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Coordenadora detalha ações e projetos em políticas afirmativas na Fiocruz


20/09/2023

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

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A criação de uma nova Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa) na estrutura da Presidência da Fiocruz, em março deste ano, fortaleceu e ampliou o trabalho e a visibilidade de uma área sintonizada com as demandas cada vez mais urgentes por diversidade. Se, até então, a Fundação contava com os comitês Pró-Equidade de Gênero e Raça, lançado em 2009, e de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, constituído em 2017, agora a instituição dispõe de uma instância mais robusta para lidar com as múltiplas questões desse campo. A Coordenação tem uma série de atribuições, como coordenar as ações de implementação das políticas afirmativas e diretrizes institucionais.

Em entrevista para a Agência Fiocruz de Notícias (AFN), a coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fiocruz, Hilda Gomes, detalha as primeiras ações da nova Coordenação, aponta as prioridades e os próximos passos e convida para o primeiro evento da Cedipa, Pessoas com deficiência em suas interseccionalidades: o avanço das lutas e desafios das resistências, que será realizado nesta sexta-feira (22/9), em regime híbrido (presencial e online). Com graduação em biologia e atuando como educadora do Museu da Vida Fiocruz, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) desde 2006, Hilda tem mestrado em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF).


Coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas, Hilda Gomes detalha as primeiras ações da nova Coordenação, aponta as prioridades e os próximos passos (foto: Divulgação)

AFN: Quais as diferenças de atuação entre a Coordenação e os dois comitês?

Os comitês são instâncias formadas por pessoas com vínculo de servidores e terceirizados, que têm como objetivo apresentar e pautar as agendas da acessibilidade, da inclusão e das relações  étnico-raciais e de gênero. A dinâmica de trabalho é constituída por reuniões ordinárias, uma vez por mês, e cada comitê se organiza de maneira a sempre capilarizar essas agendas. A Coordenação tem estrutura no organograma da Fiocruz, com orçamento, planejamento, metas, equipe fixa e espaço físico próprios. A ideia é que Coordenação esteja alinhada horizontalmente aos dois comitês, num trabalho de construção coletiva fortalecendo essas agendas, já que os  comitês são os braços consultivos da Cedipa. 

AFN: Como surgiu a Coordenação?

Foi uma mobilização pautada pela necessidade de mudança. Temos, no atual contexto político nacional, a urgência em aprofundar questões e debates, produzir reflexão e promover ações nesse contexto de luta contra os preconceitos e as discriminações. Há muitos casos de racismo, capacitismo, xenofobia, preconceito contra os povos originários, feminicídio, homofobia, lesbofobia e transfobia na sociedade e é necessário se posicionar. Lembro do caso da aluna da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) que em abril passado foi vítima de racismo e violência em um voo de Salvador para São Paulo. Naquela ocasião viemos a público e construímos uma nota coletiva de repúdio em nome da Fiocruz, assim como no recente assassinato da yalorixá e líder quilombola Mãe Bernadete, morta na Bahia. A Cedipa organiza essa agenda, com uma voz unificada para falar pela Fiocruz. É uma instância que vem sendo pensada e produzindo reflexões e conhecimentos sobre estes temas há alguns anos, e que agora está fortalecida.

AFN: Como funciona a Coordenação?

A Cedipa tem quatro linhas de atuação, cada qual com uma equipe. Uma delas cuida da agenda interna e externa, estabelece conexões interinstitucionais e também com movimentos sociais, organizações e universidades. Outra faz o enfrentamento ao racismo e à xenofobia, em especial aos povos originários. Temos ainda uma frente voltada para as violências de gênero. E uma outra faz o enfrentamento dos capacitismos. Nesse caso queremos que o lugar seja ocupado por uma pessoa com deficiência e estamos selecionando alguém assim. E temos como secretária uma pessoa trans, o que também potencializa as questões que atravessam a comunidade LGBTI. A intenção é que a equipe seja diversa e inclusiva. Até outubro pretendemos ter toda a equipe definida.

AFN: Qual tem sido a receptividade na Fiocruz?

Maravilhosa, ótima. Não estamos dando conta de atender a todas as demandas para mesas-redondas, aulas, eventos, reuniões, seminários etc vindas de todas as unidades da Fiocruz. Todos querem saber sobre o trabalho da Cedipa e implantar projetos em parceria.

AFN: Pode destacar as principais ações da Coordenação nestes primeiros meses?

Temos avançado muito na pauta, que já era do Comitê Pró-Equidade, de qualificar a formação de pessoas que vão compor as comissões de heteroidentificação [método de identificação étnico-racial de um indivíduo a partir da percepção social de outra pessoa] racial nos programas de pós-graduação, já que em breve a Fiocruz terá um concurso. E quem está nesse lugar tem que ter essa formação. Numa mesma semana atendemos a várias unidades para explicar melhor essa questão. E então vão surgindo outros pontos, presentes na pauta do Comitê Acessibilidade, por exemplo, como receber alunos com deficiência? Não basta ter a vaga no edital. O edital tem que ser acessível, precisa de um pdf para quem é cego ou tem baixa visão, tem que ser pensado para o candidato surdo... não basta apenas publicar no site, tem que pensar em todas essas questões de acessibilidade. Tudo precisa ser revisto no sentido de atingir os objetivos propostos nos conceitos de inclusão e acessibilidade.

De fora da Fiocruz temos recebido convites de instituições para conhecer e compartilhar experiências. Entre elas, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), a PUC Minas, a Sanofi, empresa farmacêutica que tem parcerias com a Fiocruz, entre outras. Temos sido contatados por empresas que organizam exposições e pensam em acessibilidade nos eventos que montam, como o Centro Hélio Oiticica, no Centro do Rio de Janeiro.

O Ministério da Saúde nos pediu para estabelecer TEDs e contribuir para alinhar projetos que rendam frutos à sociedade. Mais para frente o objetivo é elaborar projetos com a possibilidade em oferecer bolsas para pessoas pertencentes a grupos historicamente vulnerabilizados. Queremos criar um selo para instituições que desenvolvam projetos contra a violência de gênero e para aquelas que promovam ações para incentivar que meninas de favelas se interessem pelo campo da ciência.

AFN: E quais deverão ser as próximas ações da Coordenação?

Em relação ao concurso Fiocruz, vamos reforçar, junto às direções das unidades, que a ação afirmativa é elemento importante, que traz outras narrativas, outros corpos e outras vivências para a Fundação. No concurso anterior eu fiz parte da banca de heteroidentificação racial, mas não existia a Coordenação para explicar, de maneira institucional, a importância da ação afirmativa em uma seleção desse tipo.

Outro objetivo é elaborar uma disciplina eletiva transversal para todos os programas de pós-graduação, permitindo discutir a questão das diversidades, da inclusão e da acessibilidade. A ação afirmativa não é apenas uma cota, mas uma política para aceitar plenamente todo tipo de ser humano. Quando não vemos pessoas diversas nas instituições, pensamos que só o modelo “padrão” pode estar na academia.

E vamos organizar eventos, que possibilitem debater todas essas questões, conscientizar mais pessoas e divulgar ações e projetos. Nesta sexta-feira haverá o evento Pessoas com deficiência em suas interseccionalidades: o avanço das lutas e desafios das resistências, que será realizado na Fiocruz, das 9h às 12h. O evento terá tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Um dia antes, na quinta-feira (21/9), será lembrado o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Setembro é o mês dedicado à inclusão e no dia 26 há o Dia Nacional do Surdo.

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