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CD Fiocruz: confira a cobertura da reunião de maio


04/06/2024

David Barbosa e Leonardo Azevedo (CCS)

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O Conselho Deliberativo da Fiocruz se reuniu presencialmente nos dias 23 e 24 de maio, na Residência Oficial, no Campus Manguinhos, durante as comemorações dos 124 anos da Fundação. A reunião teve início com a tradicional fala do presidente Mario Moreira, com os principais destaques da instituição no mês de maio.  

Os conselheiros debateram temas como: negociações com o governo para aprimoramento da carreira e reposição salarial; Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde; ações coordenadas na emergência no Rio Grande do Sul e para o enfrentamento da dengue e outras arboviroses; e proposta de comissão dos 125 anos da Fundação. Outro momento importante do CD foi a homenagem ao ex-presidente, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris) e professor emérito da Fiocruz, Paulo Buss.  

Pauta corporativa 

O Conselho Deliberativo debateu a primeira proposta de tabela remuneratória e de mudanças nas carreiras dos servidores da Fiocruz, oferecida pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), em maio. As falas iniciais foram conduzidas pelo presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Paulo Garrido, e pelo diretor-executivo, Juliano Lima. 

Garrido informou que uma contraproposta será debatida pelos trabalhadores em dois grupões e deliberada em assembleia no início de junho. “Nos últimos nove anos, não conseguíamos discutir nenhum avanço, porque era só destruição. É uma vitória termos o direito de ocupar a rua, fazer greve, cobrar, rejeitar propostas”, disse. 

O CD debateu a importância do empenho dos dirigentes na defesa das pautas dos trabalhadores. O Conselho também decidiu pelo envio de carta às autoridades do Executivo envolvidas diretamente no processo de negociação, bem como pela intensificação das ações da Comissão estabelecida pelo CD para defesa dos interesses dos trabalhadores junto ao Legislativo e ao Judiciário. Leia a íntegra da carta enviada

O presidente Mario Moreira pediu a todos os dirigentes que deem atenção especial e apoiem as mobilizações no interior de cada unidade. Além disso, reafirmou o compromisso de atuar em todas as frentes para uma adequada valorização dos trabalhadores da Fiocruz e pelo aprimoramento do plano de carreiras. 

Homenagem Paulo Buss 

No dia 24, véspera do aniversário da Fundação, o CD homenageou o ex-presidente, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris) e professor emérito da Fiocruz, Paulo Buss. O pesquisador recebeu uma placa de agradecimento por seus 52 anos de serviço prestados à instituição. A cerimônia surpresa contou com a presença dos ex-presidentes da Fiocruz Akira Homma, Carlos Morel e Paulo Gadelha; do professor emérito Arlindo Fábio Gómez de Sousa; e de trabalhadores do Cris.  

Em 2024, Buss completa 75 anos de idade — ocorrerá, portanto, a aposentadoria compulsória. “A minha dedicação à Fiocruz foi uma dedicação amorosa. Ela foi a minha única instituição. Foi ela quem me ensinou a ser criativo, responsivo, responsável. Receber essa homenagem neste dia é muito especial. Nosso orgulho em ser Fiocruz é mais do que justificado desde a nossa criação, em 1900.” 

O presidente Mario Moreira destacou o papel de Buss no processo de internacionalização da instituição e frisou que o pesquisador continuará atuando junto à Fundação. “Paulo, por uma questão legal, teve que mudar sua relação formal com a Fiocruz. Está nesse processo de transição sem se afastar um milímetro sequer das funções”, explicou. “Esta homenagem é um presente que estamos retribuindo. A gente conta muito com o Paulo, principalmente nesse processo de internacionalização, que ganha muito impulso com ele.” 

A trajetória de Buss foi rememorada em uma apresentação de fotos organizada pelo Gabinete da Presidência. O ex-presidente relembrou momentos importantes de sua gestão, de 2001 a 2008, como a inauguração do Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM) de Farmanguinhos, em 2005; e a primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Fiocruz, em 2004. 

O professor emérito Arlindo Fábio Gómez de Sousa, que foi chefe de Gabinete na gestão de Buss, leu um texto autoral em homenagem ao amigo. “Lembro-me de quando fui ‘assediado’ pelo Paulo com o golpe baixo da amizade para assumir a chefia de Gabinete da Presidência. Eu já estava aposentado. Foram oito anos de muita entrega à Fundação e total companheirismo”, recordou.  

O ex-presidente e atual coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, Paulo Gadelha, que sucedeu o homenageado na Presidência, pontuou a contribuição de Buss para a instalação de um clima mais afetivo e criativo na Fundação. “Esse aspecto da afetividade entrou no espírito da Fiocruz. O Paulo marcou profundamente não só aquilo que está institucionalizado, mas uma visão da instituição e a capacidade de integrar dimensões totalmente novas.” 

O ex-presidente e assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, Akira Homma, que esteve à frente da Fundação de 1989 a 1990, destacou a integração promovida por Buss durante sua gestão: “Paulo faz as pessoas trabalharem juntas. Mostrava sempre ideias inovadoras e propostas interessantes para a instituição. Essa integração das questões científicas e sociais à parte tecnológica, devemos muito à visão maior que ele trouxe.” 

O ex-presidente e coordenador-geral do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS), Carlos Morel, que dirigiu a Fundação de 1992 a 1997, recordou o papel de Buss na criação do Canal Saúde e da Editora Fiocruz, na década de 1990, e ressaltou a parceria entre os ex-presidentes. “Uma vez, numa visita de uma delegação mexicana, me perguntaram como conseguimos manter os ex-presidentes juntos e cooperantes. Respondi que a Fiocruz é um pouco diferente. Trabalhamos muito bem juntos. Paulo contribuiu muito para a Presidência.” 

Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde 

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, apresentou a proposta de escopo e estrutura do Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde. O objetivo é acelerar ações que favoreçam o desenvolvimento tecnológico por meio de governança do sistema integrado de recursos tecnológicos da Fiocruz e parceiros.  

De acordo com Krieger, a Fiocruz passa por um momento singular. "É um momento de amadurecimento de uma série de infraestruturas que vem sendo incorporadas na Fiocruz nos últimos anos e essas infraestruturas refletem uma questão que é muito importante para a Fiocruz, que é o seu relacionamento com a produção e os insumos para a saúde".  

Segundo ele, esse conjunto de infraestruturas e o momento político apontam uma responsabilidade da Fundação em organizar e tentar coordenar a relação com o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis). 

Durante a apresentação, os conselheiros conheceram os desafios e oportunidades para o Ceis, além da proposta de diretrizes estratégicas para a gestão e governança do programa. Krieger ressaltou que a Fiocruz é o maior fornecedor do Ceis para o SUS. "É fundamental o alinhamento desse programa com a estratégia nacional, com os desafios que estão sendo colocados pelo Ministério da Saúde e pelo SUS, e que muitos desses desafios precisam de atuação muito forte do Ceis", afirmou.   

Comissão dos 125 anos da Fiocruz 

A chefe de Gabinete da Presidência, Zélia Profeta, apresentou a proposta inicial de comissão dos 125 anos da Fiocruz, que tem como base a discussão e os desafios orientadores do aniversário de 120 anos da Fundação, celebrado em 2020. Ela ressaltou que os desafios continuam atuais, na perspectiva de pensar como a Fiocruz se organiza para o futuro.  

Zélia ressaltou que o objetivo era ouvir as contribuições dos conselheiros, que sugeriram a inclusão e reedição de alguns temas de áreas de atuação da Fundação. Para o presidente Mario Moreira, "os direcionadores devem ser pensados na perspectiva do que queremos reafirmar enquanto instituição do Estado Brasileiro, projetados numa série de eventos: científicos, culturais, artísticos". O assunto será discutido novamente no CD. 

Rio Grande do Sul  

Os pesquisadores Christovam Barcellos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), e Joyce Mendes de Andrade Schramm, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), apresentaram um balanço das ações coordenadas da Fiocruz no enfrentamento ao desastre climático do Rio Grande do Sul. A Fundação tem atuado em parceria com os comitês de Operações Emergenciais (COE) dos governos federal e estadual.  

Christovam destacou que a atuação com o COE nacional está concentrada no suprimento de insumos de saúde, como vacinas, kits diagnósticos e medicamentos. O pesquisador também ressaltou a importância dos dados sobre territórios vulneráveis e unidades de saúde afetados pelas enchentes, que vêm sendo produzidos pelo Icict.  

A longo prazo, a Fiocruz planeja atuar no eixo do ensino, por meio de cursos sobre manejo clínico e epidemiologia de doenças infecciosas, como leptospirose e hepatite. As formações serão realizadas pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI).  

“Existe uma rede de voluntários muito grande, mas que nem sempre tem a capacitação necessária para lidar com certos problemas”, afirmou Christovam. “Também estamos montando um esquema de teleconsultoria. Os profissionais de saúde com dúvidas, principalmente em doenças infecciosas, telefonam para uma central da Fiocruz e voluntários do INI tiram essas dúvidas.”  

Joyce frisou a atuação da Rede de Saúde Única no Rio Grande do Sul, vinculada à Fiocruz. Entre as ações desenvolvidas, está o projeto Comunicação em Rede, realizado em parceria com universidades. A iniciativa trabalhará em três eixos: produção de podcasts sobre clima e biodiversidade; comunicação de risco; e enfrentamento às fake news. A Rede também está montando um repositório com links, dados e informações sobre a tragédia e estuda a possibilidade de mapear as redes de solidariedade atuantes no estado.  

A chefe de Gabinete da Presidência, Zélia Profeta, pontuou que a Fiocruz tem atuado, neste primeiro momento, de acordo com as demandas do Ministério da Saúde e do governo estadual. “Paralelamente, também estamos pensando como será o médio e o longo prazo”, informou. “A ideia é termos uma proposta estruturante para enfrentar desastres a partir do modelo do Rio Grande do Sul.”  

Arboviroses  

A coordenadora de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Tânia Fonseca, atualizou os conselheiros sobre o cenário das arboviroses. Tânia chamou a atenção para o aumento dos casos do tipo três da dengue (DEN-3) em diversos países das Américas, inclusive no Brasil. Segundo a coordenadora, o aumento dos casos deste tipo é alarmante para a saúde da população brasileira: como o país não registrava casos de DEN-3 desde 2010, a imunidade tende a ser mais baixa.    

Fonseca lembrou que a Fundação tem ampliado a capacidade diagnóstica e atuado em iniciativas de ensino, por meio de cursos disponibilizados no Campus Virtual e na Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS) e de seminários sobre arboviroses. Até o momento, foram realizados três encontros, no Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. O próximo deverá acontecer em Minas Gerais.   

“O que nos torna privilegiados é a nossa capacidade de respondermos em diferentes cenários. Temos hoje 50 laboratórios de referência, cinco laboratórios de nível de biossegurança três (NB3) e um de nível de biossegurança animal três (NBA3), todos funcionando. Essa possibilidade de articular diferentes áreas de conhecimento põe a Fiocruz em uma posição de destaque”, frisou.  

Atuação da Fiocruz na pandemia 

Na tarde do dia 23, os integrantes do Conselho Deliberativo assistiram à palestra da pesquisadora Simone Kropf, da Casa de Oswaldo Cruz (COC), sobre a atuação da Fundação no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Realizado no auditório do Museu da Vida e aberto à comunidade Fiocruz, o evento relembrou as principais ações da instituição no combate à doença, desde as primeiras recomendações sobre uso de máscaras, em março de 2020, até o início da produção da vacina, em julho de 2021.  

A palestra nasceu do projeto de pesquisa O tempo presente na Fiocruz: ciência e saúde no enfrentamento da Covid-19, iniciado por Simone ainda em 2020, com o objetivo de registrar e analisar a atuação institucional durante a pandemia. A apresentação da pesquisadora incluiu registros fotográficos de grandes marcos, como a inauguração do Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19, em maio de 2020, e de momentos cotidianos da instituição durante o período pandêmico, como capturas de tela de reuniões on-line. Ela relembrou a participação de pesquisadores e gestores em reportagens da época.  

“Naquele contexto de crise, a Fiocruz acabou sendo uma instância de ancoragem do tempo”, afirmou. “A fala dos profissionais da Fiocruz serviu para conferir algum sentido para aquela experiência de tempo tão singular. É muito interessante o desafio que estava sendo colocado: combinar a resposta às expectativas da sociedade, de respostas muito rápidas, com a preocupação de não atropelar o tempo da própria ciência.”   

Ao fim do evento, o presidente Mario Moreira destacou que a instituição foi capaz de avançar mesmo em um cenário de dificuldades e incertezas. “Nós não recuamos um milímetro. Fomos muito além daquilo que seria esperado e assumimos responsabilidades muito importantes. Isso faz parte do nosso destino, da nossa vocação”, concluiu.  

Premiação  

Após a palestra, os conselheiros participaram da cerimônia de premiação dos vencedores do edital para a construção do Memorial Covid-19 Fiocruz - Ciência e Saúde. O monumento em homenagem às vítimas da doença será construído no Campus Manguinhos, em uma área de 3.380 m², próxima à portaria da Avenida Brasil.   

88 equipes submeteram projetos arquitetônicos e paisagísticos ao concurso, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ). A proposta vencedora foi de Paulo José Tripoloni, Pablo Mora Peludo, Gabriel Costa Dantas e Fernanda Macedo Haddad, de São Paulo. Antes do anúncio, a mesa concedeu menções honrosas a cinco equipes e entregou certificados aos segundos e terceiros colocados.  

Leia a cobertura completa da premiação no Portal Fiocruz

* Fotos: Peter Ilicciev e Luciano Simplicio (CCS)

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