09/04/2024
Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
De segunda até sexta-feira (8 a 12/4) a Fiocruz sedia o Curso Internacional Fiocruz-Rede Pasteur em bioprodução, propriedade intelectual e transferência de tecnologia. No auditório do Pavilhão Rocha Lima, no Campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro, 11 alunos estrangeiros e 7 de diferentes unidades da Fundação discutem temas como pesquisa, desenvolvimento, produção, controle e qualidade, estudos clínicos, questões regulatórias e registro de produtos biológicos. O objetivo não é somente ampliar os conhecimentos, mas também promover uma troca de experiências e o contato entre os participantes, de forma que novas parcerias possam surgir.
O curso tem por objetivo preencher a demanda da Rede Pasteur sobre aspectos fundamentais sobre o desenvolvimento e a produção de produtos biológicos, tecnologias e plataformas de produção (Foto: Pedro Linger)
Os participantes tiveram que passar por uma seleção. No caso dos estrangeiros, a Rede Pasteur fez uma triagem inicial em relação aos documentos exigidos, encaminhando a ficha dos candidatos à Fiocruz para a seleção final. Com isso, foram escolhidos participantes de Tunísia, Bélgica, Irã, Vietnã, Marrocos, Coreia, Nigéria, Argélia, Hong Kong e Uruguai, todos de instituições da Rede Pasteur. Entre os brasileiros, estão profissionais tanto do Rio de Janeiro, quanto do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco) e do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia).
“A Fiocruz foi escolhida para realizar este evento pelo seu ecossistema diverso, uma instituição que tem desde a pesquisa básica até a produção em boas práticas”, explicou o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger. “Isso faz com que a gente possa realmente atuar em diferentes áreas da cadeia de inovação, e é muito importante que o próprio Instituto Pasteur e a Rede Pasteur tenham reconhecido a efetividade desse ecossistema”.
Em vídeo na cerimônia de abertura, o assessor especial da Presidência para a Cooperação com Instituições Francesas, Wilson Savino, contou que o curso surgiu a partir de uma viagem da então presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, hoje ministra da Saúde, à França, em setembro de 2022. Na conversa com a diretora-executiva da rede, Rebecca Grais, surgiu a ideia de a Fundação promover o curso. “É possível que novas colaborações surjam aqui”, disse Savino.
O curso é uma segunda versão do oferecido ao Mercosul no ano passado. Mostra também um envolvimento cada vez maior da instituição na Rede e com o Instituto Pasteur, um relacionamento que vem crescendo cada vez mais. Em fevereiro deste ano, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, foi eleito um dos dois representantes regionais da rede nas Américas. Em maio será inaugurado o Centro Pasteur-Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, no campus da Fiocruz Ceará. E em outubro, a Fundação vai sediar a Reunião Anual da Rede Pasteur, que congrega 33 institutos e que está presente em praticamente em todos os continentes.
Os coordenadores do curso, Marco Alberto Medeiros, assessor de Inovação e Tecnologia e coordenador acadêmico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), e Carla Maia, coordenadora de Gestão e Tecnologia da Fiocruz, explicaram que mais de 40 candidatos se apresentaram, mas apenas 18 foram selecionados. “A ideia é que se promova um intercâmbio de conhecimento, montar uma rede de profissionais que, voltando para seus países, possam passar o que aprenderam aos colegas”, disse Carla.
O curso tem por objetivo preencher a demanda da Rede Pasteur sobre aspectos fundamentais sobre o desenvolvimento e a produção de produtos biológicos, tecnologias e plataformas de produção. Ele busca familiarizar os participantes com os processos envolvidos na produção em larga escala de vacinas e biofarmacêuticos, incluindo desenvolvimentos de mecanismos para imunizantes, aspectos da legislação, propriedade intelectual e transferência de tecnologia.
A coordenadora geral-adjunta de Educação da Fiocruz, Eduarda Cesse, representou a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristiani Machado. Ela destacou que o curso é o fruto do esforço das duas instituições, e que esta semana dará muitos frutos. Vice-diretora de Qualidade em Bio-Manguinhos, Rosane Cuber falou sobre a Política e Regulação de Biológicos no Brasil e no Mundo. A assessora científica de Bio-Manguinhos Elena Caride, por sua vez, apresentou uma linha do tempo do desenvolvimento das vacinas, abordando perspectivas futuras e a necessidade de o mundo estar preparado para desenvolver uma vacina rapidamente em caso de nova pandemia.
Assessor sênior científico de Bio-Manguinhos, Akira Homma abordou as políticas públicas de vacinação e a necessidade de aumentar a cobertura vacinal. “Vacinação não é imunização, porque nenhuma vacina garante 100% de proteção”, explicou. Ele destacou que as fake news envolvendo as vacinas não são novas e que ultimamente “as vacinas saíram da agenda de prioridades não só das autoridades, mas da população. Temos que valorizar as vacinas. Quando a população toda se vacina, temos a possibilidade de imunização. É possível erradicar doenças, como no caso da varíola. A gente consegue isso. Mas não adianta um país só vacinar toda a sua população. Não estamos sozinhos”, destacou.
“Acho que o curso pode me trazer mais informações e experiência na área de transferência de tecnologia, especialmente em rotavírus e pneumococos”, disse a farmacêutica Zahra Sharizadeh, do Instituto Pasteur do Irã, uma das alunas do curso.
O curso segue até sexta-feira no auditório do Pavilhão Rocha Lima e inclui uma visita às áreas de controle e qualidade de Bio-Manguinhos. Ele é um resultado do trabalho conjunto de Bio-Manguinhos, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), VPEIC e Coordenação de Gestão Tecnológica (Gestec), e da própria Presidência, por meio da assessoria de Savino, além de Kathleen Victoir, chefe de Cooperação Científica, Treinamento e de Desenvolvimento de Carreira da Rede Pasteur.