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Estudo aponta 70% de excesso de mortes maternas no Brasil na pandemia


25/10/2022

Fonte: Fiocruz Amazônia

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Estudo inédito liderado pela Fiocruz Amazônia avaliou o excesso de mortes maternas no Brasil durante os primeiros 15 meses da pandemia de Covid-19. O epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), e pesquisadores ligados a universidades brasileiras, da Colômbia e dos Estados Unidos, mostraram o preocupante aumento de mortes maternas no Brasil, sobretudo no trimestre de março a maio de 2021, fase mais crítica da segunda onda da epidemia de Covid-19, em todos as faixas etárias e regiões do país.

Durante os cinco trimestres consecutivos avaliados no estudo, ao longo de março de 2020 a maio de 2021, foram identificadas 3.291 mortes maternas no Brasil, resultando em um excesso de mortes de 70% ou 1.353 mortes maternas além do esperado. A região Norte, uma das vulneráveis do país, foi a única em que se observou excesso de mortes maternas na faixa etária 37-49 anos, ao longo dos cinco trimestres avaliados. Ademais, na região Sul, houve comportamento explosivo nas mortes maternas, no trimestre de março a maio de 2021, principalmente nas mulheres de 37-49 anos, com a substancialmente alta marca de 375% na mortalidade materna excedente.

O estudo se baseou em dados oficiais de mortalidade do Ministério da Saúde e em metodologia de análise do tipo contrafactual (contrapõe o que foi observado na pandemia com o que seria esperado sem ela). "Sabe-se que os impactos diretos da epidemia sobre a mortalidade por Covid-19 resultaram em mais de 687 mil mortes conhecidas no Brasil, colocando o país, definitivamente, na segunda posição mundial em número de mortos pela doença, onde a desinformação relativa ao uso de medicamentos clinicamente ineficazes para prevenir/tratar Covid-19 ou mesmo o rechaço de evidências científicas favoráveis ao uso de máscaras, distanciamento social e até mesmo sobre a eficácia e segurança das vacinas, dificultou implementação de medidas de saúde pública para mitigar os efeitos da epidemia de Covid-19", explica Orellana, que coordena o Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) da Fiocruz Amazônia.

No artigo intitulado Excess maternal mortality in Brazil: Regional inequalities and trajectories during the ovid-19 epidemic (Excesso de mortes maternas no Brasil: desigualdades regionais e trajetórias durante a epidemia de Covid-19), os cientistas explicam essa relação e apresentam resultados ainda não explorados no país. Os autores concluíram que houve forte excesso de mortes maternas no Brasil e que suas trajetórias ao longo do período avaliado foram regionalmente heterogêneas, com impactos consistentemente mais fortes durante os momentos mais agudos da epidemia, refletindo não apenas desigualdades socioeconômicas e de acesso aos serviços de saúde anteriores à pandemia, como também o agravamento dos mesmos, sobretudo nas  regiões Norte e Nordeste. O trabalho foi aceito para publicação no periódico Plos One.

"A elevada carga de mortes maternas observada no Brasil, além de refletir mortes plenamente evitáveis, dada a deterioração do acesso oportuno aos serviços de saúde e da qualidade dos serviços prestados às gestantes e puérperas, sugere o aprofundamento de desigualdades sociais e regionais. O estudo também sugere que o atraso na inclusão de gestantes e puérperas entre os grupos prioritários à vacinação, em meados de maio de 2021, a subsequente e equivocada suspensão da mesma naquelas sem comorbidades, bem com a lenta vacinação contra a Covid-19 no restante da população geral, durante explosiva disseminação da variante Gamma, pode ter contribuído ao excepcionalmente alto número de óbitos maternos evitáveis no Brasil, evidenciando a urgente necessidade de aperfeiçoamento das políticas de saúde materno-infantil durante crises sanitárias", pondera o epidemiologista. 

Finalmente, o pesquisador considera que o padrão geral de excesso de mortes maternas reforça o dramático desenvolvimento da epidemia no Brasil. Isso compromete os esforços de anos anteriores do país para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais visavam reduzir ainda mais a mortalidade materna e garantir o acesso universal e de qualidade à saúde e reprodutiva para as mulheres até 2030.

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