25/04/2014
Por Maíra Menezes/ Instituto Oswaldo Cruz
Após uma década de avanço significativo no combate à malária na região amazônica, para reduzir as mortes fora da área endêmica o Brasil precisa agora investir no diagnóstico imediato da doença. A avaliação é do chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e presidente da Federação Internacional de Medicina Tropical e Malária, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro. Nesta sexta-feira, 25 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Luta Contra a Malária, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que os países devem avaliar a viabilidade de eliminar a doença.
No Brasil, a Amazônia concentra 99,6% dos casos do agravo. Em apenas um ano, os registros na região caíram 26%, com mais de 177 mil casos identificados, em 2013, contra 241 mil, em 2012. A queda no número de mortes foi ainda mais expressiva, chegando a 40%: o total de óbitos passou de 60, em 2012, para 36, em 2013. Segundo Daniel-Ribeiro, o avanço é resultado da agilidade no diagnóstico. “Quando tratada precocemente, a malária é uma doença de manejo relativamente simples, mas se houver demora ela pode levar à morte. Na região amazônica, cerca de 60% dos casos são identificados nas primeiras 48 horas de infecção”, explica o imunologista.
Em contrapartida, no restante do país, apenas 19% dos casos da doença são identificados nesse prazo. Com isso, o risco de morte é 80 vezes maior do que na área endêmica. Apenas no ano passado, houve 736 registros da infecção em toda a região extra-amazônica. De acordo com o especialista, o número de casos é baixo em comparação com outras infecções com sintomas semelhantes, como a dengue, e até mesmo em relação a patologias mais raras, como leucemia. “Mesmo assim, a taxa de mortalidade é um inaceitável tratando-se de uma doença que sabemos prevenir, diagnosticar e tratar. O médico precisa pensar na possibilidade de malária quando encontra um paciente com febre que esteve em uma região onde há circulação do parasito e transmissão da doença. Divulgar informação para profissionais de saúde e leigos fora da área endêmica é fundamental”, avalia o pesquisador.
Três espécies de parasitos podem transmitir a doença
O objetivo de eliminar a malária no Brasil e no mundo voltou a ser considerado viável nos últimos anos, de acordo com Daniel-Ribeiro. Segundo ele, três fatores contribuem para o sucesso no combate à doença: a disponibilidade de testes rápidos para diagnóstico, o desenvolvimento de terapias combinadas com drogas do tipo artemisininas e o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas. No entanto, eliminar a malária, exigirá um esforço ainda maior. “Chegará um momento em que será preciso fazer a busca ativa de portadores assintomáticos e dos chamados oligossintomáticos, aqueles indivíduos que não apresentam ou apresentam poucas manifestações clínicas da doença embora estejam infectados pelo parasito, pois eles também podem transmitir o agravo, perpetuando o ciclo da malária”, afirma ele.
No Brasil, a malária pode ser causada por três espécies de parasitos do gênero Plasmodium, mas só um deles é letal: o Plasmodium falciparum, que responde por 18% dos casos na Amazônia. O parasito é transmitido pela picada de mosquitos infectados do gênero Anopheles. O principal sintoma é a febre, que pode ser constante no início da doença, para só depois passar a ocorrer de forma intermitente, a cada dois ou três dias, na forma clássica da patologia. Os pacientes também costumam apresentar calafrios, suor intenso e dor de cabeça. O tratamento é feito com medicamentos antimaláricos, geralmente por via oral. Ainda não existe vacina contra a malária. Segundo Daniel-Ribeiro, a diversidade entre as espécies de parasitos causadores da doença e o fato de que a infecção atinge e confunde o sistema imunológico são desafios na busca por um imunizante efetivo.
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