19/12/2018
Cristiane Boar e Kath Lousada | VPPCB
Para apresentar à comunidade Fiocruz o balanço do Programa Inova Fiocruz, uma das iniciativas mais importantes da fundação no âmbito da política de inovação, a Presidência realizou no dia 14 de dezembro, no auditório do Museu da Vida, um grande evento para celebrar as conquistas do programa de fomento à inovação.
O Inova é um programa que articula um conjunto de ações para estimular a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação em saúde em todas as áreas de atuação do Sistema Fiocruz de Ciência, Tecnologia & Inovação. Com os editais Ideias Inovadoras, Produtos Inovadores, Geração de Conhecimento e Novos Talentos, o Programa Inova recebeu 736 submissões, aprovando 248, o que representa 34% das propostas. Foram 30 áreas de pesquisa e 492 avaliadores. O valor total em fomento é de R$35 milhões. O Programa também revelou que 54% dos projetos submetidos são coordenados por mulheres.
De acordo com a presidente, “os quatro editais de fomento representam uma conquista, porque este é um momento de dificuldades no país e nós tivemos uma ação proativa, no sentido de não só preservar programas, mas avançar.”
Nísia apresentou conquistas alcançadas em 2017 e 2018, e destacou a aprovação da política institucional de inovação, ressaltando que “nós fizemos uma apropriação da política direcionada claramente pela finalidade da ciência chegar à sociedade, particularmente o nosso compromisso com o Sistema Único de Saúde.” Também foram destacados o fortalecimento da rede da vigilância epidemiológica, e a importância da aquisição de equipamentos para a plataforma tecnológica da Fiocruz.
Nísia observou que ainda há muito a ser feito, e que futuras discussões e trabalhos sobre o cenário que o Inova revelou serão realizadas. Entretanto, pontuou já ter sido possível mapear linhas de pesquisa e competências complementares dentro do sistema Fiocruz.
“Também identificamos gargalos importantes. A maior demanda é por bolsas para pesquisadores e, em geral, para recém doutores. Isto nos permite pensar em um diagnóstico para novos editais.” Nísia anunciou que ao concluir o edital Geração de Conhecimento, em janeiro de 2019, será lançado um edital para recém doutor júnior. “Este é um grande gargalo no país. Nós não vamos resolver a questão por completo, mas precisamos pleitear que as agências de financiamento façam a incorporação de todos os doutores formados.” De acordo com a presidente, o Brasil tem poucos doutores e está aquém da capacidade de pesquisa e das suas necessidades para o sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Esta é uma reflexão que foi feita pela Presidência a partir no Inova”, afirmou Nísia.
Mesa de apresentação
Junto à presidente, Nísia Trindade Lima, participaram da mesa de apresentação dos trabalhos o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, o vice-Presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Correa, o vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Mario Moreira, o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência, Rivaldo Venâncio, o diretor da Fiotec, Hayner Felipe, e o assessor da presidência que coordenará o acompanhamento dos projetos aprovados nos editais do Inova, Milton Osório.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, direcionou sua fala inicial ao pesquisador emérito da Fiocruz, Akira Homma: “O senhor receber uma homenagem no dia em que estamos celebrando os esforços da Fiocruz para que a sua cadeia de inovação aumente a eficiência de transferência de conhecimento gerado para a sociedade é emblemático.” Em seguida, Krieger afirmou que “nós tivemos a habilidade de olhar para trás e ver vários exemplos que internamente tivemos na Fiocruz, e hoje temos a possibilidade financiar esta atividade que nos é tão cara, de toda cadeia de inovação da Fiocruz”.
O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Correa, agradeceu a dedicação das equipes envolvidas desde a elaboração dos editais à fase de avaliação, que segundo ele, demandou um grande esforço e empenho para garantir a qualidade do processo de trabalho diante do volume de submissões com alta qualidade. Rodrigo também destacou a ação bem articulada entre toda a presidência para otimizar o investimento e evitar compras duplicadas de equipamentos para os institutos. “Analisamos toda a plataforma tecnológica da Fiocruz, o que faltava e como estavam operando para atender e apoiar os projetos aprovados na Inova.”
O vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Mário Moreira, reconheceu o esforço de todos os envolvidos e lembrou a importância do recurso orçamentário. “Concentramos atenção para garantir esse recurso que sustenta a atividade de ciência e tecnologia da Fiocruz. Foi um amplo trabalho de articulação com as unidades e chegamos a cerca de trezentos equipamentos que estão em processo de compra e fizemos investimentos para que nossas atividades de pesquisa não fossem interrompidas. Nossa expectativa é chegar a 2019 sem dívidas do exercício anterior, que nos dá mais conforto para realizar nossas atividades”, ressaltou Mário.
O coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratório de Referência, Rivaldo Venâncio, afirmou que o Programa Inova marcará uma etapa importante na história da Fiocruz, sobretudo neste momento em que o país atravessa severas restrições econômica e financeira. Rivaldo mencionou o fortalecimento da rede de vigilância, e disse que a coordenação está “trabalhando em um conceito amplo de vigilância em saúde, incluindo a vigilância epidemiológica, sanitária ambiental e a saúde do trabalhador. A coordenação tem trabalhado, conforme a orientação da presidência, em atividades que olhem a vigilância como um todo, e em todos os seus aspectos.“
O diretor executivo da Fiotec, Hayne Felipe, também destacou a importância de iniciativas inovadoras neste momento de dificuldades. “A nossa perspectiva é de contribuição para o desenvolvimento científico e tecnológico, envolvendo uma gestão compartilhada de projetos com a Fiocruz.”
O assessor da presidência Milton Osório Moraes irá coordenar pelos próximos dois anos o acompanhamento dos projetos contemplados, mas destaca também a importância de não esquecer projetos que não foram selecionados nos editais. “Foi um trabalho de muito fôlego para entender a dinâmica do sistema de ciência, tecnologia e inovação. Saímos fortalecidos, pois tivemos uma ampla visão da Fiocruz. Nosso grande desafio é pensar em entregas que sejam diferentes das entregas convencionais e tentar articulações e estratégias que sejam discutidas internamente com as diretorias de unidade, para não perdermos propostas de trabalhos que foram recomendados, mas não escolhidos pelo Inova”, explicou Milton.
Edital contempla diferentes áreas de pesquisa
Nilson do Rosário Costa, cientista político do Departamento de Estudos Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e do Centro de Estudos Estratégicos da Presidência, teve seu projeto recomendado no edital Geração de Conhecimento e ressalta a dinâmica do Inova. “Essa iniciativa é importante, pois traz projetos que geram resultados que eventualmente possam ter efeitos sobre a estratégia da Fiocruz em médio e longo prazo e isso estimulou minha proposta na análise de políticas públicas e organizações.”
O pesquisador do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná) Christian Macagnan Probs foi selecionado no edital Ideias Inovadoras com o projeto de sequenciamento de larga escala para diagnóstico de patógenos de interesse ao SUS. Christian destaca que a formulação de sua ideia foi estimulada pelo Inova. “Esse projeto é novo e com essa oportunidade do edital resolvi começar do zero. A aplicação dos recursos e a forma de liberação é mais eficiente e logo no início a ideia já pode entrar em funcionamento”, elogia o médico, que já tem expertise em genética. A área de atuação de Christian é trabalhar com variabilidade genética humana em doenças infecciosas, que agora com o financiamento do Inova, poderá focar como o indivíduo humano reage a isso de acordo com sua constituição genética.
Foi por meio do edital Novos Talentos que o pesquisador e farmacêutico de Farmanguinhos, Thiago Frances Guimarães, ganhou seu primeiro financiamento. Thiago apresentou o projeto para o desenvolvimento e avaliação sensorial de complexo de fármacos antimaláricos com resinas de troca iônica para uso em medicamentos pediátricos. Para o pesquisador, a iniciativa do Inova desperta o interesse dos profissionais da Fiocruz. “É uma forma de valorizar o trabalho de quem está dentro da Fiocruz desenvolvendo diferentes frentes de pesquisa”.
A psicóloga Maria das Graças Rojas Soto, da Fiocruz Mato Grosso do Sul, foi contemplada no edital Produtos Inovadores. Há seis anos na Fiocruz, Maria apresentou a proposta do Jogo Triplo X A para trabalhar com crianças informações sobre dengue, zika, chikungunya e febre amarela de forma lúdica. “Esse jogo a partir de 7 anos traz detalhes que estimulam o interesse com tabuleiros, dardos e dominó. Se queremos levar ciência para jovens, é essencial despertar a curiosidade cada vez mais cedo”, explica a pesquisadora que com o financiamento do Inova poderá produzir jogos que cheguem às escolas para projetos de ciências com alunos.
Akira Homma recebe homenagem pelos 50 anos dedicados à Fiocruz
O auditório do Museu da Vida também foi palco de homenagem durante o balanço do evento Inova. O tributo ao pesquisador emérito da Fiocruz Akira Homma reconheceu 50 anos de trabalho dedicados à Saúde pública na Instituição.
Doutor em ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Akira tem uma trajetória notável na saúde pública nacional e internacional, foi presidente da Fiocruz e diretor de Bio-Manguinhos.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima Nísia, destacou a importância do trabalho desenvolvido por Akira. “É um dos gestores da Fundação com mais sensibilidade, pela importância política. Essa homenagem é um reconhecimento de sua trajetória e o quanto ele significa para o futuro da nossa Instituição”, ressaltou a presidente.
Akira Homma afirmou que a homenagem recebida se estende a todos que trabalham e ajudam a construir a Fiocruz. Para ele, isso se tornou possível em função da ousadia do patrono Oswaldo Cruz. “Esse homem teve a coragem de construir o Castelo Mourisco. Ninguém mais trouxe essa ousadia. Nós temos este ícone. Oswaldo Cruz permanece vivo na Fiocruz. E isso leva a gente a trabalhar e trazer os resultados que o país precisa”, afirmou.
*Fotos: Peter Ilicciev | CCS