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Historiador reconstitui mapas da sangria terapêutica no Rio do século 19


24/06/2013

Fonte: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

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Quem andasse pelo centro do Rio na segunda metade do século 19 nem poderia imaginar que as barbearias praticamente desapareceriam do mapa. Nessa época, auge da concentração das barbearias no centro, a região chegou a ter pelo menos uma por rua. O dado é do doutorando de programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Rodrigo Aragão Dantas, que apresentou o trabalho no 6º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, em Florianópolis.

Ele mapeou a localização das barbearias - que, naquela época, tinham como uma de suas atividades principais a sangria terapêutica - por meio dos anúncios publicados pelos barbeiros sangradores no Almanak Laemmert, apontado por pesquisadores como o primeiro almanaque do Brasil. A maior parte do praticantes do ofício era de origem africana - alforriados e escravos - explica ele.

O pesquisador traçou nove mapas, cada um abrangendo um período de cinco anos entre 1844 e 1889, ano do fim do Império do Brasil. Nos últimos mapas, apesar da repressão oficial às práticas terapêuticas exercidas nesses lugares, o número de barbearias continuava a crescer. A hipótese do pesquisador para explicar a aparente contradição foi uma mudança no perfil das barbearias. Com a entrada de portugueses nesse ofício, esses estabelecimentos passaram a se identificar como lugares de estética, aproximando-se dos salões de cabeleireiros modernos.

No inventário de Antonio Rodrigues Alves, disponível no Arquivo Nacional, há um cartão em que ele anunciava a sua loja: "Ao Salão Elegante para barbear e cortar os cabelos de AR Fontes, Rua dos Ourives 77, Tem sempre um Completo sortimento de Perfumarias e Salla particular para tingir barbas e Cabellos". A tal rua não existe mais. Foi dividida e ficava onde hoje estão as ruas Rodrigo Silva e Miguel Couto.

Caso curioso

Em seu mergulho nos inventários do Arquivo Nacional, Dantas encontrou histórias inusitadas,  como esta, sobre a mulher de um barbeiro francês, que resolveu deixá-lo depois de descobrir que ele tinha um caso homossexual. "Pouco tempo decorrido, notou D Maria José da Silva indiferença e até abandono por parte do seu marido, chegando mais tarde ao conhecimento de que o motivo era ter renascido nele o torpe vicio afeminado de servir de mulher a indivíduos do seu sexo: retirando-se portanto, de sob o teto conjugal em 1884, indo morar sobre a proteção de sua madrinha, Marqueza de Paraná".

Leia mais no site da COC.

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