17/07/2024
Clara Rosa Guimarães (CSP)
O editorial da nova edição da revista Cadernos de Saúde Pública (CSP), assinado por Cláudia Medina Coeli, ex-coeditora-chefe do periódico, traça a trajetória de evolução da pesquisa em Saúde Coletiva. Iniciando no ano de 1985, quando o primeiro fascículo de CSP foi publicado, e comentando contextos internacionais e nacionais, Medina reflete sobre o uso de dados secundários e avanços em ciência de dados populacionais. A ex-coeditora-chefe sublinha a contribuição vital de CSP na disseminação de boas práticas e inovação tecnológica. “Coerentemente com sua missão, mostrou-se um veículo crucial para a circulação de ideias e métodos desse campo”, conclui Medina. A CSP é uma publicação da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
O Questões Metodológicas deste mês apresenta uma metodologia para estimar a incidência de câncer no Brasil. A partir de dados dos registros de câncer de base populacional e do Sistema de Informações sobre Mortalidade, foram estimados 506.462 novos casos de câncer no Brasil em 2018. Os tipos de câncer mais prevalentes foram os de mama feminina e próstata, com variações regionais significativas. “Esforços devem ser feitos para garantir a continuidade, a cobertura e a qualidade da informação dos registros de câncer de base populacional”, concluem os autores.
O artigo comemorativo CSP em 40 anos de publicação científica analisa a trajetória do periódico, identificando os marcos significativos desde sua criação e projetando perspectivas futuras diante dos desafios contemporâneos da publicação científica na área da Saúde Coletiva. Escrito pelas coeditoras-chefe de CSP, o texto apresenta os três grandes períodos da revista (início, consolidação e diversidade) e destaca a participação de figuras-chave que colaboraram nestas quatro décadas de publicação ininterrupta. São ressaltados também os princípios do periódico, como o compromisso com a qualidade, a inovação e a Ciência Aberta: “Ao mesmo tempo em que mantém esses princípios, bases da credibilidade do periódico, a revista se adaptou, respondendo às necessidades de seu tempo e da Saúde Coletiva”, reforçam as editoras.
Considerando a importância da percepção subjetiva da saúde diante de um quadro de instabilidade econômica, migratória e social, o estudo Autoavaliação de saúde e desigualdades sociodemográficas entre adultos venezuelanos: um estudo com base na Pesquisa Nacional de Condições de Vida (ENCOVI 2021) analisa os fatores demográficos e socioeconômicos associados à autoavaliação da saúde não positiva entre adultos venezuelanos. Resultados apontam prevalência de 17,8% para autoavaliação de saúde regular/ruim, com mulheres apresentando 35% mais chance de uma autoavaliação negativa em comparação aos homens. Os achados põem em dúvida o paradigma teórico da autoavaliação de saúde, indicando que, provavelmente, outros fatores, como a cultura, sejam influentes, apesar de subestimados na literatura.
O artigo A resposta à COVID-19 na Argentina, no Brasil e no México: desafios à coordenação federativa das políticas de saúde verifica a resposta à pandemia em três países latino-americanos, destacando características e condicionantes das ações à crise sanitária. Constatou-se que, apesar dos sistemas de saúde distintos, todos sofreram com financiamento insuficiente e desigualdades. A Argentina coordenou inicialmente medidas centralizadas, enquanto o Brasil enfrentou uma coordenação limitada pelo negacionismo presidencial. No México, a relutância inicial em adotar restrições e a lentidão na vacinação foram desafios críticos.
Em meio à maior crise de imigração recente na América Latina, esta Comunicação Breve avalia a qualidade de vida de imigrantes venezuelanos no Brasil durante a pandemia da Covid-19. A hipótese foi de que o período pandêmico agravou a vulnerabilidade dos imigrantes e, consequentemente, sua percepção sobre qualidade de vida: integração no país de acolhimento, com vários preditores físicos, psicológicos, sociais e ambientais. O estudo encontrou um escore médio de qualidade de vida de 44,7 em uma escala de 0 a 100, com os domínios físico e ambiental apresentando as melhores e piores pontuações, respectivamente. A pior qualidade de vida foi associada ao sexo feminino, não viver com companheiro, menor renda familiar e discriminação por nacionalidade.