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Fiocruz lamenta falecimento da pesquisadora Ruth Nussenzweig


04/04/2018

Fonte: CCS/Fiocruz

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A Fiocruz lamenta profundamente o falecimento da pesquisadora Ruth Nussenzweig, na noite do último domingo (1º/4), aos 89 anos. Nascida em Viena, na Áustria, ela veio para o Brasil em 1939, aos 11 anos, junto com a família judia, fugindo da perseguição nazista. As pesquisas desenvolvidas por Ruth no campo da parasitologia e das doenças tropicais, com ênfase em malária, lhe trouxeram reconhecimento internacional.

Durante sua carreira, integrou diversos grupos de trabalho e missões e prestou consultoria à Organização Mundial de Saúde, em atividades voltadas para o controle e a erradicação de enfermidades tropicais, como doença de Chagas e malária. Neste século, Ruth, que era naturalizada brasileira e dizia gostar muito do país, colaborou com dois grupos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em estudos para uma vacina contra malária.

Ela entrou na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em 1948, onde conheceu Vitor Nussenzweig, com quem se casou. Sua formação científica se iniciou no Departamento de Parasitologia da USP, então chefiado por Samuel Pessoa. Ela trabalhou no problema da transmissão da doença de Chagas pela transfusão sanguínea e sua prevenção. Demonstrou que a doença pode ser adquirida por transfusão sanguínea e que a adição de violeta de genciana ao sangue infectado previne a transmissão. Em 1958, mudou-se para a França, para fazer seu pós-doutoramento em bioquímica no Collège de France. Em 1960 retornou ao Brasil e em seguida se mudou para os Estados Unidos, para trabalhar na Universidade de Nova York. Em 1964, decidiu voltar ao Brasil, então sob regime militar, mas como o clima político não era favorável à pesquisa, retornou a Nova York.

Em 1967, Ruth foi a primeira cientista a provar que é possível imunizar roedores contra a doença por meio da irradiação dos esporozoítos, um dos estágios de vida dos parasitas que causam a malária. Nos anos 1980, ela e Victor demonstraram que uma proteína que recobre o parasita poderia ser usada para promover uma resposta imunológica contra a doença e, assim, dar alguma proteção contra a infecção. Desde então, a proteína estudada pelo casal se tornou um componente fundamental de metade das vacinas que foram testadas em humanos contra o parasita.

Ruth tornou-se, em 1997, a primeira mulher a receber a Medalha Joseph Medin. No ano seguinte ela recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido pelo governo brasileiro, por sua sua contribuição à ciência. Durante a maior parte de sua carreira ela foi membro da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiente (ASTMH), publicou mais de 250 trabalhos e teve 24 artigos no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Em 2008, Ruth recebeu a Medalha de Ouro Albert B. Sabin, do Instituto Sabin, graças a contribuições na área de imunologia e no compromisso de salvar vidas por meio de descobertas médicas. Em 2013 foi a primeira cientista brasileira a ser eleita como membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos (NAS), em 150 anos de história da instituição.

Em 2014, ela e o marido ganharam o prêmio da Fundação Warren Alpert, dado em parceria com a Escola de Medicina de Harvard. A honraria foi fruto de descobertas pioneiras em química e parasitologia e do comprometimento pessoal em traduzir essas descobertas em um quimioterápico eficaz e abordagens para controlar a malária por meio de vacina. Ela foi agraciada com a Medalha Clara Southmayd Ludlow em fevereiro de 2018, por experimentos com roedores que marcaram o ponto de partida para a busca de uma vacina.

Nos anos 2000, Ruth estabeleceu duas colaborações com o IOC.  Uma em 2000, com o então Departamento de Imunologia do Instituto, e outra mais longa, em 2002, com o atual Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus, investigando o potencial uso da plataforma vacinal do vírus da febre amarela para a imunização contra malária – esse grupo de pesquisa estuda o uso potencial da plataforma para diversas doenças.

Ruth morreu de embolia pulmonar. Ela e Victor tiveram três filhos (Michel, André e Sonia), todos também pesquisadores. Com dificuldades de mobilidade por causa de uma queda que sofreu há alguns anos, Ruth não pôde realizar o desejo de voltar para o Brasil em definitivo.

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