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Fiocruz lamenta a morte do pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos


18/04/2023

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

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A Presidência da Fiocruz lamenta, com profundo pesar, o falecimento, no domingo (16/4), do médico imunologista Ricardo Ribeiro dos Santos, que era pesquisador titular emérito do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia). Ricardo Ribeiro dos Santos nasceu em São Paulo, em 1941, e ingressou na Fundação em 1988, como pesquisador do Departamento de Imunologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), com o objetivo de atuar na área de imunopatologia na doença de Chagas, sua grande especialidade.

O pesquisador também foi diretor do Hospital Evandro Chagas, atual Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), coordenador do Laboratório de Imunopatologia do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do IOC/Fiocruz e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), onde implantou e coordenou o Laboratório de Farmacologia Aplicada. Dez anos depois transferiu-se para a Fiocruz Bahia, onde criou o atual Laboratório de Engenharia Tecidual e Imunofarmacologia. Em Salvador, Santos deu continuidade às pesquisas em imunopatologia da doença de Chagas e implantou a triagem de fármacos com ação antiparasitária e imunomoduladora.

Ao longo de sua carreira, o pesquisador, que concluiu a Faculdade de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp), em 1969, buscou uma terapia para o tratamento de pacientes com a forma cardíaca da doença de Chagas, o que se tornou uma missão. Ele investigou as bases imunológicas que determinam o desenvolvimento da forma grave da doença, área na qual contribuiu com trabalhos de significância, em especial na demonstração do papel de respostas autoimunes contra antígenos do coração no desenvolvimento da cardiopatia chagásica crônica. Demonstrou, ainda, o papel da persistência parasitária para o desenvolvimento de formas graves da doença, reforçando a importância da descoberta de novas drogas anti-Trypanosoma cruzi, área à qual também se dedicou pela triagem de moléculas isoladas de produtos naturais. Por meio de estudos clínicos, triou biomarcadores com valor prognóstico da evolução da cardiopatia Chagásica crônica. E, visando alcançar tratamentos capazes de modular a miocardite chagásica e reduzir a fibrose cardíaca, seu grupo de pesquisa testou moléculas e hormônios celulares.

Santos teve a ideia inovadora de usar células-tronco para o tratamento de doença de Chagas e demonstrou os efeitos imunomodulatórios da terapia com células-tronco adultas em 2001, no modelo experimental de cardiopatia chagásica, quando ainda não havia a abordagem sobre imunomodulação mediada por células-tronco, ou efeitos parácrinos. A primeira publicação descrevendo efeitos imunomodulatórios de células-tronco mesenquimais saiu em 2003. Os dados foram publicados no American Journal of Pathology e o trabalho foi agraciado com o prêmio Zerbini, pela sua relevância nas pesquisas na área de cardiologia no país.

A partir do primeiro estudo clínico em pacientes com cirrose hepática, que foi patrocinado pelo Hospital São Rafael, foi estabelecida uma parceria técnico-científica entre a Fiocruz e o Hospital São Rafael que culminou com a inauguração do Centro de Biotecnologia e Terapia Celular em julho de 2009. O laboratório foi a realização de um sonho de Santos, pois criou condições para o desenvolvimento de terapias celulares avançadas, sendo um dos poucos laboratórios deste padrão no Brasil, unindo pesquisa básica, estudos pré-clínicos e pesquisa clínica. É um dos oito laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde para o desenvolvimento de terapias celulares de alta complexidade e o único nas regiões Norte Nordeste. O pesquisador também coordenou o Instituto do Milênio em Bioengenharia Tecidual, um consórcio de pesquisa que reuniu 17 instituições brasileiras e cuja principal tarefa era desenvolver no país uma nova área médica, a medicina regenerativa.

Santos foi o fundador da Associação Brasileira de Terapia Celular (ABTCEL), em 2004, instituição da qual foi o primeiro presidente. Em 2007, participou da histórica primeira audiência pública aberta do Supremo Tribunal Federal, representando a ABTCEL, referente à Lei de Biossegurança, que regulamentou a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas no país.

O pesquisador foi presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, organizou vários congressos e simpósios, orientou numerosas teses de doutorado e dissertações de mestrado. Ele recebeu a Ordem Nacional do Mérito Cientifico do Ministério da Ciência e Tecnologia, a comenda Carlos Chagas, concedida pelo governo de Minas Gerais, e era membro da Academia de Medicina da Bahia.

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