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Evento '54 x favela' apresenta resultados de projetos apoiados pela Fiocruz


01/07/2022

Camile Duque Estrada (Agência Fiocruz de Notícias)

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A importância dos projetos sociais dentro das comunidades para criar novas possibilidades, sonhos e oportunidades foi lembrada nesta sexta-feira (1º/7) pela artista Mc Zuleide durante a abertura do evento 54 x favela: parcerias em defesa da vida. O evento fez um balanço dos resultados de 41 dos 54 projetos apoiados pela Instituição, que já foram contemplados na Chamada Pública para apoio a Ações Emergenciais de Enfrentamento à Covid-19 em Favelas do Rio de Janeiro. Lançada ano passado por meio de recursos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a convocação tem como objetivo reduzir os efeitos da pandemia e ampliar a participação social na vigilância em saúde nos territórios de periferia.


Até o momento, os projetos em atividade tiveram investimentos somados de R$ 5,5 milhões, beneficiando favelas nas cidades de Angra dos Reis, Duque de Caxias, Queimados, Niterói, Petrópolis, Rio de Janeiro e São Gonçalo. Acima, a cerimônia na Tenda da Ciência da Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev)

 

A cerimônia, que ocorreu na parte da manhã na Tenda da Ciência, no campus de Manguinhos, contou com as boas-vindas do Coral da Liga do Bem, da Vila Cruzeiro. Participaram da abertura Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, André Ceciliano, presidente da Alerj, Janete Nazareth, coordenadora do projeto Mercado Solidário: Quilos Necessários, do Salgueiro, em São Gonçalo, Carlos Frederico Leão Rocha, vice-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Claudia Gonçalves, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marcelo Burgos, representante da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Isabela Santos, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), além de Richarlls Martins, coordenador-executivo do Plano Fiocruz de  Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas, que apresentou os dados do primeiro ano de atuação dos projetos. 

Os resultados enfatizaram o impacto dos projetos na redução da vulnerabilidade das famílias atendidas. Cerca de um ano após o início das atividades, pelo menos 100 mil pessoas de 75 favelas do Estado do Rio de Janeiro foram diretamente beneficiadas, seja na distribuição de mais de 180 toneladas de alimentos; seja nos 400 acompanhamentos psicoterapêuticos; nas mais de 22 mil refeições distribuídas para famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza; ou ainda nas 450 crianças inseridas no programa de reforço escolar. Na ocasião, foram propostas reflexões sobre o combate a problemas estruturais no contexto da pandemia e foi formalizada a criação do comitê de monitoramento das atividades e ações em desenvolvimento.

“A Fiocruz levou conhecimento científico a todos os setores sociais durante a pandemia, mas ao mesmo tempo fortaleceu ações em rede. Os projetos apresentados possibilitaram reduzir o impacto da Covid19 numa situação de grande vulnerabilidade social. Não é possível pensar em desigualdade sem reconhecer que estamos em lugares diferentes, temos direitos e acesso de forma desigual, mas que temos que construir democraticamente e ter governantes comprometidos em defesa da vida, e como sociedade estar organizados para uma agenda que não se esgota com esse projeto, mas que o torna uma potência. A saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação são meios de conseguir superar, com a força da sociedade esse impacto nas favelas e periferias”, ressaltou a presidente da Fiocruz.


A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, com as crianças do coral da Liga do Bem, da Vila Cruzeiro (Foto: Peter Ilicciev)
 
 

O Plano de Ação para Enfrentamento da Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro foi elaborado com recursos provenientes da Lei Nº 8.972/20, do Fundo Especial da Alerj à Fiocruz. Ao todo a doação soma R$ 20 milhões de reais. O presidente da Alerj parabenizou a abrangência e o impacto dos projetos mesmo com poucos recursos. “É uma honra estar aqui, poder contribuir com uma parceria tão proveitosa, em favor de gente, de quem precisa, através da política. Este é um momento de unidade e só avançamos com parcerias”, afirmou Ceciliano, que esteve no evento acompanhado dos deputados Renata Souza e Flavio Serafini.

Em sua fala, Janete Nazareth lembrou que a chamada pública foi fundamental para amenizar os impactos nas comunidades, reafirmou o poder de trabalhar em rede e deixou como questionamento os próximos passos, frente aos números apresentados. “O que vamos fazer coletivamente para que de fato possamos curar essa ferida? O povo preto da favela está doente, muito além da comida na mesa. Quais são os desdobramentos de todos esses números? Muitas vezes não podemos mensurar tudo que a gente vive, para de fato provocar a transformação da situação que vivemos hoje”, salientou. 

Na sequência, uma tribuna livre, mediada por Valcler Rangel, assessor de Relações institucionais da Fiocruz e coordenador-geral do Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas, e Claudia Gonçalves, representante da Uerj, deu voz aos projetos apoiados. Os coordenadores tiveram a oportunidade de compartilhar experiências, mostrar a importância, representatividade e potência das favelas e expressar a necessidade de recursos para amenizar os impactos da Covid19 nas favelas e garantir o direito e dignidade nos territórios. “Queremos oportunidade de mostrar o que podemos oferecer para a sociedade. Nós, favelados, temos projetos, propostas e alternativas de investir em projetos já tocados de forma autônoma nas favelas, para um novo momento de prosperidade e desenvolvimento”, citou Nerê da Penha.

“Essa parceria envolvendo Fiocruz, universidades, Alerj e organizações das periferias e favelas possibilitou um enfrentamento de forma integral das consequências da Covid-19 para essa população, seja no campo da segurança alimentar, da educação, da saúde mental, das fake news, na informação adequada e no fortalecimento da atenção à saúde nessas populações. O SUS foi fortalecido e os resultados aparecem, com mais de 100 mil pessoas beneficiadas e suas famílias. Isso demonstra a capacidade e potência existente nessas comunidades e quais os resultados que podemos obter quando juntamos poder público e sociedade civil no enfrentamento de problemas sanitários e humanitários como foi a pandemia da Covid-19”, destacou Valcler Rangel.

Na parte da tarde, a agenda foi dedicada à vivência prática na Arena Samol, localizada no Morro da Providência. Os coordenadores foram divididos em fóruns temáticos de acordo com os perfis de atuação de cada projeto. Ao todo, seis eixos centrais nortearam os debates: proteção social; comunicação; territórios saudáveis e sustentáveis; saúde mental, educação; trabalho/renda, com objetivo final de formular duas propostas dentro das temáticas abordadas, totalizando 12 ações que serão encampadas e executadas pelo Plano de Enfrentamento à Covid 19 nas Favelas.

Os números do enfrentamento à Covid-19 nas favelas

Até o momento, os projetos em atividade tiveram investimentos somados de R$ 5,5 milhões, beneficiando favelas nas cidades de Angra dos Reis, Duque de Caxias, Queimados, Niterói, Petrópolis, Rio de Janeiro e São Gonçalo. As ações de apoio nos territórios foram destinadas às áreas mais afetadas durante a pandemia: segurança alimentar, saúde mental, comunicação popular em saúde, evasão escolar e formação para o campo de trabalho. 

De acordo com os dados levantados, no campo da segurança alimentar, 80% dos projetos atuam no enfrentamento à fome e ao direito à alimentação, com 181 toneladas de alimentos distribuídos para famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza; sete cozinhas comunitárias sustentadas com 22 mil refeições distribuídas; sete hortas comunitárias apoiadas e 30% dos projetos atuando com parcerias agroecológicas, agricultura familiar e alimentação orgânica. 

Cerca de 40% dos projetos apresentados tem atuação na área de saúde mental, com acompanhamento psicoterapêutico para 400 pessoas; psicoterapia para ativistas e lideranças comunitárias; e pesquisa sobre saúde mental realizada com 600 moradores de favelas conduzida pela Agência de Notícias das Favelas (ANF). Na área de comunicação popular, 45% dos projetos atuam com produção de conteúdo sobre prevenção, vacinação, uso de máscaras e 75% deles com medidas de prevenção à Covid-19 com distribuição de kits de higiene, máscaras e álcool em gel. 

Um total de 450 crianças, adolescentes e jovens das favelas foram inseridos em ações de educação integral em saúde, reforço escolar e enfrentamento à evasão escolar. E 435 pessoas foram capacitadas em cursos e formações, com foco na geração de renda e mercado de trabalho, em sua maioria, mulheres e jovens. 

Aproximadamente 20% dos projetos apoiaram famílias com distribuição de gás de cozinha; 15% apresentam arte, cultura, esportes e literatura como eixo central; e 10% deles com assistência integral a mulheres no período de gestação. Além disso, identificam-se mulheres, em sua maioria, como beneficiárias dos programas, chegando a 97% do público em alguns casos.

Destacam-se entre os projetos o Movimento de Mulheres do Salgueiro, em São Gonçalo, com a primeira moeda social implementada do Complexo do Salgueiro; a constituição da inédita Rede de favelas da Tijuca; a criação do aplicativo Favela Viva, primeiro do Brasil voltado para agendamento de atendimento jurídico, social e psicológico para moradores de favelas; e as ações do SOS Providência, com o recém-lançado, Censo Providência 2022, que fará recenseamento da população do território. 

“Esses relevantes resultados, ainda parciais, evidenciam que a capacidade de resposta pública para recuperação social e econômica dos efeitos agravados da pandemia junto aos grupos populacionais historicamente vulnerabilizados deve estar ancorada em princípios de solidariedade, com ampliação da participação social e afirmação de práticas colaborativas que aglutinem parcerias institucionais e a sociedade civil”, acredita Richarlls.  “Reafirma-se a lição aprendida que investir em ciência, tecnologias socais e inovações em saúde com parcerias e incidência da sociedade são elementos estruturantes para reduzir as desigualdades no atual contexto e ampliar o direito humano à saúde”, completa.

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