Aula inaugural sobre os desafios do SUS abre ano letivo da Fiocruz

A Fiocruz promoveu, na quarta-feira (20/3), a aula inaugural do seu ano acadêmico. O evento teve como destaque a palestra C&T e educação: desafios do SUS e da sociedade brasileira, proferida pela reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gulnar Azevedo e Silva. Em sua conferência, ela fez uma explanação sobre a atuação da saúde durante a pandemia de Covid-19, comentou os avanços obtidos em meio a um mar de fake news e a uma avalanche de ideias equivocadas e negacionistas e concluiu apresentando notícias que trazem esperança.

Evento teve como destaque a palestra 'C&T e educação: desafios do SUS e da sociedade brasileira', proferida pela reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gulnar Azevedo e Silva (foto: Pedro Paulo Gonçalves)

O evento começou com a apresentação do Hino Nacional pela orquestra do Instituto Vida Real, organização não governamental presente no Complexo de da Maré desde 2004 que atua em programas e projetos ligados à educação popular e  à empregabilidade de jovens e adultos. Em seguida o grupo interpretou duas composições de Heitor Villa-Lobos: Canto do pajé, que faz parte de sua coleção de cantos orfeônicos, e a canção infantil Rosa amarela. Na sequência, o aluno Marcio cantou A paz (Heal the World), do grupo Roupa Nova.

Em seguida foi formada a mesa de abertura da aula inaugural, composta pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Paulo Garrido, a coordenadora-geral de Educação da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristina Guilam, a chefe da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz), Hilda Gomes, e a coordenadora de Ensino da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz do Rio de Janeiro (APG-Fiocruz/RJ), Lea de Freitas Amaral. Com a mesa formada houve a exibição de um vídeo sobre o Centro de Apoio ao Discente da Fiocruz.

A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado, lembrou que a Fiocruz é uma instituição não apenas integrante, mas também comprometida com o SUS e também com a defesa da ciência, da educação pública e da democracia. Dirigindo-se aos novos estudantes da Fundação, ela disse que “o Brasil sofreu imensos retrocessos e enfrentou queda de investimentos nessas áreas nos últimos anos. Mas felizmente vemos um esforço de retomada de políticas públicas que buscam a inclusão e o combate à desigualdade social”.

Mesa de abertura da aula inaugural foi composta pelo presidente da Fiocruz e outros representantes da instituição (foto: Pedro Paulo Gonçalves)

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, afirmou que o tema da aula inaugural dialoga com o tempo presente da Fundação, que tem discutido a educação para o fortalecimento do SUS. “A Fiocruz conta hoje com 30 áreas de pesquisa, 300 linhas de pesquisa, 500 grupos de pesquisa e 49 cursos de pós-graduação. Temos cerca de 4 mil estudantes presenciais e 4 mil publicações científicas. Temos uma grande dimensão tecnológica e somos uma potente organização farmacêutica. Isso nos dá forças para ajudar o país a enfrentar os urgentes desafios de saúde pública nacionais. Vivemos uma série de crises sanitárias, climáticas e ambientais, ao mesmo tempo que a população envelhece e o modelo de desenvolvimento gera concentração de renda e pobreza. Costumo afirmar que as doenças, em geral, têm CEP e raça”.

Em seguida, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, deu início à sua palestra. Gulnar disse que decidiu ser médica aos 16 anos, quando pela primeira vez visitou o Castelo da Fiocruz. Ela fez um histórico das ações de enfrentamento da Covid-19 desde a Frente pela Vida, de junho de 2020, que levou à Marcha pela Vida e ao plano de combate à pandemia, em julho do mesmo ano, com a participação de 14 associações do campo da saúde.

“O movimento se ampliou em direção ao setor da educação, o que permitiu um trabalho conjunto entre as áreas. Em 23 de outubro de 2020 foi lançado o manifesto Ocupar Escolas, Proteger Pessoas, Recriar a Educação, que buscou fortalecer os laços com as comunidades escolares, reabrindo e ocupando espaços institucionais, recriando a educação como construção de valores, espaço de criatividade, de formação cidadã e da promoção de uma cultura de paz”, destacou a reitora.

Ela também comentou sobre o lançamento do documento Saúde, Educação e Assistência Social em Defesa da Vida e da Democracia, em março de 2021. E citou os impactos da pandemia, como a sobrecarga do SUS, o aumento da demanda de proteção social, a dificuldade da oferta de serviços, a piora nos indicadores da educação básica, superior e fundamental, o agravamento do desemprego, da fome e da miséria.

“A Fiocruz tem colaborado bastante com o Brasil e é um exemplo para o mundo”, afirmou Gulnar (foto: Pedro Paulo Gonçalves)

Gulnar abordou o aumento crescente do número de casos de câncer. “Mantendo-se as tendências recentes, o câncer deve ultrapassar as doenças cardiovasculares como a principal causa de morte prematura na maior parte dos países ainda neste século”. O momento, o câncer lidera em 57 países e as doenças cardiovasculares em 70 (incluindo o Brasil).

A reitora discorreu sobre a resolução do Conselho Nacional de Saúde a partir das deliberações da 17ª Conferência Nacional de Saúde, em 2023. Entre as prioridades ela destacou as seguintes propostas: aumentar o orçamento do SUS, duplicando os recursos com a soma investimentos da União, dos estados e municípios para totalizar o equivalente a 6% do PIB para a saúde pública; realizar uma reforma tributária que inclua a taxação equânime de renda, patrimônio e riqueza, além da taxação de produtos nocivos à saúde; ampliar a participação da União no gasto público em saúde; e garantir o Complexo Econômico e Industrial da Saúde como política de Estado.

Gulnar disse que é preciso estar atento às ameaças ao SUS e deu como exemplo a privatização do Sistema Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido, por meio da entrada de empresas com fins lucrativos a partir de 2013. “A terceirização aumentou a mortalidade por causas evitáveis em consequência da piora dos serviços”, pontuou.

No entanto, a reitora afirmou que há boas notícias recentes na saúde. Entre elas, listou a Lei do Mais Médicos, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023, criando 15 mil novas vagas, a liberação de R$ 151 milhões para incentivar a vacinação, a ampliação em 30%, pelo MS, do custeio do Samu 192, a formação, também pelo MS, 180 mil agentes de saúde e de endemias, o crescimento em 29% da participação feminina na ciência brasileira nos últimos 20 anos, e o lançamento, pela Fiocruz, do Observatório do SUS, para enfrentar os desafios da saúde pública brasileira. “A Fiocruz tem colaborado bastante com o Brasil e é um exemplo para o mundo”, concluiu Gulnar.

Ao final da aula inaugural, uma parte dos presentes recebeu brindes. Vales colocados nos braços de algumas cadeiras deram livros da Editora Fiocruz como presente. 

Gulnar Azevedo e Silva é graduada em medicina e mestra em Saúde Coletiva pela Uerj e doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP). Foi coordenadora de prevenção do Instituto Nacional de Câncer (Inca) entre 2003 e 2007. É professora do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS) da Uerj desde 2000, onde foi diretora entre 2016 e 2020. Foi presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) de 2018 a 2021. Em novembro de 2023 foi eleita reitora da Uerj e assumiu a função em janeiro de 2024.