15/08/2014
A importância do Conselho Editorial para o funcionamento de uma editora acadêmica é analisada pela professora Ligia Maria Vieira da Silva, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. O papel do conselheiro na definição das políticas editoriais, os mecanismos de avaliação e o processo de tomada de decisões estão entre os temas discutidos por Ligia nesta entrevista, feita por Letícia Taets, aluna do Colégio Pedro II (Duque de Caxias) e participante do Programa de Vocação Científica (Provoc/Fiocruz). Ligia é editora associada dos Cadernos de Saúde Pública, faz parte do Conselho Editorial da revista Ciência & Saúde Coletiva e integra o Conselho Consultivo do periódico Salud Colectiva (Argentina). No dia 28 de agosto, ela estará na 39ª Reunião do Conselho Editorial da Editora Fiocruz, do qual também participa.
Qual o papel do conselheiro editorial?
Ligia Maria Vieira da Silva: Os conselheiros são pesquisadores oriundos de diferentes áreas do conhecimento. A partir de suas especialidades, constituem um grupo diversificado que permite à Editora realizar uma revisão dos originais baseada no mérito acadêmico e científico. Também orientam a política editorial por meio de discussões sobre aspectos estratégicos para a Editora, bem como aprovam normas específicas para certos tipos de publicações, como as coletâneas e coleções. Cabe ainda aos conselheiros sugerir livros a serem induzidos e recomendar novas edições de livros já publicados.
Originais: refere-se ao texto produzido pelo autor e entregue à Editora para avaliação, antes de ser publicado no formato de livro.
Na sua opinião, que livros deveriam ser induzidos?
LMVS: Em relação à área de políticas, por exemplo, há necessidade de um livro atual com uma análise comparada dos principais sistemas de saúde e/ou modelos assistenciais do mundo; e outro que sistematize experiências exitosas de descentralização da saúde ou de implantação de programas de saúde.
Como são tomadas as decisões sobre indução e outros pontos de pauta?
LMVS: O Conselho se reúne regularmente para discutir a política editorial nas suas grandes linhas, a exemplo das traduções, coletâneas, temas a serem priorizados etc. No cotidiano, os conselheiros são consultados sobre originais relativos à sua área de especialidade, ora indicando pareceristas apropriados, ora eles próprios fazendo uma avaliação técnica e emitindo pareceres preliminares, que norteiam autores e editores na reformulação dos textos.
Pareceristas: como especialistas no tema abordado nos originais, analisam o conteúdo do texto, assinalam seus pontos fortes e fracos, e recomendam ou não sua publicação em formato de livro.
Esse processo de avaliação é um importante diferencial das editoras acadêmicas...
LMVS: Os processos de avaliação acadêmica são sempre imperfeitos, porém necessários e fundamentais. Acho que aprimorar a revisão por pares é ainda o principal mecanismo para aperfeiçoar a avaliação e fortalecer os livros como indicadores da qualidade da produção acadêmica. Os livros são o principal veículo de publicação de pesquisas em áreas como as ciências sociais aplicadas à saúde. Um livro de qualidade serve de referencial para os futuros pesquisadores e auxilia no aperfeiçoamento das produções. Uma sugestão seria introduzir em cada livro um resumo estendido, onde o autor tivesse a obrigação de indicar qual a contribuição original que o seu trabalho traz para aquela área do conhecimento.
Revisão por pares: é o processo por meio do qual os originais são analisados por pareceristas, sendo que estes não são informados sobre a identidade dos autores (e vice-versa), de modo a assegurar a imparcialidade da avaliação.
Em divulgação e ensino, quais as principais conquistas e o que permanece como desafio para a Editora Fiocruz?
LMVS: A coleção Temas em Saúde é uma importante iniciativa voltada para a divulgação em saúde e deve ser ampliada, incorporando novos temas: vacinas, financiamento da saúde, genética etc. No que diz respeito ao ensino, a atualização periódica das publicações é uma necessidade. Pode-se pensar em estratégias não convencionais, como sites com as atualizações conjunturais. Além disso, a Editora deve sempre investir em livros que, embora sem grande apelo comercial, tenham o potencial de servir como referência metodológica para determinadas áreas.
Temas em Saúde: dirigida a estudantes, profissionais e público geral, esta coleção da Editora Fiocruz oferece uma introdução ou um panorama sobre conceitos e conteúdos fundamentais das áreas da saúde.
Qual a parte mais gratificante das atividades de conselheira editorial?
LMVS: A Editora Fiocruz valoriza a divulgação de uma produção acadêmica que, por suas características, requer o formato de livro, mais extenso do que aquele propiciado por artigos em periódicos científicos. Dessa forma, torna disponíveis recursos importantes para a pesquisa, o ensino, a gestão e as práticas de saúde. Atuar no Conselho de uma Editora com esse perfil permite aos seus membros contribuírem para a qualidade desses conhecimentos e serviços – uma atividade extremamente relevante e gratificante pelos seus resultados. Também o convívio com pesquisadores de diferentes formações acadêmicas e expertises resulta em um valioso estímulo intelectual.