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Estudo propõe melhorias para serviço de ambulâncias aquáticas


23/12/2020

CEE Fiocruz

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O Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz, em parceria com o Grupo de Ergonomia e Novas Tecnologias (Gente) da Coppe-UFRJ, definiu um novo layout para as ambulâncias aquáticas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu 192), que atendem às regiões mais recônditas do território brasileiro. O projeto para essas embarcações conhecidas como ambulanchas é um dos produtos da pesquisa Estudo descritivo da atuação das equipes de Saúde no Serviço de Embarcações do Samu-192, regiões fluviais, ribeirinhas e marítimas, coordenada pelo pesquisador Alessandro Jatobá, do CEE.


O serviço oferecido pelas ambulanchas enfrenta grandes desafios e é, na maioria das vezes, a única forma de atendimento de emergência possível para os habitantes de regiões afastadas dos centros urbanos

O estudo teve como objetivo avaliar e subsidiar a regulamentação do serviço dessas embarcações, responsáveis por viabilizar o acesso de comunidades ribeirinhas e costeiras à Rede de Atenção às Urgências. Ao longo de sua realização foram visitadas cinco das seis coordenações regionais do Samu 192, onde o serviço está implementado e habilitado pelo Ministério da Saúde: Baía de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, Salvador e Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e Manaus e Alto Solimões, no Amazonas, totalizando nove municípios. Aspectos como tipo de motor para essas embarcações, especificidades das macas, do espaço interno e da equipe, de modo a acomodar corretamente profissionais e pacientes, segurança no trajeto, roupas, calçados e EPIs, entre outros, foram analisados.

Nas visitas de campo, entre os meses de outubro de 2019 e fevereiro de 2020, os pesquisadores fizeram 101 entrevistas semiestruturadas com secretários municipais de Saúde, gestores do Samu 192, profissionais das Centrais de Regulação e das equipes de embarcação, bem como profissionais e gestores de outros níveis de Atenção à Saúde, que têm interface direta com esse tipo de embarcação. Dessa maneira, foi possível conhecer em detalhes o funcionamento dos processos de atendimento das ambulanchas, assim como as principais dificuldades e desafios enfrentados pelas equipes que as utilizam.

Etapas

O estudo foi dividido em duas etapas. A primeira etapa envolveu o diagnóstico do serviço em diferentes coordenações regionais do Samu192, abrangendo a quase totalidade dos municípios que possuem o serviço habilitado em território brasileiro. Nessa etapa foi caracterizada a operação do serviço em cada regional, incluindo: descrição da composição da equipe, principais processos conduzidos e obstáculos à execução do trabalho; produção de mapas regionais de atuação, abrangendo a delimitação da área de atendimento, tempos médios de resposta a comunidades, bem como a localização das bases e pontos de embarque e desembarque; e caracterização e desenho técnico das embarcações atualmente utilizadas.

A segunda etapa abordou a formulação de propostas para incorporação das ambulanchas à Política Nacional de Atenção às Urgências. Foram formuladas diretrizes para a implementação e manutenção do serviço, divididas pelos seguintes temas: composição e capacitação das equipes de embarcação e de regulação, uniformes e EPIs das equipes, base aquaviária, meios de comunicação, protocolos de atendimento, biossegurança, e especificações de projeto para a embarcação, incluindo desenhos técnicos com orientações para o arranjo físico e a padronização do espaço.

O serviço oferecido pelas ambulanchas enfrenta grandes desafios e é, na maioria das vezes, a única forma de atendimento de emergência possível para os habitantes de regiões afastadas dos grandes centros urbanos. “Em comparação com a modalidade de atendimento terrestre oferecida pelo Samu 192, as particularidades do ambiente fluvial ou marítimo de atuação do serviço de ambulanchas aumenta a complexidade para provimento de um serviço efetivo e seguro”, explica Jatobá. Entre os desafios encontrados, estão a baixa cobertura de sinal de telefonia e rádio, as condições adversas de navegação, as dificuldades de atracação e embarque de vítimas, um percurso muitas vezes longo e ermo, e, até mesmo, o risco representado pela presença de piratas fluviais em algumas localidades na região amazônica.

Covid-19

A chegada da pandemia de Covid-19 nas comunidades ribeirinhas e costeiras trouxe ainda novos desafios à operação dos serviços de ambulanchas. “Entre eles, podemos citar o aumento acentuado do número de atendimentos, a vulnerabilidade das equipes de embarcação à infecção pelo vírus – dado o contato prolongado com pacientes e acompanhantes, que pode alcançar várias horas durante o percurso dessas embarcações, e as dificuldades de resgate das equipes em caso de incidentes durante a expedição”, diz Jatobá.

Para responder a esses desafios, as coordenações regionais do Samu 192 implementaram – de acordo com as restrições locais – medidas como a utilização de macas bolha, procedimentos especializados de desinfecção das embarcações de acordo com as recomendações da Anvisa e adequação na utilização de EPIs das equipes de embarcação, conforme orientação dos conselhos de classe.

Diretrizes e recomendações

Em caráter complementar e de apoio a tais ações, a pesquisa formulou diretrizes específicas para fortalecer o serviço. Entre as diretrizes apresentadas, estão um novo layout para as embarcações com reformulação do espaço interno para permitir a ampliação do número de macas; o isolamento de pacientes com doenças infectocontagiosas; a inclusão de banheiro; a instalação de assentos para os profissionais e os acompanhantes; e a instalação de portas com novas medidas para facilitar o embarque dos pacientes e de armários em material náutico para guardar os equipamentos utilizados.

Além da proposta de um novo desenho para as ambulanchas, os pesquisadores fizeram outras recomendações, tais como: a construção de bases aquaviárias, que possuam a mesma estrutura das bases terrestes do Samu, oferecendo à equipe melhores condições de trabalho e mais agilidade no atendimento. Em relação às equipes das centrais de regulação, eles sugerem que elas contem sempre com um profissional com experiência como médico ou enfermeiro intervencionista em ocorrências aquaviárias, de maneira a atuar como consultor sempre que for necessário, e que possam fazer capacitação permanente, além das obrigatórias previstas nas legislações existentes. O estudo alerta, ainda, para a importância do acesso ao fornecimento de EPIS para a equipe de atendimento, pacientes e acompanhantes.

O Samu 192 e o serviço de embarcações

O Samu 192, principal componente móvel do atendimento pré-hospitalar (APH) brasileiro, é habilitado a realizar atendimentos públicos de urgência 24 horas em qualquer lugar: residências, locais de trabalho e ambientes públicos. Para isso, utiliza frotas terrestres (ambulâncias e motolâncias), aéreas (aeronaves) e aquáticas. O serviço tem como objetivo manter as condições de vida do paciente até a chegada a um serviço de saúde especializado, tendo como premissa atender imediatamente as vítimas de agravos urgentes prevenindo seqüelas. Atualmente sua cobertura alcança mais de 80% da população brasileira.

A assistência oferecida funciona, por meio de uma central de regulação médica, acionada de forma gratuita pelo número de telefone 192. A partir da chamada, a central determina a modalidade de atendimento apropriada e mobiliza a equipe de intervenção mais próxima ao local da ocorrência. Equipes de intervenção se mantêm a postos em bases descentralizadas, geograficamente dispersas e localizadas em pontos estratégicos do território de cada coordenação regional.

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