20/02/2020
Por: João Boueri
No dia 11 de fevereiro de 2020, Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, a Tenda da Ciência Virgínia Schall, localizada no Campus Manguinhos, recebeu um talk-show, oriundo do projeto ‘‘Mais Meninas na Ciência – 2020’’, promovido pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, dentro das comemorações de seus 120 anos, em parceria com o Grupo de Trabalho Mulheres e Meninas na Ciência, os laboratórios de pesquisa das unidades técnico-científicas da instituição (COC, ENSP, ICICT, ICTB, IFF, INCQS, INI, IOC e Farmanguinhos), o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde e a Fiocruz Mata Atlântica, visando celebrar o momento de empoderamento feminino, incentivando jovens estudantes a ingressarem em carreiras científicas.
O evento contou com a presença de estudantes da rede pública do Estado do Rio de Janeiro que no dia anterior visitaram laboratórios da instituição sob a responsabilidade de 63 pesquisadoras mulheres da Fiocruz, com o objetivo de vivenciarem uma imersão monitorada para aproximá-las de atividades científicas. Mais de 150 alunas se inscreveram para o projeto, sendo 51 selecionadas de 7 instituições públicas de ensino médio para participarem das atividades.
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Na abertura do evento, a Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Dra. Nísia Trindade Lima, ressaltou a importância da realização do evento em comemoração ao Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. ‘‘O mote dessa atividade é pensar que a mulher pode ser o que ela quiser, mas tem que ter oportunidades para ver a atividade científica como uma atividade importante para as mulheres, para a sociedade e para o fortalecimento da presença das mulheres na sociedade e em um trabalho tão importante quanto o trabalho da ciência.’’, afirmou a Presidente.
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
A primeira roda de conversa contou com a presença da Drª Cristiani Machado, Vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Mychelle Alves, doutora em Química, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, Chefe do Laboratório de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes (INCQS/Fiocruz) e Vice-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (ASFOC), Hilda Gomes, da coordenação colegiada do Comitê Fiocruz Pró-Equidade de Gênero e Raça, mestra, bióloga e educadora do Serviço de Educação do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e Astrid Bant, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil.
A Drª Cristiani Machado ressaltou a importância do projeto de Mulheres e Meninas na Ciência dentro do calendário da comemoração dos 120 anos da Fundação Oswaldo Cruz. '' A Fiocruz está completando 120 anos, sendo uma das instituições mais antigas da América Latina que trabalha pelos direitos sociais, direito à saúde, geração de conhecimento e em defesa da vida. A instituição possui uma variedade grande em atividades de pesquisa, ensino, comunicação, produção de medicamentos e vacinas e divulgação científica. Nesses 120 anos da instituição, uma das estratégias prioritárias é o programa Mulheres e Meninas na Ciência, lançado em 2019, com o objetivo de valorizar a trajetória das mulheres cientistas, promover estudo sobre essa temática importante de gênero, ciência e saúde e as suas várias interfaces e incentivar meninas para que olhem a ciência como uma possibilidade'', afirmou a Vice-presidente.
Drª Cristiani Machado, Vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Hilda Gomes, membro do Grupo de Trabalho Mulheres e Meninas na Ciência, destacou o orgulho de fazer parte da Fundação Oswaldo Cruz e de vivenciar essa oportunidade para refletir sobre a situação da mulher negra na carreira científica. ‘‘Segundo a ONU, apesar dos importantes avanços nas políticas de ações afirmativas, as mulheres negras ainda estão em menor proporção no ensino superior do que a população branca. Apenas 12,8% das mulheres negras tem acesso ao ensino superior contra cerca de 24% da população branca. Esses dados reforçam a importância de reconhecer este público como um grupo socialmente vulnerabilizado.’’ afirmou a represente do Comitê de Gênero e Raça da Fiocruz.
Mestra Hilda Gomes - Comitê Fiocruz Pró-Equidade de Gênero e Raça
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Sobre escolhas, a Drª Mychelle Alves comentou sobre a necessidade de aproveitar as oportunidades da vida. ''Eu pensava em cursar Direito, mas tive uma oportunidade em minha vida que mudou a minha escolha. Ontem recebi uma dessas oportunidades: Das três meninas que estiveram comigo na atividade de imersão, duas são alunas do Instituto Federal do Rio de Janeiro, onde cursam o Ensino Técnico em Química, no qual tive a grande oportunidade da minha vida quando cursei o mesmo Ensino Técnico. Então, através dessa oportunidade, entrei na ciência e me tornei pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz'', relatou a Vice-presidente da ASFOC.
Drª Mychelle Alves - Vice-presidente da ASFOC
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
“O primeiro passo também é importante. Agarrem oportunidades. Arrisquem-se. Peçam bolsas e estágios. Sejam ativas. Procurem contatos que possam ajudá-las. Em minha trajetória, muitas mulheres generosas me ajudaram. Essas mentoras podem dar oportunidades, dicas e conselhos” comentou a representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant.
Astrid Bant - UNFPA Brasil
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Na sequência, Márcia Corrêa e Castro, superintendente do Canal Saúde/Fiocruz, conduziu o talk show, onde as jovens estudantes da rede pública e pesquisadoras participantes do projeto realizado no dia anterior puderam debater as experiências vividas na Fiocruz. A primeira parte do bate-papo contou com a participação das pesquisadoras Drª Simone Kropf, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e a Drª Corina Mendes, do Instituto Nacional de Saúde da Criança, da Mulher e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e as alunas que visitaram os laboratórios de pesquisa das referidas pesquisadoras, Ana Carolina Grijó, estudante do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Luana Linda da Silva, estudante do CEFET/RJ, campus Nova Iguaçu, respectivamente.
Drª Simone Kropf ao centro - COC/Fiocruz
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
''Todo mundo carrega um pouco da Fiocruz dentro de si. Gostaria que vocês carregassem um pouco da Fiocruz dentro de si também por essa experiência que estão tendo aqui que vai se tornar passado no dia seguinte, mas carregamos esse passado dentro de nós. Esse passado vai ser o que vai configurar esse horizonte de expectativas de vocês'', explicou a Drª Simone Kropf para as alunas presentes, em uma de suas falas.
Na segunda parte da dinâmica, as alunas Ananda Santana, do Colégio Estadual Círculo Operário e Mariana Rocha, do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e as pesquisadoras Drª Roberta Olmo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e a Drª Simone Valverde, pesquisadora do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) participaram do bate-papo. A estudante Ananda confidenciou um acontecimento de machismo quando era atleta de Kung Fu. ''A sociedade não imagina uma menina lutando Kung Fu. Você escuta que não pode fazer alguma atividade por ser menina. Entretanto, na prática, diversas meninas lutavam Kung Fu e conquistei medalha de ouro à época'' contou a jovem. ''Em um curso que faço, mulheres e homens dividem o mesmo espaço, mas muitas vezes o que falamos é negado e somos tratadas de forma infantilizada'', acrescentou.
Drª Cristina Araripe - Grupo de Trabalho Mulheres e Meninas na Ciência
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Na parte final do evento, a coordenadora do Grupo de Trabalho Mulheres e Meninas na Ciência e pesquisadora em Saúde Pública, Drª Cristina Araripe, comentou sobre a importância da memória da pesquisadora Drª Virgínia Schall*, do Instituto René Rachou / Fiocruz Minas. ''A presença aqui nesse espaço é simbólico: A Tenda da Ciência recebe o nome da Virgínia Schall, com quem tive a oportunidade de participar de projetos e que me ensinou que a Fundação Oswaldo Cruz tem um espaço para trabalharmos atentas para a questão da diversidade em todos os sentidos'', afirmou a pesquisadora. ''Para construir esse evento nós nos baseamos no trabalho que a ONU realizou em 2018 com os 10 princípios de comunicação para falar sobre gênero e quase todos esses princípios estiveram aqui presentes'', concluiu ao falar sobre a realização do evento.
*Virgínia Schall concebeu o primeiro projeto do Museu da Vida, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e participou da equipe de implantação, sendo responsável pela criação do Ciência em Cena, teatro que apresenta peças sobre temas científicos
Foto: Peter Illiciev – CCS/Fiocruz
Ao término da atividade, as estudantes que participaram do projeto ''Mais Meninas na Ciência - 2020'' receberam seus certificados referente às atividades dos dois dias e posaram para a foto oficial do evento.
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