27/05/2021
Javier Abi-Saab (Agência Fiocruz de Notícias)
Os últimos anos têm sido de frustração para a agenda internacional sobre as mudanças climáticas. A Conferência entre as partes (COP25) aconteceu em Madrid em 2019, mas de forma conturbada depois do cancelamento no Brasil e no Chile, deixando muitas pendências para o ano seguinte, quando, devido à pandemia, foi a primeira vez que a COP não pode acontecer. Dessa forma, existe uma agenda atrasada e uma alta expectativa para a COP26 que acontecerá em Glasgow, na Escócia, em novembro deste ano. Esta é a avaliação que fez o embaixador Rubens Ricupero durante o Seminário Avançado de Relações Internacionais e Diplomacia da Saúde organizado pelo Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz). O evento ocorreu nesta quinta-feira (26/5) e que teve como objetivo abordar de maneira geral o problema da mudança climática e localizá-lo no contexto da diplomacia da saúde.
Autoridade na temática da diplomacia das mudanças climáticas, Ricupero destacou que estamos no início do percurso até Glasgow e que neste caminho há muita coisa em jogo. Explicou que a Conferência das partes se destina a operacionalizar os compromissos feitos no Acordo de Paris de 2015, o qual conta com um preâmbulo onde se fixa um compromisso quantitativo para evitar que o aumento da temperatura da Terra ultrapasse os 2ºC. “Se sabe que esse aumento de 2ºC viria acompanhado de enormes catástrofes e por isso hoje se fala de evitar o aumento de 1 grau e meio. Mas essa parece uma meta muito difícil de cumprir, pois, desde que começou a era industrial, a terra esquentou já 1,2ºC”, afirmou o embaixador.
O acordo de Paris adotou contribuições voluntariamente determinadas, o que significa que cada país se compromete livremente sobre qual vai ser sua política na redução de gases de efeito estufa. Para Ricupero, o problema é que a soma dos resultados dos objetivos de todos os países fica muito aquém da meta de evitar o aumento de 1,5ºC. “O Programa das Nações Unidas para o meio ambiente chegou à conclusão que, se todos os países cumprem tudo o que estão prometendo, o que não está acontecendo, as projeções apontam para um aumento da temperatura em 3ºC”, explicou. Nesse sentido, daqui até Glasgow devemos avançar em três grandes questões: a melhoria substancial do nível de ambição dos compromissos; a criação de um fundo de 100 bilhões para os países mais vulneráveis; e a melhoria nos sistema de certificados comercializáveis de emissão de carbono. “Essas três questões estão pendentes e provavelmente até Glasgow devemos ver uma melhoria”, declarou o embaixador.
O Seminário Avançado contou também com a participação de John Balbus, líder da área internacional do Instituto de Ciências em Saúde Ambiental do Instituto Nacional de Saúde, que apresentou as principais pesquisas, conquistas e desafios do Instituto e relatou como está sendo a preparação estadunidense para Glasgow. Por último, Daniel Buss, coordenador regional da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) sobre mudanças climáticas, destacou a situação nas Américas e as principais estratégias adotadas da Organização para incluir de maneira sistemática a interseção entre saúde e mudanças climáticas na agenda dos países da região. “Houve avanços significativos nos últimos anos, o tema tem tido uma receptividade maior nos ministérios, mas o setor saúde ainda é débil na incorporação dos temas de mudança climáticas dentro das suas próprias listas de prioridades”, destacou Buss, para quem uma abordagem preventiva sobre os problemas de saúde pode salvar milhões de vidas e impactar significativamente na qualidade de vida da região.
O webinário foi mediado por Guto Galvão, pesquisador sênior do Cris e representante da Presidência da Fiocruz em Washington, diante de órgãos como a Organização Mundial de Saúde.