29/03/2019
Por: Everton Lima (IFF/Fiocruz)
No dia 18/3, foi realizada a 13ª sessão da Agenda Laranja com o tema Gênero e trabalho no contexto atual, no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Desde 2016, a iniciativa, coordenada pelos professores e pesquisadores Corina Mendes e Marcos Nascimento, promove atividades com o objetivo de dar visibilidade às questões que envolvam a prevenção e eliminação de violência contra mulheres e meninas, entendendo que para tal é necessário refletir sobre gênero, saúde, sexualidade e direitos humanos. “Temos feito isso em um movimento solidário, inclusivo, onde contamos com parceiros e parceiras de diferentes instituições e, assim, vamos formando uma trama bem potente”, contou Corina.
O encontro teve como conferencista a economista, pesquisadora e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Hildete Pereira de Melo que iniciou pontuando que as discussões sobre gênero acompanham as nossas vidas desde o final dos anos 1970, mas a questão não era legitimada dentro do espaço acadêmico. “Hoje, os jovens têm a possibilidade de estudarem esse tema, mas não era um assunto bem visto do ponto de vista científico, sobretudo no campo das ciências sociais e políticas. Então, as mulheres foram abrindo os espaços acadêmicos no pontapé e isso é preciso ser dito para entendermos toda a trajetória. Nós abrimos portas, resta consolidá-las”, afirmou ela.
Hildete explicou que a literatura do campo da economia mostra o homem em trabalhos considerados “fora de casa”, e a literatura feminista provoca a pensar como trabalho as atividades que as mulheres realizam “dentro de casa”. Já no século 20, as mulheres ingressaram mais fortemente no mercado de trabalho e tiveram que começar a lidar com a dupla jornada e a desigualdade corporativa. “Quando a mulher sai de dentro de casa e vai para o mercado, ela tem postos de menor qualificação e remuneração, e não é só no Brasil, é uma característica mundial e origem da rebelião feminina. Mesmo as mulheres enquanto pessoas humanas estando em ambos os espaços, é uma questão que as coloca em uma posição fragilizada perante o mercado de trabalho”, esclareceu ela.
A professora analisou que as mulheres que atuam como donas de casa e estão fora do mercado de trabalho formal, operam atividades esquecidas e invisíveis que permitem que a vida se realize. Como complicações para as mulheres que estão no mercado de trabalho, ela citou que não existe escola e nem creche em tempo integral para seus filhos, além do gênero não permitir a igualdade, no caso do cargo e remuneração, de acordo com a escolaridade. “Mesmo que as mulheres tenham uma escolaridade maior que a dos homens, não significa um maior posto de poder. Então, percebemos que a questão de ser homem ou mulher é carregar uma marca, é determinante”, lamentou ela.
A pesquisadora informou que, em sua grande maioria, as mulheres estão empregadas em atividades ligadas às práticas de cuidados, nas áreas de educação, saúde e serviço social, além do serviço doméstico. No trabalho, a construção civil é o contraponto para os homens do que representa os serviços domésticos para as mulheres, que na construção civil atuam nos escritórios, em atividades ligadas à Recursos Humanos e Administração. “Precisamos de uma política pública onde a escolha prevaleça, onde os homens possam escolher atuar no cuidado, assim como as mulheres possam escolher as carreiras tecnológicas. No caso delas, diante de tantas dificuldades, é necessário reforçar exemplos de mulheres empoderadas para que as outras possam se espelhar”, avaliou ela.
A debatedora convidada foi a coordenadora geral de Gestão de Pessoas (Cogepe/Fiocruz), Andrea da Luz Carvalho, que alegou que o pensamento econômico sempre naturalizou a questão de gênero e raça. “O capitalismo é branco, heterossexual e desigual”, criticou ela. Andrea contou que a Fiocruz vai lançar projetos com o objetivo de promover e incentivar meninas a se interessarem pelas questões de Ciência e Tecnologia. “Vemos como um grande desafio, mas é muito importante para construirmos um futuro diferente do passado que hoje estamos refletindo e queremos melhorar”. Antes de finalizar, ela indicou para aprofundar a temática o documento Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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