21/05/2020
Por: Mariella de Oliveira-Costa (Fiocruz Brasilia)
A Fiocruz divulgou o resultado dos projetos aprovados em chamada pública com foco em ações emergenciais que ajudem a frear a disseminação da Covid-19 nas populações vulneráveis ou que garantam condições mínimas de sobrevivência às famílias impactadas pelo distanciamento social. Três dos projetos aprovados têm, em suas equipes, estudantes do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde – Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho. O curso é conduzido pela Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), Fiocruz Ceará e Fiocruz Pernambuco, e tem como alunos profissionais da saúde e representantes de diversos movimentos sociais que vão fazer intervenções nos territórios dos estados do Ceará e de Pernambuco.
Um dos projetos aprovados na Chamada Pública é o Observatório popular dos impactos do coronavírus nas comunidades tradicionais pesqueiras do Ceará. A proposta busca garantir a segurança alimentar e a saúde das famílias pesqueiras durante a pandemia, com distribuição de cestas de alimentos, monitoramento dos impactos e articulação dos serviços de saúde e proteção social, além de mapeamento dos casos na comunidade, entre outras ações. De acordo com a educadora popular do Conselho Pastoral de Pescadores do Ceará e mestranda do curso Camila Batista Silva Gomes, a vigilância popular dos agravos socioeconômicos e de saúde causados pelo novo coronavírus nas comunidades pesqueiras tem gerado Boletins Epidemiológicos construídos pelo Observatório, que reúne diferentes entidades em defesa da pesca artesanal e dos territórios tradicionais pesqueiros. “Estudar na Fiocruz me dá a oportunidade de ampliar o olhar e potencializa a nossa condição de pensar propostas que respondam a essas necessidades, construídas conjuntamente com os moradores”, afirmou.
Contemplado no edital, o projeto Cuidar do outro é cuidar de nós – Ação solidária de enfrentamento à Covid-19 na Colônia Antônio Justa vai distribuir máscaras e cestas básicas às famílias da Colônia Antônio Justa, bairro da cidade de Maracanaú-CE que até a década de 1980 era espaço de isolamento para pessoas com hanseníase. A proposta vai agregar os voluntários que moram na comunidade e já estão envolvidos em atividades contra a fome, nas quais cada voluntário acompanha cerca de 30 famílias. “Foi na Fiocruz que eu aprendi que, mais importante do que a produção do conhecimento é ver esse conhecimento mudando vidas, fazendo a diferença onde ele é mais necessário. Não serve para nós aquele conhecimento academicista que não faz transformação social”, afirmou a mestranda e assistente social Jaqueline de Aquino Silva, que é moradora da comunidade assistida pelo projeto.
Outra mestranda, a médica da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares Ana Paula Dias de Sá também conta que, estudando na Fiocruz, foi instigada a realizar ações que colaborem na transformação de sua realidade para que o acesso à saúde fosse um direito cada vez mais presente. Ela é uma das coordenadoras do projeto O Cuidado começa na Rua – Ação solidária de enfrentamento à Covid-19 junto à população em situação de rua que frequenta o Grupo Espírita Casa da Sopa no município de Fortaleza, que vai distribuir refeições produzidas com alimentos comprados de pequenos produtores rurais do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem terra – MST Ceará, investir em comunicação popular para conscientização sobre covid-19 e estimular o banho e a lavagem das mãos. “É notável a amplitude da atuação da Fiocruz, que vai desde o estudo do vírus, diagnóstico, tratamento, vacinas, até o componente humano – social da doença, as determinações sociais da saúde e o enfrentamento das iniquidades que, muitas vezes, se tornam determinantes em critério de mortalidade” diz.
Outro projeto aprovado na Chamada Pública, intitulado Comunidades unidas contra a Covid-19, tem como uma das responsáveis a ex-aluna da Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho e advogada Mayara Justa, voluntária da Frente de Luta por Moradia Digna – Fortaleza. “Tudo que aprendi na Fiocruz sobre saúde da família e estratégias de vigilância em saúde foram importantes na elaboração do projeto, pois ele é baseado em experiências que as comunidades já vêm desenvolvendo”, afirmou. A Frente de Luta por Moradia Digna é composta por 12 comunidades, diversos movimentos sociais e cinco entidades de assessoria técnica das áreas de arquitetura e direito. O projeto aprovado no edital da Fiocruz vai subsidiar a criação de Comitês Populares de Apoio, em três comunidades, com ações como a distribuição de kits de higiene e máscaras e instalação de postos de lavagem de mãos para evitar o contágio pelo coronavírus, e ações de comunicação para sensibilizar as pessoas sobre as recomendações de isolamento social com cartazes e carros de som, entre outra atividades.
Para o pesquisador da Fiocruz Brasília e coordenador do Mestrado e da Especialização, André Fenner, a aprovação destes projetos demonstra como a instituição, por meio do PSAT forma seus alunos voltados para ações concretas, e envolve as comunidades como um diferencial nesta formação. “Esse processo formativo está embasado em alguns princípios importantes, tais como a Pedagogia da Alternância e os processos pedagógicos organizados em diferente momentos, que chamamos de tempos educativos, e em quatro bases epistemológicas: Território, desenvolvimento e sustentabilidade; Desenvolvimento Saudável e Sustentável; Educação/Formação para Território Saudável e Sustentável; e Saúde e Saneamento, na perspectiva da promoção e vigilância em saúde e saneamento e saúde ambiental”, explica.
Clique aqui para conhecer todas as propostas aprovadas na chamada pública.
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