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Oficina debate Boas Práticas Científicas no Centro de Pesquisa


08/12/2022

David Barbosa e Withiner Marques (CCS)

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A implementação das Boas Práticas de Pesquisa Científica no Centro de Pesquisa, Inovação e Vigilância em Covid-19 e Emergências Sanitárias foi tema de uma oficina integrada promovida pela Fiocruz nesta terça-feira (6/12). Realizado no auditório do Centro Administrativo Vinícius Fonseca (Bio-Manguinhos), o evento reuniu pesquisadores das duas unidades que terão laboratórios no novo prédio — Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e Instituto Oswaldo Cruz (IOC) — para debater a adequação das atividades e da infraestrutura do Centro aos parâmetros estabelecidos pelas Boas Práticas. 

O conjunto de diretrizes busca manter a qualidade e a rastreabilidade da pesquisa científica, orientando o planejamento e a condução dos estudos a partir de eixos como infraestrutura, documentação e ética. Tema de capacitações anteriores promovidas pela gestão do projeto do Centro de Pesquisa, as Boas Práticas visam apoiar os pesquisadores a obter dados confiáveis e seguros por meio de processos apropriados de trabalho, bem como proteger os estudos de possíveis fraudes e erros humanos. 

“As Boas Práticas de Pesquisa Científica estabelecem um critério importantíssimo não só nas atividades dos pesquisadores, mas também na formação de quadros técnicos, para que as pesquisas possam ser feitas segundo os padrões necessários”, destacou o diretor-executivo da Fiocruz, Mario Moreira. “Elas também têm um fundamento político importante de requalificação da nossa ciência e se somam a vários outros esforços que têm sido feitos para requalificar a infraestrutura e discutir novos mecanismos de governança da nossa atividade de pesquisa, sobretudo neste empreendimento que, em breve, inauguraremos.” 

Centro adotará cadernos eletrônicos 

Entre as iniciativas de adaptação às Boas Práticas previstas para o novo prédio (cujos laboratórios começaram a ser ocupados nesta semana), está a substituição dos cadernos de pesquisa convencionais, em papel, por dispositivos eletrônicos. A mudança visa garantir o registro preciso de todas as etapas das atividades laboratoriais, facilitando a rastreabilidade e o acesso aos dados obtidos. Aprovado pelo Programa Inova Gestão, o projeto utilizará o software eLabFTW, escolhido pela Coordenação-Geral de Gestão de Tecnologia de Informaçãoo (Cogetic) após análise comparativa de diferentes programas.  

A avaliação considerou requisitos como capacidade de armazenamento, segurança dos dados e flexibilidade. Por ser um software de código aberto, o eLabFTW também permite a redução de custos e é de fácil manutenção. A operação assistida começa em janeiro e incluirá treinamentos para as equipes do Centro de Pesquisa. O suporte técnico e a gestão da mudança caberão à Cogetic. O objetivo da coordenação do projeto é que todos os laboratórios do novo prédio possam utilizar exclusivamente os cadernos eletrônicos no futuro. 

“A implementação do caderno eletrônico é um marco institucional”, ressaltou o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Corrêa. “O pesquisador será capaz de administrar o seu dado e de acompanhar todo o processo através de um gerenciamento de plano. Isso é uma maneira de garantir a qualidade dos dados produzidos. Esse novo modelo que estamos implementando na Fiocruz — novo prédio, nova gestão, nova estrutura — traz um valor inestimável para a ciência.” 

O uso dos cadernos eletrônicos também favorecerá a confiabilidade e a reprodutibilidade dos dados — isto é, a possibilidade de se reproduzir a pesquisa em outras ocasiões ou por outros pesquisadores e obter os mesmos resultados. A coordenadora da Qualidade da Fiocruz e do projeto do Centro de Pesquisa, Renata Souza, enfatizou que o cuidado com a  reprodutibilidade reduz o risco de resultados inconclusivos e gera dados satisfatórios para a publicação: 

“A prática da reprodutibilidade é importante pois reforça e protege os resultados. Quanto mais fidedigno for o relato registrado, melhor vai ser a reprodutibilidade daquela pesquisa.  A adoção das boas práticas e da reprodutibilidade está muito associada ao futuro da ciência e à forma como pensamos o futuro.” 

Infraestrutura favorece adequação a parâmetros de qualidade 

O evento também tratou da importância da infraestrutura do Centro de Pesquisa para a adoção das Boas Práticas. A setorização dos laboratórios de acordo com seu nível de biossegurança, por exemplo, inclui sistemas automatizados de controle de acesso e antecâmaras voltadas à higienização e paramentação dos profissionais de pesquisa, resguardando a bioproteção e a integridade dos estudos realizados. Além disso, o edifício terá proteção balística e monitoramento contínuo por câmeras de vigilância. 

A divisão do prédio em áreas técnicas, laboratoriais e de circulação reduzirá a interferência de atividades como manutenção e limpeza na rotina dos laboratórios. A preocupação com a sustentabilidade também está presente: o Centro conta com sistemas de filtragem de ar das áreas de maior risco ambiental, central própria de tratamento de esgoto e mecanismos de reaproveitamento de calor para geração de energia. 

“Construir um empreendimento desse porte no prazo de um ano é, do ponto de vista da engenharia, um feito incrível”, afirmou a diretora-executiva adjunta, Priscila Ferraz. “É algo de uma mobilização muito grande. Os protagonistas desse prédio são os pesquisadores, os laboratórios e as plataformas tecnológicas que estarão lá, porque são eles que darão resultado de pesquisas para o SUS. Com a infraestrutura mais adequada e um modelo de gestão e governança que facilite a vida das equipes, esperamos que elas possam produzir mais do que já produzem em prol da sociedade.” 

Ao todo, mais de 250 profissionais participaram dos cursos de Boas Práticas de Pesquisa promovidos pela gestão do projeto do Centro. Nos últimos meses, também foram produzidas avaliações sobre o cumprimento das diretrizes pelos laboratórios, culminando numa série de ações promovidas pela Ensp e o IOC para a melhoria de aspectos como a gestão de dados, documentos e arquivos. Ao longo do próximo ano, estão previstas a realização de auditorias internas e mais treinamentos. 

“A iniciativa desse novo Centro de Pesquisa vem, em parte, para saldar um passivo antigo com a Ensp e o IOC. Laboratórios que antes funcionavam em condições inadequadas hoje passarão a ser um referencial em relação a padrão de qualidade”, disse a diretora do IOC, Tania de Araújo-Jorge. “Essa atualização das Boas Práticas de Pesquisa será constante. Há sempre mudanças e melhorias.”  

“Este é um processo que vem de uma longa construção dentro da própria Fiocruz em relação às Boas Práticas”, concluiu a vice-diretora de Ambulatórios e Laboratórios da Ensp, Fátima Rocha. “O Centro vai colocar para a gente uma aposta: pensar o nosso modo de fazer, as necessidades e as prioridades. Esse projeto finca um compromisso de pensar o diálogo entre a pesquisa e a sociedade. É um processo transformador, porque é um trabalho coletivo.” 

 

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