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EPSJV/Fiocruz reúne centenas de estudantes na 1ª Jornada Nacional de Iniciação Científica do Provoc


27/08/2024

Julia Neves (EPSJV/Fiocruz)

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A Escola Politécnica recebeu, no dia 20 de agosto, estudantes de diversos estados do Brasil para a 1ª Jornada Nacional de Iniciação Científica da Rede Provoc Luiz Fernando da Rocha Ferreira da Silva. O evento reuniu cerca de 200 estudantes, de diversos estados do país, que participam do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz. 

A mesa de abertura do evento contou com a presença de Cristina Araripe, coordenadora de Divulgação Científica da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz; Anamaria Corbo, diretora da EPSJV; Cláudio Gomes, coordenador do Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica da EPSJV; Ronald dos Santos, secretário Nacional da Juventude; Bruna Brelaz, presidente do Conselho Nacional da Juventude; Juana Nunes, diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e Lavínia Porciúncula, gestora do Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Para Cláudio Gomes, a Jornada é a culminância de um longo trabalho. “A Escola Politécnica tem 39 anos e o Provoc tem 38 anos, então, é um acúmulo de trabalho e de experiência de muitos anos”, comparou, um pouco antes de citar o conto “Juventude”, do escritor inglês Joseph Conrad: “Ele nos provoca ao dizer que juventude é esse imperativo de apropriação da vida, é essa gana, é força”.

Bruna Brelaz parabenizou à Escola Politécnica e à Fiocruz por permitir que estudantes do Ensino Médio construam e participem da Agenda de Iniciação Científica. Para ela, juventude e Ciência e Tecnologia precisam andar juntas. “Esse evento é importante para que possamos provocar, no contexto das políticas públicas de juventude e de educação, a possibilidade de ampliar os processos de acesso à Ciência e Tecnologia”, comentou, acrescentando: “Se nós queremos construir uma perspectiva de um Brasil que seja desenvolvido, soberano, que proteja o meio ambiente e consiga voltar a crescer, não é possível pensar nesse país sem juventude”.

Em sua fala, Ronald dos Santos apresentou alguns dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, que mostravam que, na época, o Brasil tinha 45 milhões de jovens. “É muito distante do que imaginávamos. Esse dado demonstra que a população está envelhecendo, na medida em que a média etária da população, em 2010, era de 29 anos e, em 2022, era de 35 anos. Ou fazemos algo agora para o processo de desenvolvimento ou nosso país poderá ser condenado a um processo de subdesenvolvimento ad eternum. As respostas precisam ser dadas agora, pelos institutos, pelo Governo Federal...”, apontou.  E ponderou: “Nada disso será suficiente se não tivermos a juventude motivada para que essas descobertas se transformem em ações pensando no desenvolvimento do nosso país”.

Na visão de Lavínia Porciúncula, os programas de Iniciação Científica são importantes porque trabalham no início da cadeia de pesquisa. “Favorecem a continuidade dos estudos, trazem uma mudança de perspectiva de futuro, facilitam a permanência desses jovens na escola e os qualificam. O Provoc mostra aos jovens que eles podem ter uma carreira profícua, bacana, nas áreas de Ciência e Tecnologia”, enfatizou.

Juana Nunes destacou que a escola pública faz pesquisa e pode contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. “Sem esse trabalho, o país não chega aonde deve chegar. Fazemos ciência para mudar a vida das pessoas”, afirmou, se direcionando aos jovens da Rede Provoc: “Vocês são o futuro da ciência e é por isso que queremos ampliar esse trabalho para que todo jovem de escola pública brasileira tenha a mesma oportunidade de ser cientista”.

Anamaria Corbo destacou a necessidade de maiores investimentos no setor público. “Precisamos investir na escola pública, na saúde pública, na ciência e tecnologia públicas. Precisamos entender a realidade que estamos e transformar o país, que é um dos mais desiguais do mundo. A educação pública é a mais democrática possível. Precisamos de mais mulheres na ciência e do povo preto na educação pública de qualidade. Porque só assim mudaremos o nosso país”, ressaltou.

Para encerrar a mesa de abertura, Cristina Araripe, que já atuou como coordenadora do Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica da EPSJV e também do Provoc, falou sobre a certeza de todo o caminho ter valido a pena ao ver os jovens presentes no auditório. “Não sabíamos o caminho, mas fomos construindo. Que bom que todas as direções dessa escola sempre acreditaram que vale a pena o investimento no Provoc. Claro que recurso é importante, mas não é só ele, precisamos que pessoas que vão chegando acreditem nessa ideia. E tem dado certo”, concluiu.

Lançamento do novo site 

Um dos destaques da programação foi o lançamento do novo site do Observatório Juventude, Ciência & Tecnologia (OJC&T). Criado em 2010, o OJC&T tem como objetivo mapear, sistematizar, analisar e difundir informações sobre juventude, educação, ciência e tecnologia. Desde 2011, o site do Observatório atua como uma plataforma para a divulgação de pesquisas, integração de experiências e valorização da iniciação científica na educação básica.

Cristiane Braga, que coordena a Rede Provoc e o OJC&T, em conjunto com Rosa Neves e Telma Frutuoso, falou um pouco do histórico da construção do Observatório. “É tudo fruto de um trabalho coletivo e nada disso faria sentido se não tivéssemos todas as pessoas envolvidas. O OJC&T é onde ciência e juventude se encontram”, afirmou Cristiane. 

Rosa apresentou a nova versão do site. Ela contou que, em 2018, a ideia era ter uma nacionalização do Provoc, expandindo para outras regionais da Fiocruz, e que com a pandemia de covid-19, essa iniciativa se mostrou ainda mais necessária. “Diante de tanto negacionismo e questões que precisam de respostas científicas, o cenário nos demandava fortalecimento da Iniciação Científica no Ensino Médio. E mais do que nunca, dobramos nossos esforços e nos motivamos a levar adiante a nacionalização da Rede Provoc e o Observatório”, lembrou.  Rosa falou ainda sobre o que o usuário pode encontrar no site: “Damos foco no Provoc, mas também falamos sobre outras iniciativas de Iniciação Científica no Ensino Médio. No site temos ainda pesquisas, publicações, vídeos e notícias”.

Telma Frutuoso concluiu a mesa do lançamento com alguns agradecimentos aos que participaram do projeto. “É um sonho realizado dar continuidade a esse Observatório. Não fazemos nada sozinho. Queria fazer um agradecimento especial a todos os envolvidos na reconstrução do nosso site”, finalizou.

Políticas para juventude e Iniciação Científica no Ensino Médio

Em seguida, aconteceu um painel para debater o atual contexto das políticas públicas para a juventude no Brasil e pensar sobre Iniciação Científica no Ensino Médio, com a socióloga Helena Abramo; e o representante da secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, Adriano de Oliveira.

André Sobrinho, coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, que mediou o painel, destacou duas legislações que orientam a política de juventude: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Estatuto da Juventude. "Nesse momento de reconstrução de políticas e debates em torno desse segmento, é fundamental que tenhamos uma atualização dos avanços e desafios em torno das políticas de juventude”, ressaltou.

Em sua apresentação, Helena fez um panorama das políticas públicas brasileiras de juventude, iniciando com uma explicação sobre o que são: “São as ações do Estado que se traduzem em serviços, programas, e que têm a função de garantir os direitos dos cidadãos com as suas singularidades. Então, por exemplo, a escola é uma política pública, o Provoc é uma política pública”.

Segundo Helena, os direitos definidos na Constituição Brasileira são universais, mas para chegar efetivamente nas pessoas precisam ser moldados para as especificidades concretas das pessoas que compõe a população. “As políticas vão sendo construídas a partir das transformações da realidade social e de reinvindicações que as populações fazem em relação aos seus direitos. A política de saúde é para todos, o SUS é para todos, mas a saúde da mulher tem especificidades, a saúde das crianças também. Então, as fases da vida são uma dessas especificidades que as políticas públicas devem atender”, apontou, fazendo o recorte da juventude: “O ECA foi um grande avanço, mas, ao mesmo tempo surge a percepção de que ele não dava conta de todos os processos e necessidades que os jovens estavam vivendo. Porque na sociedade moderna atual os processos de formação, de proteção, que são necessários para esse momento antes da entrada na vida adulta, não terminam aos 18 anos. E assim foi colocada a necessidade de se ter também políticas para jovens”.

Em seguida, foi a vez de Adriano de Oliveira, que apresentou algumas discussões da sua tese de doutorado sobre o Pibic-EM na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). De acordo com ele, a institucionalização da Iniciação Científica tem criado possibilidades de qualificar a relação entre a pós-graduação stricto sensu, a graduação e a Educação Básica. “A Iniciação Científica é percebida como elemento positivo e pertinente no nível da promoção antecipada das carreiras em ciência. Desde o ensino médio, esse estudante já é mobilizado a pensar na carreira científica. Pode-se também nesse processo de articulação e de pesquisa da Universidade no campo da Educação Básica se estruturar processos de análise que ajudem a escola a pensar na formação de professores e na própria qualificação de seu Projeto Político Pedagógico” apontou.

Adriano destacou que as experiências com a escrita e pesquisa podem ser frustrantes e complexas, o que, segundo ele, exige dos orientadores do Programa um apoio maior aos estudantes. “É preciso valorizar o diálogo, devolver os textos com comentários o mais rapidamente possível, manter-se atualizado com o tema em estudo, ajudar a delimitar o tema da pesquisa, ter e respeitar os encontros agendados e ter tempo disponível para orientação individual e coletiva”, citou.

Na parte da tarde, aconteceram as apresentações dos projetos de pesquisa em posters, realizados pelos estudantes, na Tenda da Escola Politécnica.

Provoc

O Programa de Vocação Científica (Provoc) é uma proposta educacional de Iniciação Científica (IC) na área da saúde para estudantes do Ensino Médio. O Programa foi criado em 1986 pela Fiocruz e, desde então, é coordenado pela EPSJV. A iniciativa se expandiu em 2022, formando a Rede Provoc Luiz Fernando da Rocha Ferreira da Silva, que agora abrange nove unidades da Fiocruz fora do Rio de Janeiro - Amazonas, Bahia, Brasília, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Rondônia.

O Provoc é dividido em duas etapas: Iniciação e Avançado. Na Iniciação, com duração de um ano, os alunos se familiarizam com as principais técnicas e objetos de pesquisa de Ciência e Tecnologia em Saúde. Na etapa Avançado, com duração de dois anos, o estudante desenvolve um subprojeto de pesquisa com o seu orientador, passando por todas as etapas de execução de um projeto de pesquisa.

*A Jornada foi realizada como uma atividade de greve da Fiocruz, entendendo mais uma vez a importância desta instituição para o fortalecimento da ciência e da pesquisa no Brasil.

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