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Covid-19: Fiocruz faz inquérito com pacientes com tuberculose


14/08/2020

Tatiane Vargas (Informe Ensp)

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Referência nacional no atendimento de pacientes com tuberculose (TB) e tuberculose multirresistente, o Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) dará início, no mês de agosto, à realização de um inquérito sorológico e do diagnóstico molecular da Covid-19 nos pacientes atendidos pelo ambulatório. O inquérito sorológico permitirá avaliar quantos de seus pacientes já tiveram contato com o novo coronavírus, enquanto a realização da testagem RT-PCR possibilitará o acesso mais rápido ao diagnóstico de casos suspeitos.

Inquérito sorológico permitirá avaliar quantos de seus pacientes já tiveram contato com o novo coronavírus (foto: Informe Ensp)

Segundo a coordenadora do estudo, a pesquisadora Karen Gomes, a pesquisa trará um retrato do impacto da Covid-19 dentro de uma população fortemente vulnerável. “Com a realização do inquérito, temos o objetivo de verificar a porcentagem de pacientes com tuberculose resistente já infectados pelo novo coronavírus e correlacionar com a gravidade e desfecho desses casos.”

De acordo com a pesquisadora, também será possível identificar a força de transmissão do vírus nesse grupo. “Com os resultados, teremos um retrato inédito do real impacto da Covid-19 e de seu comportamento entre os adoecidos por tuberculose resistente, o que poderá subsidiar decisões de políticas públicas direcionadas aos gestores dos programas de controle da tuberculose”, explicou ela.

O estudo conta com a parceria do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), no âmbito do fornecimento de testes rápidos para Covid-19, e também do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), para as análises de testagem RT-PCR dos pacientes atendidos no Centro de Referência Professor Hélio Fraga.

Pesquisa 

O estudo Vigilância Epidemiológica e Laboratorial da Covid-19 em pacientes com tuberculose e tuberculose resistente visa ao monitoramento de casos de infecção por Sars-CoV-2 e será realizado nos pacientes durante suas visitas de acompanhamento médico. Durante a visita, o paciente, primeiramente, será convidado a participar da pesquisa e a ele apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após a assinatura do TCLE, o paciente será submetido a um questionário, que, em seu primeiro bloco, será composto de informações pessoais e, no segundo bloco, de informações sobre a Covid-19. O terceiro bloco do questionário contará com informações a respeito do quadro de tuberculose e será coletado do prontuário. Após o questionário, o paciente será encaminhado para a coleta de sangue, que será utilizada para realizar o teste rápido para Covid-19.

Segundo o chefe do Setor de Pesquisa do Centro de Referência Hélio Fraga, Paulo Victor Viana, o resultado será utilizado para a realização de um inquérito sorológico que verificará a prevalência de pacientes atendidos no ambulatório que já entraram em contato com o novo coronavírus.

“Desses mesmos pacientes, também serão coletados material de naso e orofaringe, que serão utilizados para a realização do teste de RT-PCR, uma vez que seu intuito é verificar o diagnóstico da Covid-19 por meio da detecção do material genético viral. Além disso, iremos realizar um relacionamento das bases de dados dos principais sistemas de informação mediante o acompanhamento dos quadros clínicos e desfechos dos casos que vierem a precisar de internação ou até mesmo aqueles que evoluíram para óbito. Esse relacionamento será realizado por buscas nos seguintes sistemas de informação: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informação de Tratamentos Especiais de Tuberculose (SITETB) e Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM)”, detalhou Paulo Victor.

Relação entre Covid-19 e a tuberculose 

A Covid-19 e a tuberculose (TB) são doenças extremamente importantes no cenário atual do Brasil, apresentando o Rio de Janeiro uma das maiores taxas de adoecimento para ambas. Para Paulo Victor, devido à potencial vulnerabilidade à Covid-19 dos pacientes com TB, o monitoramento desses pacientes é de extrema importância, pois permite um diagnóstico precoce e o cuidado dessa população que é mais suscetível a resultados desfavoráveis.

Segundo ele, até julho de 2020, o Brasil apresentou 2.118.646 casos confirmados de Covid-19 e 80.120 mortes. Contrastando com a nova doença, temos a tuberculose, doença milenar causada pelo Mycobacterium tuberculosis. “A TB afeta, principalmente, os pulmões e é a principal causa de morte no mundo por um único agente infeccioso, contando, em 2018, com aproximadamente 10 milhões de casos e 1,5 milhão de mortes. À medida que a pandemia avança, mais pessoas - incluindo pacientes com TB - são expostas ao Sars-CoV-2. Alguns estudos mostram que a associação de infecção pulmonar viral e bacteriana, incluindo a TB, pode resultar em quadros mais graves e maiores índices de mortalidade”.

Para o pesquisador, a vigilância epidemiológica e laboratorial da Covid-19 nos pacientes com tuberculose resistente pode ser uma importante ferramenta para compreender melhor a realidade dos pacientes no contexto da pandemia.

Situação no Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro é a capital de estado do Brasil que apresentou o maior número de casos novos de tuberculose em 2019 (6.293 casos novos; 93,7 casos por 100 mil habitantes). Somado a isso, temos elevada carga de tuberculose resistente no município, correspondendo a 15,5% de todos os casos de TB resistente do Brasil em 2019 (n= 1356). A tuberculose resistente se torna mais preocupante pelo fato de que a bactéria causadora da TB pode evoluir para formas resistentes aos medicamentos para o tratamento da TB, que variam desde uma monorresistência (apenas um medicamento), a uma multirresistência (TB-MDR) e até mesmo uma resistência extensiva (TB-XDR), tornando-se uma doença com cada vez menos possibilidade de tratamento e elevadas chances de transmissão de bactérias resistentes.

Atualmente, o Rio de Janeiro também é uma das cidades do Brasil com os maiores números de casos de Covid-19, com 68.334 casos até o dia 22 de julho de 2020, segundo o boletim diário do Estado do Rio de Janeiro. O fato de a Covid-19 atuar principalmente nos pulmões parece tornar os pacientes com TB um grupo de risco, apresentando mais chances de progredirem para casos severos e críticos.

“Vale ressaltar que a maioria dos resultados publicados aborda casos de pacientes internados, público que está sendo priorizado para a realização de testes devido à sua escassez durante a pandemia. Entretanto, a limitação dos testes a grupos com quadros mais graves prejudica a real visualização do panorama da doença e implicações nesse grupo de risco”, advertiu o pesquisador.

Acesso ao exame diagnóstico e seus benefícios

Por fim, a coordenadora do projeto destacou que o principal benefício da pesquisa é o acesso ao exame diagnóstico para Covid-19 dos pacientes com TB. “O diagnóstico precoce permite o acompanhamento desde as primeiras etapas da infecção e possibilita que intervenções sejam realizadas antes de seu agravamento, contribuindo para um desfecho mais favorável”, ressaltou Karen Gomes.

O estudo vai auxiliar, também, na geração de conhecimento e na compreensão de como os pacientes com tuberculose reagem a quadros de Covid-19 e têm reagido às situações geradas pela pandemia, como o isolamento social e seus impactos financeiro e psicológico.

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