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Nova edição do Radar Saúde Favela discute “negridades e transgeneridades”


07/03/2024

Nathalia Mendonça (Cooperação Social da Presidência)

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A 26ª edição do informativo Radar Saúde Favela, editorado pela Coordenação de Cooperação Social, revela um retrato autobiográfico da comunidade trans brasileira através do debate sobre justiça social, identidade de gênero, políticas públicas e a luta por direitos. O especial também apresenta o processo criativo de imagens a partir da perspectiva decolonial e antirracista. Também são temas desta edição as questões sobre violência armada, racismo e saúde da população negra na Baixada Fluminense. Acesse aqui a revista

Na seção Debates o texto “Nos querem visíveis pela nossa dor, mas exigimos de volta o nosso direito de sonhar: retrato autobiográfico da comunidade trans brasileira” é assinado por Gab Van, homem trans preto, articulador político-social, defensor dos direitos humanos, comunicador e produtor cultural. O autor destrincha um dos dados mais drásticos do dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), publicado em 2022: pelo 14º ano consecutivo, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.  

Gab Van explica que essa taxa não se dá apenas pelos homicídios, mas decorre também de suicídios, negligências, invisibilização, transfobia médica e outras formas de violência que são vivenciadas por essa população. O autor pontua sobre os avanços e desafios relacionados à retificação de nome e gênero em documentos; Lei Maria da Penha aplicada igualmente a mulheres transexuais e travestis; inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS); proteção contra a discriminação; garantia do direito ao uso do nome social e reconhecimento da identidade de gênero; e parâmetros de acolhimento de pessoas LGBTQIAPN+ em privação de liberdade no Brasil.  

Em Memória, seção dedicada ao passado de favelas e periferias, a nova edição do Radar Saúde Favela traz a visão de Cristiane Teixeira da Silva Vicente, moradora da Cidade de Deus, mulher negra engajada na luta antirracista no SUS, enfermeira e doutoranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). O texto “A liberdade de ser infeliz, onde e como queira: dos navios tumbeiros às periferias do Rio de Janeiro” denuncia interseções entre raça, violações de direitos, políticas discriminatórias, barreiras de acesso e marginalização da população periférica. A autora apresenta o contexto histórico dos navios responsáveis pelo tráfico transatlântico de pessoas escravizadas entre os séculos XVI e XIX, ancestralidade, a origem dos territórios de favelas e a vivência de um corpo negro, privado de direitos em espaços inflamados pela violência armada. 

Nesta edição, a seção Ensaios apresenta o resultado dos ensaios fotográficos orientados por Leah Cunha, mulher trans, negra, candomblecista, favelada e diretora artística do Laboratório de Composição de Imagem-Ritual. A partir de uma perspectiva decolonial, a oficina de composição de imagem ministradas por Leah funcionam como um espaço-tempo de cuidado, escuta e expressão estética, que tem como referência as tradições culturais negras vividas na diáspora.  

O coletivo de pesquisadores do laboratório parte da intelectualidade negra brasileira e se aprofundam no espectro das culturas negras, imagens e ritualizações. A pesquisa abrange imagens como fotografias, videografias e performances que são resultado de um processo investigativo e ancestral que a artista vai nomear como Imagem-Ritual.  

Encerrando a 26ª edição, a seção O que tá pegando apresenta o texto “A saúde como um direito historicamente negado à população negra: pensando a realidade da Baixada Fluminense”, das psicólogas Daiane de Souza Mello, Roberta Massot e Vanessa da Silva Pereira. As autoras relacionam as heranças do passado escravocrata, sofrimento e segregação racial com a realidade da Baixada Fluminense - território da região metropolitana do Rio de Janeiro marcado por vulnerabilidades sociais e violações de direitos - e seus impactos na saúde da população negra.  

Sobre o projeto   

O Radar Saúde Favela é um projeto da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz voltado a vigilância popular em saúde nas favelas e periferias dos centros urbanos. O site Radar Saúde Favela, lançado em fevereiro de 2023, reúne as narrativas sobre saúde de moradores, lideranças populares e movimentos sociais. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a saúde em seus territórios a qualquer momento para o e-mail: radarsaudefavela@fiocruz.br. 

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