21/01/2021
Por: Juana Portugal (INI/Fiocruz)
Analisar as características dos pacientes internados por Covid-19 no Brasil e examinar o impacto da doença na utilização de recursos e mortalidade hospitalar, esse foi o objetivo do estudo que analisou as primeiras 250 mil hospitalizações por Covid no Brasil, registradas de 16 de fevereiro a 15 de agosto de 2020. “O trabalho traz duas grandes contribuições: a primeira é documentar o efeito da epidemia sobre as populações e o sistema de saúde brasileiro, e o segundo é mostrar a importância de se ter um sistema de saúde justo, inclusivo e equânime especialmente para as populações mais vulneráveis”, explicou Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Medicina Intensiva do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz). Os resultados foram divulgados hoje, dia 15 de janeiro, no periódico científico The Lancet Respiratory Medicine.
O estudo fez uma análise retrospectiva das hospitalizações de pacientes maiores de 20 anos com diagnóstico de Covid-19 confirmado por RT-PCR e registrados no Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), sistema nacional de vigilância do Brasil. Os pesquisadores compararam a carga regional de internações hospitalares, estratificadas por idade, admissão em unidades de terapia intensiva (UTI) e o uso de suporte respiratório.
No período estudado foram hospitalizados e registrados no SIVEP-Gripe 254.288 pacientes com diagnóstico de Covid-19 confirmado por RT-PCR. A idade média dos pacientes foi 60 anos, 119.657 (47%) tinham menos de 60 anos e 143.521 (56%) eram do sexo masculino. A carga de hospitalizações foi mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, que possuem menos leitos hospitalares e de UTI per capita, se comparadas com as regiões Sul e Sudeste. No Nordeste, 16% dos pacientes receberam ventilação mecânica invasiva, forma ventilados fora da UTI em comparação com 8% na região Sul. A mortalidade hospitalar em pacientes com menos de 60 anos foi de 31% no Nordeste e 15% na região Sul. “As diferenças regionais de mortalidade intra-hospitalar observadas neste estudo foram consistentes com as desigualdades regionais de acesso a cuidados de saúde de qualidade antes da pandemia, indicando que a COVID-19 afeta desproporcionalmente não apenas os pacientes mais vulneráveis, mas também os sistemas de saúde mais frágeis”, destacou o pesquisador.
Bozza também destacou que os dados de mortalidade hospitalar são muito altos especialmente quando comparamos com outros países que tem populações mais idosas. “A maioria dos países de baixa e média renda tem pouca ou nenhuma informação integrada aos sistemas nacionais de vigilância, que possibilite identificar as características ou desfechos das hospitalizações por Covid-19, bem como o impacto da pandemia nos sistemas nacionais de saúde. No Brasil somos capazes de analisar estes dados porque existe o Sistema Único de Saúde, que integra o sistema de saúde e a vigilância em saúde”, destacou.
O grupo de pesquisa que desenvolveu o estudo também conta com a participação de profissionais da Universidade de São Paulo (USP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Instituto D’OR de Pesquisa e Ensino (IDOR) e o Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal). A pesquisa contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Instituto de Salud Carlos III.
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