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Terapias avançadas e acessíveis


25/09/2024

Camile Giaretta Sachetti e Mario Moreira*

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Estamos ingressando em uma nova fronteira do conhecimento, na qual o enfrentamento das doenças crônico-degenerativas, associadas ao aumento da expectativa de vida, se torna uma prioridade inegável. Muitos dos atuais medicamentos para câncer, por exemplo, estão sujeitos a falhas, recidivas e efeitos colaterais indesejados, como cardiotoxicidade e nefrotoxicidade. No entanto, com o advento das terapias biológicas e, mais recentemente, das terapias avançadas, estamos testemunhando uma verdadeira revolução: a medicina está se tornando cada vez mais personalizada, com escala menor, porém altamente complexa e especializada.

O potencial transformador das terapias avançadas é inegável. As pesquisas clínicas atuais exploram o uso dessas terapias em uma variedade de condições, que vão desde tumores sólidos até doenças como diabetes, doenças cardiovasculares e a doença de Alzheimer. Mas quem tem acesso a essa revolução da medicina?

Atualmente, essas tecnologias são extremamente caras e com acesso disponível para poucos. No Brasil, um estudo encomendado pela Fiocruz revelou que nos próximos cinco anos, os custos de produtos relacionados a terapias gênicas e de CAR-T poderão variar entre R$19 bilhões e R$72 bilhões. A cifra representa um significativo comprometimento do orçamento farmacêutico anual do SUS, especialmente diante da perspectiva de aumento das ações judiciais relacionadas ao acesso a essas terapias.

No entanto, o Brasil é um dos poucos países no mundo com potencial para se apropriar dessa revolução na medicina para a população de forma gratuita, pelo SUS. Isso porque o país tem a vantagem de dispor de instituições públicas, como a Fiocruz e o Instituto Butantan, que já têm as bases científico-tecnológicas e de produção necessárias para disponibilizar terapias avançadas, especialmente aquelas de natureza gênica e celular.

Outro ponto crucial para o avanço dessas terapias no país seria dispor de serviços de saúde altamente especializados, a exemplo do nosso Instituto Nacional do Câncer (INCA). Fiocruz, Instituto Butantan e Inca já têm parcerias estabelecidas para a produção dessas terapias e a condução de ensaios clínicos. O cenário também parece promissor com a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), lançada pelo Governo Federal ainda em 2023. Mas é hora de requalificar as instituições públicas para darmos conta desse desafio.

Precisamos que outros parceiros, sejam eles públicos ou privados, sejam incorporados à estratégia do país ao longo do processo, contribuindo para a formação de uma rede de colaboração forte e diversificada.

Estamos falando de uma abordagem estratégica que inclua investimentos em infraestrutura, estímulo à pesquisa e desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e parcerias extra-muros; implementação de programas de formação na área, além do estabelecimento de parcerias locais para produção.

Além dos marcos político e regulatório, é crucial promover o diálogo entre os órgãos governamentais e colaborar com o setor privado, incentivando investimentos em inovação e facilitando o acesso ao mercado por meio de parcerias público-privadas e encomendas tecnológicas.

O futuro da saúde pública está sendo moldado hoje em velocidade nunca antes presenciada, e nós, gestores das instituições de referência nesse país, temos que estar engajados e comprometidos em garantir que seja um futuro de esperança para todos.

*Mario Moreira é presidente da Fiocruz;
Camile Giaretta Sachetti é assessora especial da Presidência da Fiocruz.

O artigo foi originalmente publicado no jornal O Globo em 20/9/2024.

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