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Em entrevista, nutricionistas dão dicas sobre planejamento alimentar para crianças


29/04/2015

Fonte: IFF/Fiocruz

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Atualmente, 44 milhões de crianças com menos de cinco anos estão acima do peso ideal. No Brasil, segundo o IBGE, cerca de um terço da população entre cinco e nove anos sofre do mesmo mal, e os números devem continuar subindo. Isso se deve, principalmente, ao estilo de vida e aos hábitos alimentares. As crianças estão consumindo, cada vez mais, alimentos altamente calóricos e pobres em vitaminas e minerais e estão mais sedentárias, devido ao aumento de tempo na TV, computadores e videogames, e consequentemente, reduzem as atividades físicas. Para ajudar no planejamento alimentar dos pequenos, as nutricionistas da Coordenação Técnica de Nutrição do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Fernanda Simões, Marcela Knibel, Daniele Marano, Giovana Salgado e Mirian Gomes dão dicas importantes para uma alimentação saudável.

Quais são as principais causas da obesidade em crianças e adolescentes?

Existem inúmeras causas associadas à obesidade em crianças e adolescentes, dentre elas, se destaca a alimentação inadequada desde o primeiro ano de vida. O tempo de aleitamento materno exclusivo (sem água, chá e/ou outro leite) está abaixo do recomendado no Brasil. Isso faz com que a alimentação complementar ocorra de forma precoce e incorreta, com a introdução de farinhas, açúcares e leite de vaca integral, antes do tempo. Outras causas seriam: hábitos alimentares inadequados da família (ausência do café da manhã, baixo consumo de frutas, legumes, entre outros), servindo de mau exemplo às crianças; a disseminação da alimentação fast-food, rica em gorduras e calorias, levando à substituição de refeições importantes por lanches pouco nutritivos e o aumento do sedentarismo.

Quais são os danos da obesidade relacionados à saúde?

O principal dano da obesidade é o desenvolvimento precoce de doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e alterações hepáticas, doenças, normalmente observadas em adultos, a partir dos 50-60 anos. Além disso, o dano psicológico causado pelo excesso de peso pode trazer transtornos graves para crianças e adolescentes, como depressão, vergonha da autoimagem corporal, baixo nível de autoestima, não aceitação social e consequente isolamento social.

Como implementar bons hábitos alimentares na vida de uma criança? Como os pais podem contribuir nessa tarefa?

Os primeiros mil dias de vida do bebê são os mais importantes. Portanto, desde a gestação à fase inicial, a alimentação adequada determinará a saúde, o crescimento e o desenvolvimento dessa criança. A alimentação materna rica em gorduras e açúcar ou a privação alimentar na gravidez pode estar relacionada com o desenvolvimento da obesidade da criança que ainda vai nascer. A amamentação exclusiva até o sexto mês de vida é essencial e um fator benéfico na prevenção da obesidade. A introdução de fórmulas infantis nesta fase só é indicada em situações específicas e oferecer corretamente uma alimentação complementar a partir dos seis meses é decisivo para que bons hábitos sejam incorporados. A alimentação adequada inclui uma boa distribuição entre os grupos alimentares compostos por cereais e hortaliças C (batata, aipim, cará, inhame); legumes e verduras; frutas; leite e derivados; carnes e ovos; leguminosas ou feijões. Além disso, minimizar o consumo de açúcares, doces e gorduras “ruins”, como as saturadas. Os pais devem oferecer alimentos saudáveis, ensinar os bons hábitos alimentares, estimular a manutenção a longo prazo desses hábitos, mas também inseri-los nas próprias vidas, para servirem de exemplo. Isto vale não só para os pais, mas para qualquer pessoa que seja responsável pela criação da criança. Cabe ao responsável também observar problemas existentes e sinalizar para os profissionais, como o pediatra e o nutricionista, para que eles sejam corrigidos rapidamente.

A criança está obesa e não quer ouvir falar em dietas, como os pais devem reagir?

De modo geral, não tocar no assunto não é a solução. A abordagem deve ser realizada com equilíbrio e delicadeza para não afastar a criança do tratamento. É de extrema importância a atuação do nutricionista nesta etapa, para tornar a dieta mais agradável ao olhar da criança, fornecendo um cardápio com receitas apetitosas, pouco calóricas e nutritivas, o que favorecerá a adesão ao tratamento. Além disso, é necessário que a criança receba estímulo, através de mensagens positivas para elevar a sua autoestima e a segurança de si mesma. Sendo assim, a ajuda de um psicólogo é adequada. Cultivar hábitos saudáveis em casa e dar o exemplo aos filhos também são importantes.

É indicado a utilização de medicamentos no combate a obesidade infantil?

De modo geral, não. A indicação para o uso de fármacos se refere aos casos em que são detectadas situações de agravo à saúde que tem influência direta do ganho de peso e precisam ser tratadas paralelamente ao processo de reeducação alimentar. O tratamento da obesidade em crianças implica mudanças dos hábitos de vida, ou seja, introdução de exercício físico regular, juntamente com a reeducação alimentar. Quando a causa da obesidade infantil for endócrina, o tratamento será indicado por um médico endocrinologista.

Quais os sinais de alerta para os pais começarem a se preocupar com o peso das crianças?

Inicialmente, a alteração no ganho de peso pode ser observada nas consultas regulares com o pediatra através da análise do peso, estatura e Índice de Massa Corporal (IMC) inseridos nas curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) presentes no cartão da criança. A depressão e o isolamento social decorrentes do excesso de peso da criança também são uma grande preocupação. As crianças que não querem mais realizar atividades comuns à infância (ir à escola, à piscina, ao clube, brincar com os amigos e ir à praia) e preferem ficar em casa, jogando videogame, vendo televisão ou mexendo no computador devem ser observadas.

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