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Coletivo Vozes Indígenas realiza 2ª oficina na Fiocruz e planeja novo livro


31/07/2023

Barbara Souza (Informe Ensp)

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Nos dias 25 e 26 de julho, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) recebeu quinze autores indígenas de treze povos diferentes para a 2º Oficina Vozes Indígenas. Eles fazem parte do coletivo que publicou, no ano passado, o livro Vozes indígenas na produção do conhecimento: para um diálogo com a saúde coletiva, resultado de um processo iniciado no fim de 2018. Em 2019, foi realizada 1º Oficina Vozes Indígenas e, no ano seguinte, foi lançado o edital para a submissão de artigos escritos por pesquisadores indígenas de todo o Brasil. A reunião desta semana na Ensp/Fiocruz foi o primeiro encontro presencial do grupo de autores desse livro, que se encontra esgotado e, em breve, terá uma nova tiragem. 

Fiocruz recebeu quinze autores indígenas de treze povos diferentes para a 2º Oficina Vozes Indígenas (foto: Informe Ensp)

 

Nos dois dias de oficina, os participantes puderam fazer uma avaliação do processo de elaboração e de submissão de artigos, assim como das experiências ligadas ao passo a passo para uma publicação. O grupo de autores também debateu as repercussões e desafios relacionados a esse processo. “Esse é um encontro que coroa uma experiência que a gente considera muito exitosa, de inclusão de povos que estão historicamente excluídos das instituições. Fica como responsabilidade para nós pesquisadores e professores, para a própria Fiocruz, a necessidade de manutenção dessa ampliação e de incorporação dessas pessoas que tem muito a dizer e a produzir, mas acabam não encontrando espaço nas instituições. Esse é o desafio”, disse o coordenador do projeto e pesquisador da Ensp/Fiocruz, Felipe Machado. 

Indígena do povo Sateré-Mawé, a professora e pesquisadora do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Inara Nascimento Tavares tem atuado como uma articuladora fundamental do coletivo. “Estabelecemos uma rede que enfrenta uma ciência colonial e ocidental. Pelo nosso olhar e pelo nosso corpo, a gente traz para a academia outros processos de fazer ciência. Nossa expectativa para o futuro é que não só publiquemos outros livros. Não é sobre isso, mas sim sobre ampliar nossa presença nos espaços e nossa produção. E que as instituições e universidades também se abram para os corpos, epistemologias e pensamentos indígenas. Que a gente consiga mover as estruturas, que são racistas e colonialistas”, afirmou.

A mestra em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Elisa Pankararu concorda e complementa. “Não se trata apenas de produzir ou publicar. O mais importante é o que essas produções têm de positivo para os nossos povos. Mesmo que eu, Elisa, esteja aqui como pesquisadora, a pesquisa não é individualmente minha. Ela pertence a um povo. É importante a gente poder falar e trazer as nossas vozes, entendimentos e realidade para o papel, transformar isso em ciências. Quando escrevemos, estamos oficializando o nosso lugar de fala e as nossas ciências”, analisa a pesquisadora indígena. 

A pesquisadora da Ensp/Fiocruz e coordenadora do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE Yanomami), Ana Lúcia Pontes, participou dos dias da 2º Oficina Vozes Indígenas e celebrou o fortalecimento da rede de pesquisadores indígenas e a integração deles com os pesquisadores da Fiocruz que estudam saúde indígena. “É uma busca por uma relação mais simétrica entre os produtores de conhecimento indígenas e não indígenas nesse campo. É um processo que envolve conhecermos os desafios e as especificidades que essas pessoas vivem na academia, na formação e na inserção, no caso específico das publicações. Estamos pensando em políticas afirmativas e estratégias para, progressivamente, ampliar os espaços de contribuição dos pesquisadores indígenas na produção de conhecimento na saúde coletiva”, explicou Ana Lúcia. 

Nos dois dias de oficina, os participantes puderam fazer uma avaliação do processo de elaboração e de submissão de artigos, assim como das experiências ligadas ao passo a passo para uma publicação (foto: Informe Ensp)

 

Convidada para participar do segundo dia da oficina, a professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que também exerce a função de editora chefe e coordenadora editorial do periódico Trabalho, Educação e Saúde, Angelica Ferreira Fonseca explicou processos editoriais para publicações científicas, destacando o que considera prós e contras do rigor das regras impostas aos autores. Nesse contexto, foram debatidas as particularidades dos processos de produção de conhecimento por parte dos pesquisadores indígenas, com foco nas dificuldades encontradas diante dos processos de publicação, que muitas vezes são considerados barreiras. O racismo institucional também emergiu neste debate como um tema crucial, discutido com ênfase por quem sente na pele o que é fazer pesquisa sofrendo discriminação. 

Outro momento importante da oficina foi o da eleição do novo conselho editorial do projeto Vozes Indígenas. “Esta é uma etapa necessária para que se inicie mais uma vez o processo da produção de um livro, um novo livro, com uma nova chamada e partir desse grupo que está aqui conosco. A ideia é também ampliar essa rede e ir unindo as pessoas. Já conseguimos novamente financiamento da Fiocruz para dar continuidade a essa iniciativa”, explicou Felipe Machado, que lembrou que, a chamada que iniciou o processo de elaboração do livro Vozes indígenas na produção do conhecimento: para um diálogo com a saúde coletiva’ foi escrita pelos indígenas, assim como os pareceres foram dados por pesquisadores também indígenas. “A ideia é inclusive qualificá-los nesse processo e isso tem dado frutos muito interessantes”, complementou.  

A abertura da oficina, na segunda-feira (24/7), contou com as presenças da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Christiani Machado, da assessora de Saúde e Ambiente da Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), Sandra Fraga, da doutora em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Diádiney Helena de Almeida, e do pesquisador da Ensp/Fiocruz Ricardo Ventura dos Santos. 

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