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Em reunião da Câmara Técnica de Saúde e Ambiente, cientistas alertam sobre os riscos das mudanças climáticas e do ecocídio do planeta


04/10/2024

Suzane Durães (Coordenação de Ambiente - VPAAPS/Fiocruz)

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A Câmara Técnica de Saúde e Ambiente (CTSA) da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) realizou reunião para debater os principais desafios em saúde, ambiente e sustentabilidade a serem enfrentados pela Fiocruz no próximo quadriênio, em 1º de outubro, no auditório do Pavilhão Arthur Neiva, com as presenças do cientista climático Carlos Nobre; o presidente do IBGE, Marcio Pochmann; o presidente da Fiocruz, Mario Moreira; pesquisadores e especialistas de diversas unidades da Fiocruz e convidados.


Carlos Nobre destacou que nos últimos 15 meses atingimos o recorde de temperatura do planeta, 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais, e que se continuarmos com fortes emissões de gases para a atmosfera, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, chegaremos a 2,5°C em 2050. “Se continuarmos nessa direção, será o ecocídio do planeta. Não podemos esperar até 2050 para reduzir as emissões”, alertou. 

O climatologista elencou alguns pontos de não retorno caso o planeta continue a aquecer. Um deles é o da biodiversidade que acarreta a extinção de espécies. Com o aquecimento dos oceanos, temos visto o branqueamento dos recifes de corais na Austrália e em Abrolhos, que abrigam de 18% a 25% da biodiversidade oceânica. Várias espécies passam parte da vida nos recifes de coral, como peixes, moluscos, algas e crustáceos.

Segundo Nobre, a Amazônia está à beira do ponto de não retorno. “Se a temperatura atingir 2,5°C  , vamos perder de 50% a 70% da floresta e com isso, serão jogadas toneladas de gás carbônico na atmosfera”. Nobre também associou às mudanças do clima ao surgimento de doenças que desencadeiam epidemias relevantes na Amazônia   e fora dela. Entre elas citou a oropouche - transmitida por mosquito e com sintomas parecidos com a dengue.

O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, falou sobre a mudança demográfica do Brasil e a importância de produzir dados para entender as transformações sociais do país. Pontuou também o esgotamento de um projeto de modernidade estabelecido há 500 anos e que, segundo ele, visa apenas o acúmulo financeiro e entende a natureza como um recurso para suprir as necessidades humanas.

“Já está dada a mudança do clima, o degelo nas calotas polares, a elevação do mar, a seca etc. Essa transição da sociedade vem acompanhada não só da  mudança climática, mas também de uma mudança do regime demográfico”, afirma Pochmann.


Ao analisar o primeiro quarto do século XXI, Pochmann aponta para um processo de desmetropolização no Brasil que tem mudado o perfil demográfico brasileiro. Segundo ele, a população tem deixado as metrópoles e se concentrado nas regiões litorâneas, e inchado cidades médias.

De acordo com Pochmann, essas regiões  concentram uma parte significativa dos desempregados, moradores em situação de rua, e parcela da população envelhecida. “Dentro do contexto mais amplo dos desafios das mudanças climáticas, os impactos territoriais serão mais significativos nas regiões litorâneas, onde concentra grande parte da população cujo dinamismo econômico é decrescente ou estagnado”, destacou. 

Pochmann também abordou o contexto brasileiro atual, segundo ele, vivemos um “sistema jagunço”, dominado pelo “fanatismo religioso” e pelo “banditismo social”, que revela como a realidade política e de governança está sendo moldada por fatores além da ciência e das políticas públicas.

Ainda pela manhã, participaram da reunião o ex-presidente da Fiocruz e coordenador da Estratégia Fiocruz para Agenda 2030, Paulo Gadelha; a vice-diretora de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Elizabeth Rangel; o coordenador de Saúde e Ambiente da VPAAPS, Guilherme Franco Netto, e o vice-presidente da VPAAPS, Hermano de Castro. 


Na opinião de Castro, ainda há esperança para o planeta. “Por isso estamos aqui reunidos para pensar o futuro. O que está em jogo não é a ciência, mas a vida das pessoas”, defendeu.

Um dos aspectos trazidos por Gadelha é de que o setor saúde também precisa reduzir as emissões de carbono. “Os sistemas de saúde, as cadeias de produtivas de saúde, representam cerca de 5% das emissões de carbono no mundo e no Brasil. A própria Fiocruz também tem responsabilidade e precisa começar a pensar na redução da pegada de carbono”, defendeu.

Guilherme Franco Netto relatou sobre a criação da CTSA e a importância do colegiado para a construção de políticas públicas no campo da saúde, ambiente e sustentabilidade. 

Quanto às mudanças climáticas, Netto ressaltou que os acontecimentos vividos no Brasil em 2024, como as enchentes no Sul do país, as queimadas florestais, trazem uma grande preocupação para a sociedade brasileira e para os entes envolvidos na construção de políticas públicas voltadas para a proteção ambiental do nosso país. 

“É cada vez mais evidente para o campo da saúde pública e para o campo da saúde coletiva, que não é possível articular o pensamento adequado do campo sanitário sem considerar toda a questão climática e a situação ambiental, tanto ao nível global quanto ao nível do nosso país”, destacou Netto.

No período da tarde, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, ao lado do pesquisador da Fiocruz Minas e presidente da Abrasco, Rômulo Paes, discutiu com os membros da CTSA as contribuições do colegiado para o novo ciclo de gestão da Fiocruz no âmbito da saúde, ambiente e sustentabilidade.

Mario Moreira afirmou que a Fiocruz está imersa na questão climática. ”É preciso integrar as nossas atividades. O tema das mudanças climáticas tem que ser trabalhado de forma transversal (...). O nosso grande desafio é a nossa capacidade de dar resposta a crise climática”, pontuou.

Rômulo Paes fez uma análise de conjuntura do país e a capacidade de resposta quanto às mudanças do clima. “Diante do quadro apresentado por Pochmann e Nobre, é preciso reagir (...). Tivemos um papel decisivo durante a pandemia da Covid. Somos produtores de conhecimentos e precisamos, enquanto instituição, ter um papel mais influente no que diz respeito aos temas que estamos tratando”, avaliou.

Após o debate com os membros da CTSA, foram feitas as seguintes recomendações: criação do Centro de Síntese em Saúde sobre Mudança do Clima, Biodiversidade e Poluição; realização do V Seminário de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, em contribuição à COP30; fortalecimento da Estratégia Clima da Fiocruz; colaboração ativa ao Plano Nacional e ao Plano Setorial de Saúde de Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e do Ministério da Saúde (MS); e contribuições ao X Congresso Interno da Fiocruz, a ser realizado em 2025. 


 

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