28/09/2022
Fiocruz Amazônia
A Colômbia será o primeiro país da América do Sul, depois do Brasil, a implantar a estratégia de controle vetorial do Aedes aegypti, por meio das Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDL). A tecnologia, desenvolvida pelo Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em Manaus (Amazonas), será apresentada pelos pesquisadores da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luiz Bessa Luz e José Joaquim Carvajal, durante o 2º Simpósio de Enfermedades Infecciosas del Caribe, que ocorrerá na cidade de Santa Marta, nesta quinta e sexta-feira (29 e 30/9), na Universidade Cooperativa da Colômbia. As estações disseminadoras utilizam a fêmea do mosquito como aliada na dispersão de larvicida, capaz de impedir a proliferação dos focos do transmissor da dengue, zika e chikungunya. Durante uma semana, cinquenta agentes de saúde e estudantes universitários colombianos serão treinados na estratégia de controle para que sejam multiplicadores na sua região.
As estações disseminadoras atraem as fêmeas do Aedes aegypti para que ponham ovos (foto: Fiocruz Amazônia)
A tecnologia de baixo custo utiliza basicamente água em um recipiente plástico de dois litros coberto com um tecido sintético impregnado com larvicida (piriproxifeno). Na Colômbia, o projeto é coordenado pela Universidade Cooperativa em parceria com a Fiocruz Amazônia, juntamente com a Secretaria de Saúde de Santa Marta. Inicialmente, serão instaladas mil estações disseminadoras em dois distritos (6 e 7) da capital do Departamento de Magdalena. Santa Marta é o terceiro centro urbano de importância do Caribe, depois de Barranquillla e Cartagena.
Sérgio Luz explica que as estações disseminadoras atraem as fêmeas do Aedes aegypti para que ponham ovos. “Quando pousam nas armadilhas, partículas do larvicida se impregnam no corpo e nas pernas do mosquito. Impregnadas com o larvicida, ao visitarem outros criadouros, as fêmeas terminam contaminado outros recipientes, e consequentemente impedindo o desenvolvimento das larvas e pupas”, explicou. A estratégia reduz a infestação do mosquito e a disseminação de vírus pelo Aedes em até 95%.
As EDL já foram testadas e aprovadas em 14 cidades brasileiras. Na Colômbia, Santa Marta será a segunda a receber. A primeira foi Letícia, na fronteira do Brasil, na Amazônia colombiana, com resultados comprovados na redução da infestação dos mosquitos.
De acordo com Sérgio Luz, o plano de capacitação para o controle do Aedes com as EDL tem como principal finalidade ajudar os programas de controle de vetores com novas alternativas, capacitando gestores e técnicos de saúde para combater doenças transmitidas por mosquitos. Sérgio será o primeiro palestrante da sessão 1 do 2º Simpósio de Enfermedades Infecciosas del Caribe, e falará sobre o tema Experiencia em Brasil para el control de Aedes spp, com estaciones disseminadoras de Piryproxifen.
José Joaquim Carvajal abordará, em sua palestra, o tema Implementacioón de la estratégia de estaciones disseminadoras de Piryproxifen para el control de Aedes spp em varias ciudades de Brasil. Carvajal lembra que, no Brasil, o Ministério da Saúde adotou as Estações Disseminadoras de Larvicida como estratégia alternativa de combate ao vetor da dengue, zika e chikungunya. “A finalidade é avaliar a eficácia e identificar e conhecer bem todos esses problemas ou 'intercorrências' da aplicação da estratégia na prática, na escala real dos programas de controle, em diferentes cenários de cidades, entendendo como melhorar os procedimentos operacionais com os meios e recursos disponíveis”, explica.
Joaquim destaca que uma carta-acordo firmada entre a Fiocruz Amazônia e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), no Brasil, com mediação do Ministério da Saúde, definiu as ferramentas de transferência tecnológica que serão utilizadas para a expansão da estratégia no país. Serão elaborados manual com orientações básicas para implementação das estações e um curso virtual (a ser disponibilizado na plataforma da Fiocruz) para agentes de saúde retirarem dúvidas e serem certificados. O treinamento virtual será oferecido nas modalidades síncrona e assíncrona, mostrando o passo a passo do processo de montagem das armadilhas, a implantação e manutenção das estações disseminadoras com o larvicida pyriproxyfen – de uso aprovado pelo Ministério da Saúde.
O 2º Simpósio de Enfermedades Infecciosas del Caribe reunirá especialistas de diversas áreas, entre as quais ferramentas genômicas para estudo de infecções, medicamentos para leishmaniose, histórico da infecção pelo vírus influenza, epidemiologia das hepatites virais, multirresistência do agente causador da tuberculose e infecções respiratórias. O evento conta com o apoio do Centro de Investigaciones em Salud para el Tropico, Facultad de Medicina, Centro de Investigacion Ciencia & Pedagogia e Global Campus.