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Doenças negligenciadas: projeto colaborativo visa novas parcerias


11/10/2019

Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas

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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a DNDi celebraram, durante evento no Rio de Janeiro, os resultados de projeto colaborativo voltado para doenças negligenciadas. Parceiras desde 2015, as instituições reafirmaram o desejo de levar medicamentos eficazes, seguros e acessíveis às populações que sofrem com doença de Chagas e leishmanioses. 

“O BNDES dá alto valor a este tipo de investimento que transforma a vida das pessoas que não tem acesso a soluções de saúde adequadas, e as doenças negligenciadas continuam no radar do banco”, afirmou Sandro Ambrosio da Silva, gerente do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES.

As doenças negligenciadas afetam bilhões de pessoas ao redor do mundo, principalmente em áreas de extrema vulnerabilidade. Embora elas sejam responsáveis por 12% da carga global de doenças (GBD, na sigla em inglês), os investimentos em P&D para novos tratamentos ainda são escassos. Segundo relatório da revista britânica The Lancet Global Health, apenas 4% dos medicamentos desenvolvidos entre 2000 e 2011 foram voltados para estas enfermidades.

Países em desenvolvimento: ciência de qualidade com impacto social  
Por que investir no processo de descoberta de novos medicamentos em uma área endêmica? Foi a pergunta que permeou a apresentação das atividades e dos resultados de uma das iniciativas referentes ao acordo, o projeto Lola (Otimização de Compostos Líderes América Latina, por sua sigla em inglês). O gerente de P&D da DNDi, Jadel Kratz, ressaltou que a construção de capacidades locais permite aos países em desenvolvimento autossuficiência e responsabilidade para resolver seus próprios problemas. Estabelecer um time de pesquisadores multidisciplinar e multicêntrico para identificar um candidato pré-clínico foi o primeiro passo para chegar ao objetivo de longo prazo, que é entregar um candidato a novo medicamento que possa tratar as pessoas acometidas pelas doenças negligenciadas, especificamente a doença de Chagas e as leishmanioses.

Segundo Kratz, a construção da rede de pesquisa foi um claro sucesso e a marca de 900 compostos sintetizados no âmbito do consórcio pode ser considerada altamente significativa e competitiva. Mais de 30 pesquisadores foram bem treinados em uma área extremadamente técnica e não é de surpreender que a indústria farmacêutica esteja interessada nos cientistas que foram formados. Luiz Carlos Dias, Professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos parceiros acadêmicos do Lola, considera que o aprendizado até hoje foi imensurável e a necessidade de manter o nível alcançado requer a continuação de investimento nacional. A parceria das universidades, Unicamp e Universidade de São Paulo (USP), são fundamentais no projeto Lola. “Trouxe fortalecimento e progresso no desenvolvimento científico e tecnológico para o Brasil em esta área, comentou Adriano Andricopulo, Professor do Instituto de Física (IFSC) da USP São Carlos, outro parceiro do Lola.

Caracterizado por parcerias público-privadas, o consórcio está hoje estruturado e agrega capacidades que não estão ainda desenvolvidas em outros grupos da América Latina. “A ideia não é fazer ciência isolada no Brasil, a chave do sucesso é o intercâmbio de conhecimento”, disse Michel Lotrowska, diretor regional da DNDi América Latina. A rede, que começou no Brasil, foi ganhando conhecimento e robustez até chegar a um grau de autonomia que permite hoje um trabalho de excelência na região, e o seu potencial inspira novas parcerias com empresas como a Eurofarma, o centro inovação e negócios de Medellín Ruta N, na Colômbia, e outras instituições.

Redes de pesquisa fortalecem combate a doenças negligenciadas
O apoio do BNDES também permitiu o fortalecimento de duas plataformas de pesquisa clínica, uma para a doença de Chagas e a outra para as leishmanioses, que foram criadas para avançar na condução de ensaios clínicos para estas doenças, bem como facilitar o intercâmbio de conhecimento entre instituições e pesquisadores que buscam novas opções terapêuticas no Brasil e em outros países da América Latina. Para Ana Lúcia Rabello, do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), as redes têm avançado e se fortalecido através dos anos, “a nossa missão é tentar diminuir o sofrimento das pessoas que padecem estas enfermidades e os resultados mostram que vale a pena continuar porque estamos no caminho certo”, apontou a pesquisadora.

A gerente de estudos clínicos para leishmanioses da DNDi, Joelle Rode, enumerou todos os projetos colaborativos que surgiram e estão em andamento graças ao intercâmbio e colaboração entre os membros das redes. “Tanto para a doença de Chagas como para as leishmanioses a identificação de novos estudos clínicos a serem realizados e o consenso sobre as prioridades de pesquisa permitem aproveitar ao máximo os recursos disponíveis e evitar a duplicação de esforços”, sinalizou Joelle. Por outro lado, a padronização de critérios para a realização de ensaios clínicos robustos e com qualidade técnica constitui um dos maiores ganhos destas duas plataformas que contam hoje com mais de 600 membros de aproximadamente 230 instituições localizados em diversas partes do mundo.

O intercâmbio continuado das redes é apoiado por web forums, boletins informativos anuais, e reuniões de caráter virtual assim como presencial, onde os pesquisadores podem apresentar atualização dos ensaios realizados e planejados, e discutir protocolos, Perfil de Produtos Alvo (PPA) e mudança de guias de atenção quando apropriado. As plataformas são essenciais para a implementação de ensaios clínicos e projetos colaborativos promovidos por seus integrantes que estimulam, além do mais, o acesso aberto ao conhecimento e compartilhamento de resultados de investigação científica para doenças negligenciadas. Segundo Joelle Rode, “hoje estamos em um cenário promissor para a doença de Chagas e as leishmanioses, com a possibilidade de continuar avançando, neste contexto as redes de pesquisa clínica serão importantes ferramentas para a realização de novos projetos colaborativos e futuros ensaios clínicos.”

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, frisou que “a parceria significa uma participação da Fiocruz na solução dos problemas de saúde global. É muito importante salientar os desdobramentos, e ressaltar que o Brasil decidiu apoiar as doenças negligenciadas, especificamente Chagas e Leishmanioses", concluiu. Já Michel Lotrowska, da DNDi, defendeu o caminho para uma solução de saúde pública aos problemas das populações negligenciadas está apenas começando e esta parceria encerra com a intenção de estimular novas colaborações e a necessidade de continuar investindo na pesquisa e desenvolvimentos para novos medicamentos nesta área.

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