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Biomedicalização é tema de História, Ciências, Saúde – Manguinhos


08/04/2016

Fonte: COC/Fiocruz

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A nova edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos da Fiocruz chega ao SciELO com uma série de artigos que discutem a biomedicalização de corpos no Brasil a partir de perspectivas antropológicas. Com trabalhos que abordam desde experiências de aborto em uma maternidade pública no Nordeste do país à trajetória da mais antiga sobrevivente do regime penal-psiquiátrico no Brasil, o número temático conjuga diferentes olhares sobre as intervenções técnico-científicas em diagnósticos biomédicos, tratamentos, práticas e saúde, que resultam em transformações de corpos, das próprias pessoas e de suas vidas.

O artigo que abre esta edição discute o uso duplo do misoprostol no Brasil. O medicamento é usado ilegalmente por mulheres como um facilitador do aborto e, de forma legal, em alas obstetrícias de hospitais. No trabalho, intitulado A biomedicalização do aborto ilegal: a vida dupla do misoprostol no Brasil, a autora analisa a “conversão” da substância, empregada inicialmente para tratar úlceras, em um indutor do abordo autoadministrado na América Latina, bem como a sua ascensão como uma ferramenta da obstetrícia global.

A obstetrícia é tema de quatro outros artigos deste número de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Um deles aponta que a difusão do fenômeno da (bio)medicalização varia de acordo com a camada social das mulheres atendidas, produzindo corpos fetais e gestantes – assim como processos gestacionais – totalmente diversos conforme o estrato socioeconômico a que pertencem. Outro trabalho discute, a partir de uma análise do livro Obstetrícia, de Jorge de Rezende, a apropriação e o desenvolvimento das técnicas de cesariana no Brasil no século 20.

Este número traz também uma análise da relação entre a aplicação de tecnologias médias de baixa complexidade e as diversas noções de “cuidado” envolvidas no processo de detecção neonatal da doença falciforme, feita a partir de um trabalho de campo etnográfico realizado em Salvador (BA). Também na capital baiana, um estudo aborda a experiência hospitalar de mulheres diante da interrupção, voluntária ou não, da gravidez, e apresenta o ponto de vista dos profissionais de saúde.

Completam esta edição de História, Ciências, Saúde – Manguinhos um artigo que mostra como a genética do câncer tornou-se objeto de pesquisa no Brasil e em Cuba, despertando maior interesse da saúde pública; os resultados de um estudo etnográfico no Sul do Brasil, com foco em adolescentes, que trouxe à tona tentativas frustradas e bem-sucedidas de terapeutas em uma “resistência biorreducionista” a medicamentos; além de um texto sobre Josefa de Alagoas, popularmente conhecida como Zefinha, interna do regime penal-psiquiátrico brasileiro, abandonada há 38 anos no manicômio judiciário de Alagoas.

A seção Fontes deste número traz dois artigos. O primeiro discute a judicialização do direito à saúde a partir de uma análise da luta de pais para que seus filhos portadores de mucopolissacaridose tenham acesso a medicamentos caros, em nome do acesso universal à saúde. O segundo tematiza a engenharia do corpo por meio de cirurgias plásticas e terapias hormonais no Brasil. A revista publica ainda uma entrevista com Charles Rosenberg, um dos mais importantes historiadores da medicina nos Estados Unidos, na qual ele discorre sobre seu campo de pesquisa, teoria, seguro-saúde e psiquiatria.

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