07/07/2014
Fonte: Radis/Fiocruz
A discriminação ainda é uma realidade no Brasil, e afeta a saúde e o cotidiano da população negra. É o que aponta a nova edição da revista Radis (n. 142, julho), que conclui: a relação desigual no acolhimento e tratamento, os índices de mortalidade mais elevados e o estresse psicossocial gerado pelo preconceito continuam reduzindo o potencial e a qualidade de vida desta parcela de indivíduos. A reportagem principal mostra que, apesar de representar a maioria da população brasileira – 54% que se declaram pretos e pardos – a saúde da população negra permanece muito prejudicada pelo racismo, especialmente aquele oriundo das instituições.
Em entrevista com a coordenadora da ONG Criola, Jurema Werneck, três pontos são apontados como os principais diferenciais do perfil de agravos à saúde da população negra: a incidência precoce, o agravamento precoce e a desassistência. “Temos taxas de morte precoces de doenças cardiovasculares, que poderiam ter sido tratadas, poderiam ser resolvidas com o que o sistema já tem. E não são”, declara à Radis. Médica e doutora em Comunicação, Jurema representou o movimento negro no Conselho Nacional de Saúde, onde teve assento de 2007 a 2012.
Outra reportagem, sobre a inserção da população negra no mercado de trabalho, também aponta os efeitos da discriminação por raça e cor. Um estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), comparando as condições e as oportunidades de homens e mulheres e da população negra e não negra no Brasil, concluiu que somente a redução da discriminação pode reduzir a desigualdade social. “As mulheres e os negros correspondem a aproximadamente dois terços da população economicamente ativa no Brasil, por isso o combate à desigualdade nesses eixos é primordial e diz respeito à maioria da sociedade”, explicou Camila Almeida, responsável pela área de Projetos de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça da representante do Escritório da OIT no Brasil.
Outras matérias
A edição traz ainda uma reportagem sobre o relatório produzido pela Comissão sobre Governança Global, que qualificou as escolhas políticas como oportunidades de redução das iniquidades em saúde. O relatório final — As origens políticas das iniquidades em saúde: perspectivas de mudança — teve sua versão em português lançada em 30 de maio na Fundação Oswaldo Cruz. O texto havia sido publicado em inglês na edição de fevereiro da revista inglesa The Lancet.
O site PenseSUS, o mestrado profissional em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), e um artigo sobre as estratégias de poder das grandes potências econômicas mundiais são outros assuntos presente nesta edição, que pode ser acessada na íntegra no site da Radis.