01/10/2024
Suzane Durães - Coordenação de Saúde e Ambiente/VPAAPS
Tema de pesquisas científicas ao redor do planeta, o banho de floresta, também chamado de shinrin-yoku, em japonês, tem ganhado adeptos no Brasil. De olho na prática, no dia 26 de setembro, a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPPAPS) promoveu um banho de floresta com pesquisadores, colaboradores e servidores da VPAAPS e integrantes do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE). A atividade foi realizada na trilha interpretativa da Fiocruz Mata Atlântica (FMA).
Fotos: Suzane Durães
O banho de floresta foi desenvolvido no Japão, na década de 1980, e de acordo com estudos têm proporcionado, entre outros benefícios, a melhora do sono, o aumento da imunidade e da saúde cardíaca.
Ao iniciar a trilha guiada por Marco Aurélio Bilibio, presidente do IBE, os participantes pediram licença aos seres da natureza para entrar no local. Em seguida, realizaram uma imersão voltada para a atenção plena, explorando os cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar.
Durante o percurso, tiveram oportunidade de sentir a textura das plantas, apreciar os aromas, ouvir os sons da floresta e observar o ambiente. Alguns até se deitaram em cangas em completa conexão com a natureza. O banho de floresta foi finalizado com a cerimônia do chá. Sentados em círculo, degustaram um chá de capim santo, despertaram o sentido do paladar e dialogaram sobre a experiência.
Alguns dos participantes relataram que conduzem atividades na trilha direcionadas para estudantes de escolas públicas. A trilha faz parte do dia a dia desses condutores, no entanto desta vez, o percurso foi realizado de maneira diferente, proporcionando uma conexão mais profunda com a natureza. Segundo eles, o percurso feito com os jovens requer muita atenção e cuidado com a segurança, o que não permite maior relaxamento.
Luciana Alves de Oliveira, farmacêutica e servidora da Fundação, disse que a vivência proporciona um olhar não só para o corpo físico, mas também para o extrafísico. “Somos natureza e fazemos parte dela. O contato que tivemos com os cinco sentidos realmente pode transformar nossa relação com a Mãe Gaia. Conectar-se, criar raízes e fortalecer esses laços nos faz sair daqui diferentes”, ressaltou a servidora.
Ao falar sobre a experiência, Carlos Vinícius Laia, também da FMA, destacou que intuitivamente usa os cinco sentidos na floresta, mas que nunca havia praticado de forma guiada. “Quando trabalhava no parque, eu entrava na mata e tentava me perder. Ficava ouvindo, olhando, observando a respiração e meditando. Com o tempo a gente começa a desenvolver um sexto sentido na floresta e desenvolve melhor as percepções. Esse tipo de vivência também ajuda a desenvolver um sentimento ancestral da época dos caçadores e coletores”, disse.
Para Vinicius, o banho de floresta poderá contribuir para melhorar a atividade com estudantes realizada na trilha interpretativa. “Importante pensar em como transpor o banho de floresta para a prática que já utilizamos com os estudantes. Acredito que a prática poderá ser mais funcional e efetiva do que a atividade oferecida”, ressaltou Vinícius.
Na avaliação da Andrea Vanini, coordenadora ambiental da FMA, atividades como o banho de floresta contribuem para a sensibilização das pessoas em relação à proteção dos biomas. “Ao receber os benefícios dessas práticas, as pessoas se percebem como integrantes desse ecossistema. Vejo isso também no trabalho de educação ambiental em relação à proteção dos biomas”, afirmou.
Além do banho de floresta, também foi realizada uma roda de conversa. Guilherme Franco Netto, coordenador de Saúde e Ambiente da VPAAPS, explicou sobre a parceria entre a Fiocruz e o IBE para desenvolver a prática no Brasil e disse que desde 2021 existe uma cooperação técnico-científica entre as instituições.
“A cooperação visa o levantamento de informações e evidências sobre o banho de floresta e poderá contribuir para que o Sistema Único de Saúde (SUS) inclua o banho de floresta nas práticas integrativas e complementares e, assim, proporcionar os seus benefícios à saúde da população brasileira”, ressaltou Guilherme que também coordena a cooperação.
O coordenador da FMA, Ricardo Moratelli, juntamente com sua equipe multidisplinar, apresentaram as ações da unidade que visam articular e integrar a saúde urbana e ambiental. As ações realizadas pela FMA têm contribuído para integrar saberes e práticas, aproximar ensino, pesquisa, serviço e gestão pública no fortalecimento da promoção da saúde e do SUS, e o banho de floresta poderá ser mais uma atividade a ser incorporada pela unidade.
Além disso, a FMA está localizada no maior remanescente de Mata Atlântica no Rio, a floresta urbana da Pedra Branca e várias ações e estratégias têm sido voltadas para a restauração da biodiversidade, como a educação ambiental. Para Marco Bilibio, essas ações estão totalmente alinhadas com os objetivos da cooperação de também aproximar as pessoas dos parques e florestas.
Foto FMA
Marco Bilibio também pontuou a necessidade de novas pesquisas sobre o banho de floresta, pois as existentes estão focadas no hemisfério norte e o Brasil, com sua vasta biodiversidade e biomas distintos, oferece uma nova perspectiva de estudo sobre o tema. “É importante conhecer os efeitos do banho de floresta nos biomas brasileiros. A fundamentação da pesquisa brasileira e os resultados poderão servir para a construção de políticas públicas de saúde”, afirmou Marco.
Ao finalizar a jornada, Ricardo ressaltou o interesse em formar integrantes da equipe para aplicar a prática nas atividades da trilha interpretativa. Também se dispôs a buscar pesquisadores que desenvolvam estudos sobre os fitocidas na Fiocruz e universidades. Os fitocidas são substâncias orgânicas que fortalecem o sistema imunológico, aumentando os linfócitos - incluindo as células exterminadoras naturais NK, que combatem as células cancerígenas.
Outro apontamento feito pelo grupo foi de incorporar o banho de floresta nas atividades oferecidas pelo FMA, na perspectiva do campo de cuidado, principalmente focado na saúde mental. Na avaliação dos participantes, neste primeiro momento, a inclusão de alguns instrumentos usados no banho de floresta, como lupas que aguçam a visão, durante as trilhas realizadas com os estudantes, poderá enriquecer a vivência sensorial e aprofundar a conexão com o ambiente natural. “O objetivo é que as pessoas possam escutar e sentir mais a floresta. Acredito que em um curto espaço de tempo e com aprofundamento da prática conseguiremos trazer isso para o nosso campo de ações”, destacou Ricardo.
Assista o vídeo da roda de conversa.