 15 mil voluntários, com idade entre 35 e 74 anos, servidores públicos ativos ou aposentados, de seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. Além da Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), colaboram com o Elsa a Universidade de São Paulo (USP) e as universidades federais dos estados da Bahia (UFBA), Espírito Santo (UFES), Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Sul (UFRGS).
Como afirma a coordenadora do Centro de Investigação Elsa no Rio de Janeiro, Rosane Härter Griep, o estudo atende a todos os requisitos éticos necessários a uma pesquisa científica realizada com seres humanos. “Nesse sentido, destacam-se a participação voluntária, a privacidade dos participantes e a confidencialidade de informações obtidas através de exames e entrevistas nas quais são avaliados aspectos clínicos, além de condições de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho, gênero e especificidades da dieta da população brasileira”, destaca a pesquisadora da Fiocruz.
Rosane ressalta, ainda, um diferencial do estudo. Enquanto, até hoje, a maioria das informações sobre doenças crônicas da população adulta era oriunda de pesquisas feitas nos Estados Unidos e Europa, o Elsa possibilita a geração de resultados próprios da realidade brasileira. “Com isso, os dados colhidos aqui serão úteis também para toda a América Latina e demais países em desenvolvimento, com características similares as do Brasil, além de auxiliar na ampliação e qualificação dos pesquisadores brasileiros em doenças crônicas, fomentando oportunidades de formação e desenvolvimento científico nacional”, conclui.
Principais resultados e seus desfechos na saúde
O aumento expressivo dos índices das doenças crônicas não só afeta a qualidade de vida da população adulta do país, como também responde pelos maiores gastos com assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 16 milhões de brasileiros sofrem de diabetes e a taxa de incidência da doença cresceu 61,8% nos últimos dez anos. Segundo levantamento da Organização Pan Americana de Saúde (Opas), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Estima-se que 17,7 milhões de pessoas morreram por doenças cardiovasculares em 2015, representando 31% de todas as mortes em nível global.
A análise dos exames e entrevistas realizadas pelo Elsa resultou em conclusões importantes para compreender as condições de saúde da população adulta no país. No que se refere a alimentação, constatou-se que o consumo de 3 xícaras de café por dia e o consumo diário de leite e derivados trazem efeitos benéficos contra as doenças cardiovasculares. Em contrapartida, o consumo excessivo de álcool (cerca de sete doses por semana, consumidas fora das refeições) foi associado ao aumento da pressão arterial, glicemia de jejum, triglicerídeos e circunferência da cintura. A atividade física foi considerada um fator protetor contra distúrbios cardiometabólicos. O fato de residir em bairros mais acessíveis a caminhadas também se mostrou associado à prática de atividade física por mais tempo durante a semana.
O estudo concluiu, ainda, que o tabagismo promove inflamação sistêmica. Os níveis inflamatórios mais elevados estão relacionados ao hábito atual de fumar, ao tempo que se fuma (quantidade de maços/ano) e à intensidade de fumo (número de cigarros/dia). Uma boa notícia trazida pelo Elsa é que os participantes do projeto que pararam de fumar reduziram, no período de um ano, o marcador inflamatório (PCR) a um nível similar ao daqueles que nunca fumaram.
Com relação à saúde mental, o estudo constatou que pessoas com maior escolaridade apresentam chance mais elevada de usar medicamentos antidepressivos (5,8% das mulheres e 2,3% dos homens), além de apontar associações importantes entre condições de trabalho e saúde. Foi possível observar, por exemplo, que a falta de equilíbrio entre as demandas profissionais e familiares representa uma fonte de estresse para o trabalhador, podendo ter efeitos negativos sobre a saúde, e que determinados turnos de trabalho (em especial o turno noturno) são mais prejudiciais à saúde do que outros.
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