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Estudo descreve surto de enfermidade conhecida como “doença da urina preta” em Salvador


28/07/2017

Fonte: Fiocruz Bahia

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Intitulado Clinical and laboratory evidence of Haff disease – case series from an outbreak in Salvador, Brazil, December 2016 to April 2017, o artigo publicado em junho, no periódico Eurosurveillance, descreve os primeiros 15 casos ocorridos durante um surto da doença de Haff, em Salvador, Bahia. O surto teve início em dezembro de 2016 e se prolongou até abril de 2017, acometendo um total de 67 pessoas. Embora uma intensa dor muscular seja a principal característica da doença, durante o período do surto, os doentes ficaram conhecidos como tendo a “doença da urina preta”, devido ao relato de escurecimento da urina por alguns dos pacientes.

Em dezembro de 2016, após a identificação dos primeiros seis casos, as autoridades locais de saúde pública iniciaram uma pesquisa ativa de novos casos nas unidades de saúde e hospitais em Salvador e também pesquisaram registros médicos para identificar retrospectivamente casos compatíveis com a doença de Haff, que poderiam ter ocorrido entre julho e dezembro do mesmo ano.

A equipe de pesquisa, composta pelos pesquisadores da Fiocruz Bahia Guilherme Ribeiro, Maria Fernanda Grassi e pelo doutorando Antônio Bandeira, em conjunto com o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) de Salvador e profissionais vinculados a outras instituições de pesquisa e ensino, utilizaram a seguinte definição de caso para identificação de casos suspeitos da doença de Haff: início súbito de dor muscular em mais de duas regiões do corpo não relacionados à atividade física, associado a níveis elevados de creatinina fosfoquinase (CPK) e consumo de peixe ou produtos derivados de peixe nas 72h que precederam o surgimento dos sintomas. Dentre os 15 casos reportados, 14 haviam ingerido peixe cozido das espécies ‘Olho de Boi’ (Seriola spp) ou ‘Badejo’ (Mycteroperca spp).

Apenas uma pessoa não teria comido peixe, mas consumiu um prato de comida baiana com possíveis subprodutos de peixe. Oito pacientes relataram urina escura compatível com mioglobinúria e uma erupção cutânea leve foi observada em quatro. Onze casos faziam parte de quatro grupos familiares, enquanto que quatro casos isolados também foram identificados. Treze pacientes foram hospitalizados, metade deles por menos de 3 dias. A idade dos enfermos variou entre 14 e 75 anos.

Dos pacientes estudados, dez fizeram teste de chikungunya e zika, dada a circulação significativa de ambos os vírus em Salvador desde 2015, e realizaram análises de RT-PCR para enterovírus e parechovírus. Os resultados deram negativo, descartando a possibilidade de infecção viral. Além disso, peças de peixes não cozidos de um paciente foram enviadas para análise de toxinas na Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos (EUA), através do Ministério da Saúde; não revelando toxinas ou contaminação de metais pesados.

Em 21 casos semelhantes nos EUA, onde as amostras de peixes ou frutos do mar suspeitos foram testadas, também todas resultaram negativas para diferentes toxinas aquáticas mais conhecidas. Ainda assim, a equipe trabalha com a hipótese de que a causa mais provável da doença seja uma toxina presente na cadeia alimentar aquática.

Sobre a doença
Os casos de doença de Haff foram descritos pela primeira vez em 1924, na região do Báltico, na Prússia e na Suécia e envolveram o consumo de diferentes peixes de água doce cozidos. Posteriormente, os Estados Unidos e China também reportaram casos associados à ingestão de peixes e lagostins respectivamente. No Brasil, um surto de 27 casos de doença de Haff ocorreu durante 4 meses no norte do estado do Amazonas, em 2008, e um caso adicional da região amazônica foi relatado em 2013. Relatos desta região sugerem que a ingestão de três espécies diferentes de peixes de água doce, presentes nos rios amazônicos, estariam associados à doença. Como no surto de Salvador, na Amazônia, o mesmo padrão de agregados dos casos em núcleos familiares foi observado.

Os pesquisadores ressaltam a importância de que os médicos de outras localidades estejam alertas no caso de pacientes que retornem de Salvador com mialgia e sintomas de rabdomiólise, para considerar a doença de Haff como possível diagnóstico diferencial. Também deve ser tomado cuidado ao tratar estes pacientes, de modo a evitar agentes anti-inflamatórios não esteróides, devido a uma possível toxicidade renal simultânea.

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