29/10/2024
Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia)
O projeto Mosaic, coordenado pelo Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), da França, deu início esta semana à etapa de coleta de dados no Brasil, começando pela região do Alto Solimões, no Amazonas, área da Triplice Fronteira (Brasil/Peru/Colômbia), na primeira missão do grupo na América Latina. O projeto tem como finalidade implementar ecossistemas de informação multimodais abertos e replicáveis acerca da saúde das populações nas áreas de fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e a Colômbia e Peru, e na fronteira entre Quênia e Tanzânia, no continente africano. Um grupo formado por pesquisadores da França, Portugal, Polônia, Quênia, Colômbia, Peru e Brasil, com a participação do coordenador científico e da gestora do projeto, Emmanuel Roux e Lucile Guerin, foi recebido na Fiocruz Amazônia, em Manaus, marcando o início da missão. Junto com a Fiocruz Amazônia, compõem o projeto pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).
O projeto tem como finalidade implementar ecossistemas de informação multimodais abertos e replicáveis acerca da saúde das populações nas áreas de fronteira (Foto: Júlio Pedrosa)
O projeto Mosaic foi selecionado pelo programa Horizon Europe, da União Europeia, para financiamento no período 2024 a 2027. É o primeiro edital europeu de fomento à pesquisa com participação da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Pictis), fruto do acordo de cooperação firmado pela Fiocruz com a Universidade de Aveiro, em Portugal. O grupo recebeu as boas-vindas da diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, que destacou o caráter inovador da abordagem do projeto, nos processos de ações de saúde e vigilância nas regiões de fronteiras, e a importância da participação conjunta das instituições.
“O Mosaic é um projeto que concilia campos da atuação da Fiocruz na vigilância em saúde, nas comunidades locais, entendendo os principais agravos que circulam nas regiões de intervenção do projeto, e trazendo soluções de novos sistemas de monitoramento e de vigilância, de sistemas de formação em saúde dentro desse contexto maior, sob a chancela da União Europeia”, pontua o assessor da Vice-Direção de PDI do IOC/Fiocruz, Carlos Eduardo Andrade Lima da Rocha, que acompanha o grupo na missão. Lima da Rocha ressalta o papel estratégico da Plataforma para a viabilização da participação de pesquisadores da Fiocruz no programa.
A Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde da Fiocruz (Pictis) está voltada para a consolidação de um centro internacional de investigação em saúde tendo como instituições líderes a Fiocruz e a Universidade de Aveiro, em Portugal. Ela gere e participa de atividades de ensino, pesquisa, desenvolvimento e inovação em saúde, com o objetivo de gerar novos produtos, processos e serviços, assim como participar na transferência e difusão de novos conhecimentos e tecnologias para o bem-estar da sociedade.
O pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC/Fiocruz e do Laboratório Setorial One Health/Global Health da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, Paulo Peiter, destacou a importância da parceria entre os pesquisadores que integram o projeto e o engajamento das populações na iniciativa de vigilância transfronteiriça comunitária em saúde. “Estamos começando o novo desafio que é ir para o campo aqui na Amazônia, momento bastante particular num cenário de seca histórica, que é um contexto relacionado ao objetivo do projeto de trabalhar a questão das mudanças climáticas e como está afetando o dia a dia das populações, dialogando e entendendo como estão percebendo essas necessidades”, explicou Peiter, que é lider do pacote de trabalho sob a responsabilidade do IOC/Fiocruz, via Pictis.
Pela Fiocruz Amazõnia, atuam no projeto os pesquisadores Sérgio Luz Bessa, José Joaquín Carvajal Cortes e Alessandra Nava, do Núcleo de Patógenos, Reservatórios e Vetores na Amazônia – PreV Amazônia, do Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA). Também integram o Mosaic o Centro de Conservação Africano, do Quênia; da Universidade de Warszawski, da Polônia; da Universidade de Lisboa, de Portugal; do Centro Hospitalar de Caiena, da Guiana Francesa; do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Ambiente, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento e das Universidades de Perpignan, D’Aix Marselha e D’Artois, da França, Universidade de Brasília (UnB), Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Universidade Nacional da Colômbia.
“O Mosaic tem uma trajetória acompanhada com muita atenção por instâncias relevantes, no âmbito da União Europeia e no Brasil, a exemplo do Ministério das Relações Exteriores e Delegação da União Europeia em Brasília, além de outras instâncias da Fiocruz, nesta fase importante de construção de uma aliança estratégica ILMD, IOC, ICICTI e ENSP e os outros parceiros que constituem esse consórcio”, afirma o coordenador científico do Pictis, José Cordeiro, observando que a primeira missão do Mosaic no Quênia foi exitosa e bem conduzida por todos os parceiros.
Tríplice Fronteira
Na Tríplice Fronteira, o grupo se reuniu com pesquisadores e atores locais na Universidade Nacional da Colômbia, compartilhando experiências em vigilância em saúde, mudanças climáticas e projetos exitosos em sáude e melhoria e melhoria das condições de vida, envolvendo as comunidades que vivem no território transfronteriço. No segundo dia, a equipe realizou trabalhos de campo junto à unidade de Atenção Básica Upetana, em Tabatinga, pertencente ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões, onde ocorreu roda de conversa com os pesquisadores do Projeto Mosaic e as parteiras da etnia Tikuna e foi feita a apresentação da cartografia social local pelos técnicos do DSEI, pertencentes à etnia Kokama e egressos do Programa Vigifront. As atividades também envolveram visitas ao Laboratório de Fronteira (Lafron), em Tabatinga, e ao Instituto Sinchi – Instituto Amazônico de Investigaciones Cientificas, em Letícia, cidade na Colômbia situada na fronteira com o Brasil.
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