05/11/2021
Fonte: IRR/Fiocruz Minas
Implementar um programa de organização de serviços de saúde em atendimento, diagnóstico e tratamento de doenças infecto-parasitárias no Vale do Mucuri, região com elevada pobreza e vulnerabilidade social do Nordeste de Minas Gerais. Esse foi o objetivo de uma iniciativa da Fiocruz Minas, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e secretarias de saúde de municípios sede de microrregiões sanitárias do Vale, que começou em 2019. Primeiramente, o trabalho foi direcionado para a leishmaniose tegumentar (LT), doença infecciosa que acomete os seres humanos e provoca úlceras na pele e nas mucosas das vias aéreas superiores. Dos esforços iniciais, resultou o estabelecimento de um fluxo de atendimento que já possibilitou diagnóstico e tratamento de mais de uma centena de casos.
De acordo com a pesquisadora Vanessa Peruhype, uma das coordenadoras do projeto, o programa iniciou-se pelo município de Teófilo Otoni, cidade polo da macrorregião Nordeste e referência para o Vale do Mucuri. O primeiro passo da equipe foi fazer uma avaliação diagnóstica da situação dos serviços prestados, considerando-se os dados epidemiológicos da microrregião, para implementar um serviço especializado e voltado exclusivamente à leishmaniose tegumentar. A partir daí e após várias reuniões com gestores do município, foi possível a estruturação do ambulatório de referência e o estabelecimento do fluxo interno de encaminhamentos referentes ao atendimento, diagnóstico e tratamento da LT.
“Nesse sentido, os casos suspeitos e atendidos nos postos de saúde passaram a ser encaminhados ao ambulatório de referência, onde vêm sendo realizados atendimentos semanais por uma médica dermatologista, com apoio de uma enfermeira e uma técnica de laboratório. O diagnóstico parasitológico passou a ser realizado no município sob responsabilidade dos bioquímicos do laboratório macrorregional da SES, com sede localizada em Teófilo Otoni. Já o diagnóstico complementar por exame PCR e o diagnóstico diferencial histopatológico vêm sendo realizados pela Fiocruz Minas. Importante ressaltar também que todos os profissionais envolvidos foram devidamente capacitados pelo Centro de Referência em Leishmanioses (CRL) da Fiocruz Minas”, explica a pesquisadora.
Atualmente, discussões referentes à mudança no fluxo de diagnóstico da doença vêm sendo feitas junto à Fundação Ezequiel Dias (Funed), laboratório central do estado de Minas Gerais. A perspectiva é inserir no fluxo a PCR de swab, técnica não invasiva, em substituição à PCR de fragmento de biópsia. “A PCR de swab já foi validada pelo CRL/Fiocruz Minas e realizamos o procedimento em Teófilo Otoni, com excelentes resultados. Outro ponto em discussão é a inclusão do serviço de Histopatologia e Imuno-histoquímica, da Fiocruz/Minas, como um dos serviços de referência para auxiliar no diagnóstico da leishmaniose mucosa (LM) e realizar diagnóstico diferencial de outras doenças, de forma a atender às demandas do estado”, afirma a pesquisadora.
Além da estruturação do ambulatório e fluxos de atendimento e diagnóstico, foi estabelecido o tratamento intralesional, realizado a nível ambulatorial, pela médica dermatologista. A terapia intralesional tem apresentado excelentes resultados, reduzindo o tempo de tratamento e diminuindo consideravelmente a toxicidade cardíaca, renal e hepática, relacionada ao tratamento sistêmico com o medicamento mais amplamente utilizado para LT.
Ações relacionadas a outros dois agravos, hanseníase e infecção pelo HPV, foram iniciadas em Teófilo Otoni, sob a supervisão do pesquisador Marcelo Pascoal. Adicionalmente, outros dois municípios sedes de micro do Vale do Mucuri já começaram a ter os serviços voltados para doenças infecto-parasitárias organizados. Segundo a pesquisadora, os resultados obtidos com todas essas ações poderão servir de modelo para a reestruturação da assistência em doenças infecto-parasitárias e saúde da mulher em outras regiões de Minas Gerais.
No âmbito da pesquisa aplicada, o projeto fortalecerá a colaboração interinstitucional vigente entre pesquisadores da Fiocruz Minas e Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri. “Essa parceria viabilizará avanços das pesquisas em inovação tecnológica para busca de novos alvos de diagnóstico e prognóstico, bem como alternativas para tratamento dessas doenças, que sejam factíveis e que possam ser recomendadas pelo Ministério da Saúde”, ressalta a pesquisadora.
Intitulado Programa de Organização de Serviços de Saúde no Vale do Mucuri (Microrregião de Teófilo Otoni): ênfase em doenças infecto-parasitárias e saúde da mulher, o projeto foi viabilizado com recursos de emendas impositivas destinadas pelo mandato da deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG), por meio de chamada pública.
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